Por G1
O que era para ser mais um dia de fiscalização num ninho de tartarugas-da-amazônia se tornou um momento excepcional e raro: foram encontrados 17 filhotes de tartarugas brancas que nasceram em uma área protegida pelo Projeto Quelônios da Amazônia (PQA) no Sul de Roraima. O trabalho é coordenado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O encontro de um ninho com tantos filhotes de tartarugas-da-amazônia na cor branca foi algo considerado inédito no projeto em Roraima, afirma o coordenador Rui Bastos. Eles nasceram no último dia 4 de fevereiro, na região do baixo Rio Branco, Caracaraí.
Agora, eles estão em observação e devem ser soltos até o fim do mês, junto com outras 35 mil filhotes da mesma espécie. Para entender o fenômeno, o Ibama estuda encaminhar alguns para órgãos que fazem pesquisas ambientais.
“Já encontramos alguns filhotes com essas anomalias em anos anteriores, em ninhos diferentes. O que faz essa ocorrência mais excepcional, é o fato de nascerem em um único ninho e com uma quantidade nunca registrada no nosso projeto”, afirma Bastos.
Ninho com 17 tartarugas brancas fica na região do baixo Rio Branco, no tabuleiro de manejo de reprodução Santa Fé — Foto: Rui Bastos/Ibama/Divulgação
A tartaruga-da-amazônia é ameaçada de extinção e fiscais do PQA atuam para protegê-los, fiscalizando ninhos em 32 Km de extensão de areia no baixo Rio Branco, onde há 17 tabuleiros de desova, que são as praias onde nascem os filhotes.
Uma das preocupações é em relação à segurança. Por terem a tonalidade clara, esses filhotes não possuem a camuflagem natural e acabam chamando atenção, tornando-se presas mais fáceis.
“Temos que soltá-las com o número máximo de filhotes para que elas tenham uma possibilidade mais de se livrar dos predadores. Estamos prevendo soltar elas com mais 35 mil filhotes”, estima o coordenador.
Ibama estuda enviar tartaruga-da-amazônia na cor branca para órgãos que fazem pesquisas ambientais — Foto: Rui Bastios/Ibama/Divulgação
Além disso, a região do baixo Rio Branco é alvo de traficantes de tartarugas, por isso, as ações do projeto ocorrem com o apoio da Companhia Independente de Policiamento Ambiental.
As 17 tartarugas brancas nasceram no tabuleiro de manejo de reprodução Santa Fé, distante cerca de 200 Km de Caracaraí, equivalente a sete horas de viagem de barco.
“A cor branca das tartarugas é proveniente de uma anomalia genética na sua pigmentação. Justamente por ser uma espécie com essas anomalias é que se considera como raras”, explica.
Somente no tabuleiro de Santa Fé, onde nasceram as tartarugas brancas, o projeto já identificou ao menos 804 ninhos. A estimativa é que nasçam 120 mil filhotes somente neste ano – todos são monitorados pelo ‘Quelônios da Amazônia’.
Projeto Quelônios da Amazônia atua no manejo e conservação de quelônios de água doce na Amazônia Legal e na bacia do rio Araguaia em Goiás — Foto: Rui Bastos/Ibama/Divulgação
Como se trata de um caso raro, não se sabe a probabilidade matemática de ocorrerem nascimentos como estes na natureza. Bastos explica que, inclusive, há poucos estudos científicos sobre o assunto. “As publicações existente são de tartarugas marinhas, de água doce os registros são poucos”.
Para se ter uma ideia, nos últimos cinco anos, foram encontrados apenas quatro filhotes na cor branca em ninhos diferentes. Inicialmente, acreditava-se que as tartarugas eram albinas. Depois, no entanto, foi descoberto que os filhotes eram apenas brancos.
O coordenador explica a diferente entre uma e outra: “as duas são brancas, a diferença é que albina tem essa falta de pigmentação que atinge também os olhos”.
O projeto Quelônios da Amazônia existe desde 1979 e está sob a coordenação do Ibama em Roraima desde 1990 — há 32 anos.
A atuação dos fiscais do Ibama ocorre a partir do mapeamento de praias de água doce onde há a desova. “Nossa função e fiscalizar estes ninhos para e fazer o manejo dos mesmos”, afirma Bastos.
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