Cigarras “chamam” a chuva? Biólogos explicam a ciência por trás das crenças populares
O som estridente das cigarras ao fim de uma tarde de verão é inconfundível. A crença popular afirma que o canto chamativo das cigarras indica a chegada da chuva, mas será mesmo assim? A ciência explica essa relação.
Os pequenos insetos “têm a capacidade de perceber mudanças que vão indicar um outro evento. Os insetos percebem pequenas mudanças na pressão atmosférica”, explica o professor de Ciências Biológicas Ricardo Ribeiro de Castro ao programa de rádio “Na Onda da Vida” da UFMG.
Além de uma resposta às mudanças no ambiente, há também uma relação entre a regulação hormonal e a idade das cigarras. “Dois hormônios desempenham um papel importante: o hormônio da muda e o hormônio juvenil. Eles regulam a transição entre a forma juvenil e a fase adulta das cigarras”, afirma o professor de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Brasília (CEUB), Fabrício Escarlate.
Quando o ambiente sinaliza a chegada das chuvas, o sistema nervoso das cigarras interpreta essa mudança e estimula a transição para a fase adulta, explica Escarlate. No entanto, a transição também está relacionada à idade das cigarras, que precisam atingir uma certa maturidade antes de passarem para a fase adulta. “As cigarras não estão percebendo a chuva, mas sim respondendo às mudanças ambientais, como o início do período chuvoso”, completa o especialista.
O professor Castro ressalta que, além das cigarras, as formigas, os cupins também têm a “habilidade” de percepção e todos estão ligados ao período reprodutivo. A reprodução coincide com o fim da estação seca e início da estação chuvosa, quando a disponibilidade de recursos, como água, são abundantes.
Cantoria foi antecipada em 2023
O canto das cigarras costuma ocorrer com maior frequência entre o final da primavera e o começo do verão. Entretanto, neste ano, em várias regiões do país, o som das cigarras já começou a ser ouvido no fim do inverno. Em entrevista ao G1, o professor do programa de pós-graduação e ecologia da Universidade de Brasília (UNB), Eduardo Bessa, afirma que é provável que a causa esteja relacionada às chuvas fora de época.
“Esses insetos passam a maior parte da vida dentro da terra, se alimentando da seiva das raízes das árvores e gostam de umidade. Por esse motivo, essas chuvas fora de época podem ter influenciado na percepção desses animais de que já era hora de subir para a superfície”, explica o professor.
Bessa aproveita para desmistificar outro grande mito: as cigarras não cantam até morrer ou explodir, apenas trocam de casca. De todo modo, a fase adulta da cigarra é curta. Elas podem viver anos debaixo da terra, mas após atingir a maioridade e chegar à superfície morrem pouco depois.
Outra curiosidade do canto das cigarras, contada pelo professor da CEUB, é que somente os machos cantam. Eles têm 11 órgãos no abdômen chamados “órgãos cimbálicos”, que emitem sons para atrair as fêmeas, podendo atingir mais de 120 decibéis. Não à toa, é também chamado de canto de acasalamento. “Da próxima vez em que ouvir o canto das cigarras, lembre-se que é mais do que uma simples melodia. É a história da adaptação desses insetos à sua busca pela sobrevivência na natureza”, finaliza Escarlate.