A crise climática e a degradação ambiental estão forçando pássaros no norte da Austrália a percorrer distâncias maiores em busca de habitats adequados, mas sua sobrevivência permanece em risco. Pesquisadores da Universidade Monash e da Universidade de Wageningen, na Holanda, analisaram dados de 17 anos sobre o movimento de quase 800 tentilhões, espécie ameaçada de extinção, e descobriram que as mudanças nos padrões de chuva e a fragmentação do habitat estão dificultando sua dispersão.
O estudo, publicado no Journal of Applied Ecology, foi realizado no Santuário de Vida Selvagem Mornington, na região de Kimberley, em terras tradicionais dos povos Kija e Bunuba. Os pesquisadores observaram que aves nascidas em áreas degradadas precisam voar mais longe para encontrar locais adequados para reprodução, mas enfrentam obstáculos devido ao declínio populacional e às secas intensificadas pelas mudanças climáticas.
A dispersão, processo essencial para a manutenção das espécies, está sendo comprometida. Aves que antes se deslocavam por até 68 quilômetros – uma distância impressionante para uma espécie que pesa apenas 10 gramas – agora enfrentam paisagens cada vez mais inóspitas. A redução na qualidade dos habitats, causada por fatores como pastagem de gado e incêndios descontrolados, agrava a situação.
Para reverter esse cenário, os especialistas recomendam medidas urgentes, como o manejo eficiente do fogo com queimadas prescritas, a redução da presença de herbívoros introduzidos próximos a rios e a restauração de áreas degradadas. Manter populações robustas é fundamental para garantir que os tentilhões-de-coroa-roxa continuem se dispersando e evitando o colapso da espécie.
A pesquisa serve como alerta para os impactos das mudanças climáticas na biodiversidade e reforça a necessidade de estratégias de conservação baseadas em evidências. Enquanto as chuvas se tornam mais imprevisíveis, a única saída é proteger e recuperar os habitats naturais antes que seja tarde demais.