Araras-azuis-de-lear e micos-leões-dourados traficados são apreendidos na África
Mais um caso envolvendo araras-azuis-de-lear (Anodorhynchus leari) e micos-leões-dourados (Leontopithecus rosalia) escancara o tráfico internacional de espécies da fauna brasileira. Desta vez, 20 micos e 12 araras foram encontrados no final da semana passada em um veleiro na costa de Togo, país da África ocidental situado no Golfo da Guiné. Três primatas estavam mortos. Os animais teriam saído da América do Sul pelo Suriname.
O caso foi divulgado pela ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), que em suas redes sociais mostrou imagens dos animais e informou que eles saíram do Suriname com guias de exportação falsificadas da Cites – órgão que faz o controle do comercio internacional de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção.
Informações não oficiais indicam que o veleiro seria brasileiro e estava com cinco tripulantes, sendo um brasileiro, um uruguaio, um israelense, um surinamês e um togolês.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o ICMBio foi informado sobre a apreensão dos animais em 12 de fevereiro. O Ibama, autoridade administrativa brasileira na Cites, foi notificado e está mantendo contato com as autoridades de Togo para repatriar os animais.
Tráfico de espécies ameaçadas está intenso
Em 2020, o Fauna News publicou a reportagem “Novos casos de tráfico de araras-azuis-grandes e micos-leões-dourados deixam ambientalistas em alerta”, em que se alertava para um aumento do tráfico de animais de espécies silvestres nativas ameaçadas de extinção do Brasil. Apreensões de araras-azuis-grandes (Anodorhynchus hyacinthinus) e de micos-leões-dourados estavam acontecendo dentro e fora do Brasil e preocupavam os profissionais do Instituto Arara Azul e da Associação Mico-Leão-Dourado, entidades que desde a década de 1980 lutam contra esse comércio e pela conservação desses animais.
Apreensões de micos vítimas de traficantes continuaram a ocorrer e, recentemente, casos envolvendo as araras-azuis-de-lear (aves do mesmo gênero das araras-azuis-grandes) começaram a ganhar destaque.
O Fauna News perguntou ao MMA quais providências estariam sendo tomadas para combater o tráfico internacional de animais de espécies nativas brasileiras ameaçadas de extinção, em especial envolvendo araras-azuis-de-lear e micos-leões-dourados, entretanto, não houve resposta a esse questionamento.
Araras ameaçadas
A arara-azul-de-lear é endêmica da Caatinga baiana, ocorrendo apenas em duas localidades, distantes 240 quilômetros uma da outra: no Raso da Catarina e no Boqueirão da Onça. A população da ave foi estimada, em 2022, em 2.273 aves. A espécie está classificada como “em perigo” na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção e na Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).
Além da alteração do hábitat da espécie, em que ocorre a perda da palmeira licuri (Syagrus coronata), sua principal fonte de alimento, o tráfico de fauna é, historicamente, uma das principais ameaçadas à arara-azul-de-lear.
Em dois de fevereiro, duas ucranianas foram detidas pela Polícia Rodoviária Federal na altura do km 409 da rodovia BR-116, em Governador Valadares (MG), com ovos de aves da espécie. Uma das mulheres conseguiu quebrar quatro dos cinco ovos. Elas permanecem presas.
No final de janeiro, duas araras-azuis-de-lear foram apreendias em Mairiporã, município da Região Metropolitana de São Paulo. As aves eram criadas em uma residência e foram localizadas por integrantes de uma equipe da Guarda Civil Ambiental do município, que ouviram as vocalizações delas.
Em julho do ano passado, 29 araras-azuis-de-lear e sete micos-leõs-dourados foram apreendidas no Suriname. As aves seriam enviadas para a Europa por um comerciante que atuava no país e fraudava a documentação dos animais. No mesmo dia em que seriam devolvidas ao Brasil, já em agosto, e 23 delas foram furtadas de um galpão do governo daquele país.
Micos quase desapareceram
Na década de 1960, estimativas indicavam a existência de somente 200 micos-leões-dourados vivendo livres na natureza. A derrubada da Mata Atlântica fluminense – a espécie existe somente em uma região do estado do Rio de Janeiro – e a exportação de animais para criação doméstica e zoológicos foram identificadas como as principais causas do problema.
Atualmente, após muito trabalho envolvendo diversas entidades e o poder público, a população dos micos-leões-dourados é de cerca de 4.800 animais. Apesar dos avanços, esses primatas continuam ameaçados de extinção (“em perigo” pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima e pela União Internacional para a Conservação da Natureza), sendo que a falta de florestas é o principal obstáculo para a conservação da espécie.
Fonte: Fauna News