Seis espécies de tartarugas que vivem na Amazônia estão ameaçadas de extinção pela caça predatória
Das 21 espécies de tartarugas que vivem na Amazônia, seis estão ameaçadas de extinção pela caça predatória, e a seca severa na região Norte em 2023 foi mais um obstáculo no trabalho de preservação desses animais.
O dia amanhece e as embarcações partem do município de Novo Airão até a base do Parque Nacional do Jaú, uma unidade de conservação federal no meio da floresta amazônica. A viagem é de 2h30 em lancha rápida.
Turistas e locais ouvem os analistas ambientais sobre a soltura — Foto: JN
No local acontece o primeiro contato com cinco espécies de quelônios, do grupo que inclui as tartarugas, os jabutis e os cágados. Em setembro de 2023, os ovos foram coletados das praias para evitar predadores.
Jonilton é monitor voluntário há dois anos e enfrentou a dificuldade de manter o programa durante a seca. A quantidade de filhotes foi menor que do ano passado.
“A estiagem foi severa. Eu acredito que, com o baixar das águas muito rápido, aquilo atrapalhou com que elas fizessem a desova delas no tempo certo”, diz.
O programa de monitoramento existe há dez anos. É uma iniciativa do ICMBio, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e da organização sem fins lucrativos WCS Brasil, em parceria com a agência dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional.
“Uma coisa que já é uma certeza é que não se faz conservação na Amazônia sem envolver as populações locais, por toda a complexidade e pela necessidade de acessar também esse conhecimento tradicional que as populações já tem”, diz Marcos Amend, diretor de conservação da WCS Brasil.
São as crianças que conduzem o momento da soltura, uma festa para a pequena Ariela.
“É muito importante os pais incentivarem que as crianças tenham contato direto com a natureza para que elas possam criar valores de proteção, de preservação e de cuidado com o ambiente e com os animais”, afirma Huelinton Ferreira, analista ambiental do ICMBio.
Soltura de quelônios na Amazônia é feita por crianças ao lado dos especialistas do ICMBio — Foto: JN
As que ficam para trás recebem a ajuda de quem acompanha o momento da soltura. A ideia é que todos ajudem a indicar a direção correta e que elas consigam achar um novo lar.
Apesar de na natureza os filhotes nascerem em praia, a área da soltura foi na beira do rio para aumentar as chances de sobrevivência. Ainda assim, menos de 1% desses filhotes vai chegar à vida adulta.
“800 filhotes não são muitos. A gente costuma dizer que vai chegar à vida adulta dois, três, no máximo, porque a estratégia da tartaruga é isso: elas colocam muitos ovos e poucas vão chegar à vida adulta”, explica Camila Ferrara, especialista em quelônios da WCS.
“Eu vinha ali na voadeira e vinha pensando no momento que eles estavam tudo indo para dentro da água. Um filme na minha cabeça assim, né? Agora, eu posso passar a preservar mais a nossa natureza, na nossa Amazônia, que é maravilhosa. Então, passar a cuidar mais das coisas que é da gente, daqui da Amazônia. Foi muito bom, muito bom mesmo”, relata uma das pessoas que participaram da soltura.