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Inverno impõe alerta de estiagem na Amazônia e incêndios no Pantanal

Inverno impõe alerta de estiagem na Amazônia e incêndios no Pantanal
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A chegada do inverno traz alertas para estiagem e incêndios florestais em dois dos grandes biomas do país, a Amazônia e o Pantanal. Com a previsão de uma estação seca e com temperaturas acima da média, em ambos os estados as equipes de Defesa Civil organizam operações para evitar danos maiores, à sombra de eventos recentes considerados históricos em seu impacto negativo, seja a seca no Amazonas no último ano, ou ainda, a temporada de incêndios no Centro-Oeste em 2020.

Segundo prognóstico do Inmet publicado na última semana, na região Norte as chuvas devem, no máximo, atingir a média, com possibilidade de permanecer abaixo dos índices. Apenas no extremo norte de Roraima, Amapá e noroeste do Amazonas, a previsão indica condições favoráveis para chuva acima da média.

A falta de chuva no sul da Amazônia é comum entre os meses de julho a setembro e, aliada à alta temperatura e baixa umidade relativa do ar, favorecem a incidência de queimadas e incêndios florestais, observa o Inmet. Desde o começo do ano, o governo do Amazonas vem organizando ações de prevenção e informação junto à população para a possibilidade de fortes estiagens em 2024, que atingiram fortemente também animais da região.

De acordo com dados dos sistemas de monitoramento da Defesa Civil do estado, em 2024 o período de estiagem deve ser adiantado em 30 dias e os impactos sentidos já a partir do mês de julho. Trabalha-se com a possibilidade de uma seca “tão ou mais severa do que a ocorrida em 2023”, quando 62 municípios foram prejudicados.

Pesquisadores fazem medição e coleta de tecidos de botos mortos em lago no município de Tefé, no Amazonas, em 2023. — Foto: Reprodução / Instituto Mamirauá
Pesquisadores fazem medição e coleta de tecidos de botos mortos em lago no município de Tefé, no Amazonas, em 2023. — Foto: Reprodução / Instituto Mamirauá

Abastecimento de água potável, insumos e medicamentos para a saúde, produção rural, logística para a manutenção do funcionamento da rede estadual de educação e ajuda humanitária são os principais focos do cronograma de atividades do governo, que lida não apenas com uma possível crise de fornecimento de água, como também a dificuldade de deslocamento na região, dependente do transporte fluvial.

A WCS Brasil, organização dedicada à conservação da biodiversidade, trabalha com comunidades em locais remotos, como a bacia do rio Içá, próximo à fronteira com a Colômbia. Para Marcos Amend, diretor de conservação da ONG, as ações de governo se resumem a pontos prioritários, mas muita população fica desassistida. “O principal é garantir água potável. São comunidades que pescam, caçam todo dia. É preocupante o governo declarar que essas pessoas devem estocar água e comida, são pessoas sem a menor condição de fazer isso.”

A atenção da Defesa Civil está voltada para o rio Solimões, que registrou desaceleração nos níveis entre fevereiro e abril. Uma baixa no nível do rio, que passa por nove municípios do estado, atinge diretamente o rio Amazonas, que já apresenta níveis baixos para o período, ainda se recuperando da seca do ano passado. A previsão inicial é de um “impacto expressivo” sobre as bacias do médio e baixo Solimões, região que inclui Manaus.

Pantanal ameaçado pelo fogo

Na região Centro-Oeste, a previsão para o inverno indica chuva abaixo da média, com tendência de umidade relativa com valores diários que podem ficar abaixo de 30% e picos mínimos abaixo de 20%, afirma o Inmet. Junto ao calor acima da média, a conjuntura favorece a ocorrência de queimadas e incêndios florestais.

Os focos de incêndio no Pantanal, que se espalham pelos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, cresceram 931% em um ano, mostram os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Enquanto em 2023 foram registrados 91 focos de incêndio pelos pesquisadores, entre os meses de janeiro e junho, em 2024 o índice saltou para 939 no mesmo período. O temor na região é de uma temporada impiedosa como a de 2020

Em Mato Grosso, na última quinta-feira (20), o Corpo de Bombeiros atendeu a duas ocorrências de incêndio na região do Pantanal, nos municípios de Poconé e Cáceres. Um time de 33 militares teve apoio de um avião, dois caminhões pipa, sete caminhonetes e quatro barcos na operação, que teve apoio de brigadistas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Um dia antes, as equipes haviam conseguido extinguir o fogo que se alastrou na Chapada dos Guimarães, informa a Defesa Civil.

Pantanal vive pior junho da série histórica iniciada em 1998, segundo Inpe

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“Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe”, afirma Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil.

Segundo a contagem oficial, eram monitorados 38 pontos de calor no estado na última quarta-feira (19). No Pantanal, está proibido temporariamente o uso do fogo para manejo e limpeza de áreas na zona rural, período fixado até 31 de dezembro. A temporada foi antecipada considerando previsões de estiagem severa para os próximos meses. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação crítica de escassez hídrica da Região Hidrográfica do rio Paraguai.

Para Amazônia e Cerrado, a proibição começa em 1º de julho e termina em 30 de novembro. O estado é o único a ter a confluência dos três biomas.

No vizinho Mato Grosso do Sul, a área queimada no Pantanal disparou 1886% em 2024 e supera duas vezes a cidade de São Paulo. Foram 1.500 registros de focos de incêndio desde janeiro até o último dia 16, enquanto no ano passado, no mesmo período foram registrados 81.

Por conta do alerta de chuvas abaixo da média, o governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência ambiental no dia 9 de abril, por 180 dias.

No Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), a ministra Marina Silva, que lidera o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, alertou para o risco elevado de incêndios no Pantanal e de seca na Amazônia, além de defender a decretação antecipada de emergência climática nos municípios que estão sob risco, para investir em prevenção.

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Trajano Xavier

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