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Um cacto 100% cearense e já ameaçado de extinção

Um cacto 100% cearense e já ameaçado de extinção
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Pesquisadores descrevem nova espécie de cacto que ocorre apenas em quatro municípios do Ceará e pode ser impactada por empreendimento de mineração de urânio

No sertão cearense, sobre terrenos planos, rochosos e até arenosos da Caatinga, brota um pequeno cacto que por mais de uma década passou despercebido, confundido com um “primo” de outros estados do nordeste. O cacto cearense, entretanto, era bem menor do que seu sósia e intrigava os cientistas. O mistério foi solucionado com a descoberta: o pequeno, por fim, trata-se de uma espécie nova, batizada pela ciência de Tacinga mirim. Um cacto 100% cearense e já em potencial risco de extinção.

O cacto recém-descrito se assemelha a uma versão miniatura de outra cactácea, a Tacinga palmadora, popularmente conhecida como palmatória. Enquanto a T. palmadora pode chegar a até 4 metros de altura, a T. mirim não passa dos 50 centímetros.

A similaridade fez com que várias populações da, agora reconhecida, “palmatória-mirim”, fossem erroneamente identificadas antes. Para chegar à conclusão de que tratava-se de fato de uma nova espécie, os cientistas fizeram não apenas a análise morfológica – com as principais diferenças sendo o tamanho, a menor densidade de espinhos e os formatos das flores –, mas também genética, através dos cromossomos.

A área de ocorrência também é outro fator que separa as espécies, com dezenas e até centenas de quilômetros separando as populações encontradas da palmatória-mirim com sua “prima” maior, cuja distribuição se estende da Bahia até o Rio Grande do Norte.

Com os resultados, veio o veredito e o reconhecimento da nova espécie aos olhos da ciência. O artigo com a descrição da “palmatória-mirim” foi publicado no final de julho no periódico científico Rodriguésia, do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, com acesso aberto. A descoberta é assinada pelos pesquisadores Marcelo Oliveira Teles de Menezes, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), e Lânia Isis Ferreira Alves, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Durante a pesquisa, os botânicos foram a campo em dezembro de 2022 para o interior do Ceará para fazer um levantamento dos locais de ocorrência do cacto. Ao todo, foram encontradas apenas oito populações, concentradas na região conhecida como “depressão sertaneja” do Ceará.

Até onde foi constatado pelos cientistas, a espécie ocorre apenas em quatro municípios do interior cearense: Santa Quitéria, Canindé, Sobral e Catunda, todos parte dos domínios da Caatinga.

Os cactos “palmatória-mirim” medem apenas 50 centímetros de altura e formam pequenos arbustos em meio a Caatinga. Foto: Marcelo Teles / Leonardo Jales

As localidades ocupadas pelo pequeno cacto somam apenas 36 km². A área de ocorrência restrita acendeu o alerta dos pesquisadores, que sugerem que a espécie seja classificada como Em Perigo de extinção, de acordo com os critérios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês).

Além disso, o habitat da nova espécie está em declínio, alertam os pesquisadores. De acordo com os dados do MapBiomas, nos cinco municípios em que a palmatória-mirim ocorre, houve redução da cobertura de vegetação nativa de 4 a 16% entre 1985 e 2022, detalham no artigo.

O cenário é particularmente preocupante em Santa Quitéria, onde, em 2020, o governo estadual assinou um acordo para implementação de um grande projeto de mineração industrial (Consórcio Santa Quitéria) voltado para exploração de urânio e fosfato.

“Considerando a gravidade e extensão dos impactos diretos e indiretos causados ​​pela mineração, estas populações poderão sofrer impactos com a instalação do projeto. Estudos rigorosos são necessários na área de mineração proposta para confirmar a presença de T. mirim na região e, se necessário, reavaliar os impactos ambientais”, ressaltam os pesquisadores em trecho do artigo.

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Trajano Xavier

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