Corais têm protetor solar natural que atenua efeitos das mudanças climáticas
O aquecimento global faz os cnidários expulsarem as algas que lhes fornecem alimento, blindagem do Sol e as cores vivas características. Mas algumas espécies resistem melhor a esse processo.
Os corais são animais cnidários – a mesma classificação das anêmonas e águas-vivas. Eles não são gelatinosos porque, ao contrário de seus primos, são revestidos por um esqueleto calcário. Em bom português, corais têm casquinha.
Essa casca crocante de carbonato de cálcio é forrada por minúsculas algas chamadas zooxantelas. Elas são extremamente coloridas e fazem fotossíntese. Parte do alimento que elas produzem com auxílio da luz do Sol é entregue para os corais como um pagamento.
Os corais precisam desse alimento para sobreviver porque são animas sésseis – ficam parados no lugar, incapazes de caçar a própria comida. De quebra, as as zooxantelas ainda filtram a radiação ultravioleta (UV). A mesma que queima a pele e pode causar câncer de pele em nós.
Quando a água dos oceanos fica quente demais, as zooxantelas começam a produzir compostos nocivos, e aí os corais as expulsam. Esse processo é chamado de branqueamento, pois sem as algas, as cores vivas desparecem e resta apenas o esqueleto calcário – que fica com uma cor branca encardida, acinzentada.
O problema não é só estético, claro. Os corais passam fome se não houver ninguém fazendo fotossíntese para eles.
Os indivíduos que sobrevivem têm sua reprodução afetada: a incidência excessiva de luz solar causa mutações genéticas e pode afetar, por exemplo, a capacidade de nadar dos espermatozoides. (Pois é, não estranhe: se corais são animais, eles têm espermatozoides.)
Isso acontece porque a radiação UV pode danificar o DNA das mitocôndrias, usinas microscópicas que fornecem energia para fazer o rabinho balançar. As mitocôndrias, de fato, fornecem a energia necessária para todas as atividades de todos os seres vivos, de modo que danificá-las não é uma boa.
Biólogos do Smithsonian Conservation Biology Institute, nos Estados Unidos, pesquisaram as consequências do branqueamento de duas espécies de coral do gênero Montipora, ambas naturais do Havaí. A expulsão das algas rolou em 2014 e 2015. As espécies são conhecidas em inglês como blue rice coral e brown rice coral, e não há versões em português para esses nomes. Sendo assim, para os fins deste texto, vamos batizá-los de “azuis” e “marrons”.
Os pesquisadores relatam que os corais azuis apresentaram motilidade espermática de cerca de 90% após os eventos de branqueamento, enquanto os corais marrons não conseguiram se recuperar tão bem: seus gametas ficaram com apenas 63% da gingado original, o que dificulta um pouco o trabalho de alcançar os óvulos.
A equipe afirma que a principal diferença entre as espécies está em sua proteção contra os raios UV. Os corais azuis parecem reter melhor o pigmento das algas que fornece proteção contra o Sol, o que reduziria o impacto das mudanças climáticas em sua capacidade de se reproduzir com sucesso.
Ao estudar o papel desse protetor solar natural na resistência dos corais ao aquecimento dos oceanos, nós entendemos melhor por que algumas espécies estão mais preparadas para sobreviver e se adaptar a ambientes hostis do que outras – e podemos até usar truques dos cnidários Bruce Willis para salvar os corais que não são tão duros de matar.