Cientistas da Universidade de Durham e da Universidade de Princeton afirmam que reforçar as proteções das áreas de conservação atuais é tão importante para a biodiversidade do planeta quanto estabelecer novas áreas protegidas. A afirmação tem como base um estudo no com aproximadamente 5 mil espécies.
Destas, cerca de 70% estão em áreas que não são protegidas atualmente, em áreas protegidas que foram reduzidas ou perderam seu status oficial ou ainda estariam em risco de extinção se o uso da terra onde vivem mudasse no futuro. Apesar do grande número de espécies localizadas em áreas sem proteção, a equipe descobriu que, ao fortalecer à proteção das áreas de conservação já existentes e ampliar as atuais redes de parques do planeta em apenas 1%, 1.191 espécies de animais selvagens que correm um risco elevado de extinção podem ser protegidos, com seus habitats preservados.
“Observamos cerca de 5 mil espécies de vertebrados terrestres e mapeamos onde seus habitats adequados ocorrem em todo o mundo. Descobrimos que 1.463 espécies têm menos de 10% de seus habitats atualmente em áreas protegidas (o que consideramos uma representação insuficiente em áreas protegidas), 2.308 espécies têm pelo menos 100 hectares de seus habitats dentro de parques protegidos, e 407 espécies dependem de parques que podem experimentar um aumento no uso da terra no futuro”, disse o principal autor do estudo, Dr. Yiwen Zeng, da NUS.
O estudo, “Lacunas e fraquezas na rede global de áreas protegidas para salvaguardar espécies em risco”, foi publicado na revista Science Advances.
Áreas protegidas
Quando um governo decide retirar algumas das proteções legais de um parque e ele é rebaixado, reduzido ou “desclassificado”, ele pode se tornar mais vulnerável a atividades humanas potencialmente prejudiciais. Isso pode incluir mineração , desmatamento para expansão de infraestrutura e outras ações destrutivas. “Nos casos em que uma área protegida é rebaixada em status ou desclassificada para dar lugar à extração de madeira, mineração e outras atividades extrativas nocivas, a biodiversidade será prejudicada”, disse Zeng.
O estudo descobriu que ações que retiram a proteção legal de parques e unidades de conservação afetaram mais de 687 milhões de acres de parques, desde 2021.
Um exemplo é o habitat do sapo criticamente ameaçado do Camboja, Megophrys damrei. O habitat protegido fica dentro de um parque nacional, mas está sofrendo perda e degradação contínuas. “Infelizmente, em todo o mundo, as nações não estão fazendo um trabalho adequado de proteção de seus parques, o que deixa esses lugares especiais abertos à destruição do habitat. E, em muitos casos, os países estão rebaixando o status de proteção que atribuíram aos parques. Então, como resultado, muitas espécies sensíveis sofrem”, alerta Zeng.
No Camboja, especificamente, se outros 127 quilômetros quadrados de espaços selvagens na Indonésia fossem protegidos, habitats adequados para 53 espécies adicionais que atualmente têm habitat limitado e desprotegido poderiam ser preservados.
Outro exemplo emblemático do impacto dos parques de preservação é o Sangihe golden bulbul, um pássaro criticamente ameaçado que é encontrado em apenas um lugar na Terra: a Ilha Sangihe, na Indonésia. A população total é estimada em 50 a 230 indivíduos vivendo em uma área desprotegida. Nenhuma das aves foi documentada em plantações, o que sugere que ela só prospera em florestas intactas, o que significa que uma maior conservação beneficiaria a espécie.
“Existem muitos exemplos maravilhosos na conservação de pessoas lutando para proteger as espécies, mas sempre há o risco de que a proteção conquistada a duras penas seja perdida”, disse a Dra. Rebecca Senior, da Universidade de Durham. “Designar parques no papel não é suficiente; eles precisam estar nos lugares certos, com o gerenciamento certo e precisam durar”.
Momento decisivo
Estamos vivendo um momento decisivo na história da humanidade para criar e preservar áreas protegidas para salvar a biodiversidade mundial. “Este estudo estabelece uma geografia onde novos parques podem ser criados e onde devemos restaurar e reforçar os parques existentes, para aumentar a conservação da vida selvagem”, disse Zeng. “Muitas discussões globais sobre conservação giram em torno da necessidade de criar novas áreas protegidas. Isso inclui discussões na conferência de biodiversidade COP15 das Nações Unidas em dezembro de 2022, onde foi adotada uma meta para proteger 30% das terras e mares do planeta. Mas nosso estudo também mostra a importância de garantir que as áreas protegidas permaneçam eficazes em impedir a entrada de atividades humanas nocivas”.
Mais de mil espécies protegidas
Então, como a expansão de redes de parques em apenas um por cento da massa terrestre da Terra levaria à proteção de habitats essenciais para quase 1.200 espécies que estão em risco de extinção?
“Isso pode ser alcançado se a expansão e o fortalecimento das redes de parques forem feitos em locais-chave. Esses são locais onde ocorre o maior número de espécies potencialmente vulneráveis. Observe, no entanto, que não estamos absolutamente dizendo que as áreas protegidas do mundo devem ser expandidas em apenas 1%. Por muitas razões, somos grandes apoiadores da ideia 30 × 30”, reforça Zeng.
Que partes do mundo contêm as áreas de conservação potencialmente mais efetivas que ainda não estão protegidas em termos de número de espécies?
“Existem áreas críticas para a biodiversidade em todo o mundo que precisam de proteção. Não é como se um continente ou um país tivesse todos ou a maioria desses lugares. Dito isto, porém, podemos destacar algumas nações que podem contribuir muito para salvar a biodiversidade mundial protegendo lugares-chave. Estes incluem Madagascar, Malásia e Peru, apenas para citar alguns exemplos”, disse Zeng.
O pesquisador afirma ainda que podemos ajudar a proteger estas áreas. “As pessoas precisam informar a seus líderes políticos que se preocupam com a biodiversidade e querem ver mais lugares selvagens protegidos para salvar espécies, manter ecossistemas saudáveis e oferecer oportunidades para que as pessoas se conectem com a natureza. E, claro, eles podem mostrar seu apoio aos parques visitando-os e aproveitando tudo o que eles têm a oferecer, desde que o façam de acordo com as regras do parque”.
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