Espécie criticamente em perigo de extinção é encontrada em vala de estrada e poças temporárias após 17 anos sem registros publicados
Era mais um domingo chuvoso de verão no litoral paulista quando, durante um trabalho de campo, o biólogo João Henrique Costa e colegas do Laboratório de Ecofisiologia e Toxicologia Aquática, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), resolveram conferir algumas valas na estrada de chão batido. Pode parecer estranho, mas eles estavam em busca de peixes. O que não esperavam era redescobrir uma espécie que não era vista desde 2007, Leptopanchax itanhaensis.
Classificada como criticamente em perigo na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a espécie foi encontrada na sub-bacia do Rio Preto, em Itanhaém, litoral paulista, tanto em uma vala de estrada, quanto em uma poça temporária. Típico de águas escuras e ácidas, esse peixe é nativo da região. A redescoberta aconteceu no início de 2024 e foi publicada em outubro na revista Biota Neotropica.
“Nós coletamos cinco indivíduos, todos machos; o maior deles tinha 2,45 centímetros”, relata Costa, primeiro autor do artigo, que tomou cuidado para não retirar uma proporção grande dos que estavam ali. Apesar de parecer um impacto a mais contra uma espécie ameaçada, essa coleta criteriosa é necessária para o conhecimento científico, que pode ajudar em sua conservação. Naquele ambiente pouco propício, havia grande probabilidade de os animais não sobreviverem.
É natural essa espécie existir em poças temporárias na mata, mas em valas de estradas já preocupa em razão de uma possível perda de hábitat, uma vez que é um ambiente artificial e com condições hostis”. O achado faz parte de sua pesquisa de doutorado no campus do Litoral Paulista da Unesp.
Não há floresta às margens da estrada de terra, o que contribui para a alta temperatura na vala, que também pode estar repleta de poluentes e lixo carregados pela água que escorre pela estrada. Tudo isso torna adverso o ambiente onde os peixes foram encontrados. De resto, a sua presença não é de todo inesperada.
Fonte: Um Só Planeta