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Cena rara: mãe e filhote de onça-pintada são vistos da Serra do Mar paranaense

Cena rara: mãe e filhote de onça-pintada são vistos da Serra do Mar paranaense
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Divulgação/Grandes Mamíferos Serra do Mar

 

O programa, lançado oficialmente em novembro de 2020, tem o objetivo de gerar dados para subsidiar planos de conservação da anta (Tapirus terrestris), da queixada (Tayassu pecari), além da onça-pintada (Panthera onca).

ONÇA-PINTADA É FLAGRADA COM FILHOTE NA SERRA DO MAR PARANAENSE

As imagens, que foram gravadas em janeiro, mas divulgados nesta semana, indicam que o habitat desse animal está recuperando as condições para sobrevivência e reprodução da espécie, dizem os pesquisadores.

O registro, feito por meio de uma armadilha fotográfica, é resultado de um monitoramento em 17 mil quilômetros quadrados (km²) de Mata Atlântica entre os estados de São Paulo e Paraná.

A área, 11 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, integra a Grande Reserva Mata Atlântica, o maior remanescente contínuo do bioma no Brasil.

“Dentro desse monitoramento apareceu essa fêmea com o filhote, o que mostra que a região é adequada para a ocorrência da onça. Também é um sinal de que o bicho está se reproduzindo na região e isso é um bom indicativo para a conservação da espécie”, disse à Agência Brasil o biólogo Roberto Fusco.

Fusco é membro da RECN (Rede de Especialistas em Conservação da Natureza) e também responsável técnico do programa.

Segundo o especialista, o monitoramento de espécies ameaçadas gera informações para planejamento de conservação e ajuda a criar estratégias mais efetivas para proteção e recuperação das populações desses animais.

O biólogo também destaca que esse tipo de atividade é importante para apoiar tomadores de decisão nas ações de proteção e manejo a nível territorial em um dos maiores remanescentes de Mata Atlântica do país.

ONÇA-PINTADA CORRE RISCO DE DESAPARECER NA MATA ATLÂNTICA

Pesando entre 60 e 160 quilos, a onça-pintada é uma das espécies-símbolo do Brasil, ilustrando, inclusive, a cédula de 50 reais.

Apesar disso, a espécie, que é o maior felino das Américas e o terceiro do mundo, corre sério risco de desaparecer na Mata Atlântica, por já ter perdido 85% de seu habitat. Estima-se que atualmente o número seja inferior a 300 indivíduos.

O biólogo lembra que as armadilhas fotográficas colocadas em campo já haviam registrado fêmeas da espécie, mas que até o registro feito no início do ano, os pesquisadores não tinham informações sobre a capacidade de reprodução da espécie na região.

“Até então a gente tinha registrado fêmeas e, com esse registro da mãe e o filhote, a gente confirmou que a espécie está se reproduzindo”, relatou Fusco.

Segundo o especialista, o filhote aparenta ser um pouco mais velho. “Em geral, os filhotes ficam dois anos com a mãe e depois desse período de tempo ele já pode se estabelecer um território para se reproduzir”, disse.

Fusco lembra que para que isso ocorra é necessário a preservação da Mata Atlântica. Mamíferos de grande porte como a onça, o porco-do-mato, a anta, o veado e a capivara, entre outros, sofrem com a perda de habitat e pressão de caça.

“Grandes mamíferos necessitam de áreas extensas para sobreviver, são extremamente vulneráveis à perda de habitat e à pressão da caça, sendo os primeiros a desaparecer”, explicou.

O especialista lembra ainda que a manutenção dessas espécies é fundamental para o equilíbrio ambiental.

Mamíferos carnívoros, como a onça-pintada, por estarem no topo da pirâmide alimentar, são essenciais no controle e equilíbrio de populações de outros animais que fazem parte da sua dieta, influenciando diretamente em toda dinâmica do ecossistema.

Já mamíferos herbívoros, como a anta e a queixada, são essenciais para a manutenção da floresta, por serem dispersores de sementes. Tais espécies são responsáveis pela dispersão de mais de 100 tipos de sementes, por extensão de cerca de 40 quilômetros, diariamente.

Entre as consequências que podem ocorrer sem o equilíbrio e a preservação dos animais estão a perda de diversidade vegetal, introdução de espécies invasoras, perda de atividades econômicas como o turismo, além de outras imprevisíveis.

PROJETO VAI MAPEAR LOCAIS ONDE A PRESENÇA DO ANIMAL GERAL CONFLITOS

Fusco disse que a próxima etapa do projeto é o mapeamento de locais onde a presença do animal gera conflitos, o que pode resultar na morte de indivíduos, como o que aconteceu com uma onça-pintada encontrada morta na região da Serra de Paranapiacaba, no estado de São Paulo, na última quinta-feira (15).

O animal possuía mais de 50 perfurações de chumbo. Uma das hipóteses é que a onça tenha sido morta por ter atacado alguma criação de animais na região.

“Já tem a caça clandestina de animais como a onça pintada; tem gente que tem medo do animal por não conhecer e acaba matando, mas o principal motivo de caçar é por ataque à criação doméstica, por ela matar animais de porte maior, como cachorros, gado, porco”, disse.

Segundo Fusco, uma das possibilidade para este tipo de ataque às criações é a diminuição das presas naturais da espécie, o que leva esses animais a adentrarem em áreas com ocupação humana.

“A anta também tem conflito com moradores locais. Às vezes ela entra na propriedade para comer o cultivo de frutos e acaba gerando conflito também”, disse.

Fusco ressalta que o bom manejo e conservação de áreas naturais atrai oportunidades de benefício socioeconômico para a região. Entre as possibilidades está o desenvolvimento regional baseado no turismo em áreas naturais e em negócios de impacto positivo ao meio ambiente, com a participação da população local.

PROGRAMA GRANDES MAMÍFEROS DA SERRA DO MAR 

O programa Grandes Mamíferos da Serra do Mar surgiu da necessidade de uma agenda integrada para monitoramento e conservação de grandes mamíferos.

Isso porque o resultado de 15 anos de pesquisa na região indicou que tais espécies estão mais presentes em locais mais elevados e remotos, deixando muitas áreas de floresta demograficamente vazias de grandes mamíferos, inclusive em unidades de conservação.

A iniciativa atua em quatro frentes de ação: monitoramento, com coleta de dados de maneira científica e sistemática; planejamento de conservação, para apoiar os tomadores de decisão nas ações de proteção e manejo; sensibilização, para gerar mais conhecimento e valorização da fauna da Mata Atlântica por toda a sociedade e, por fim, a rede de monitoramento.

O programa é realizado pelo Instituto de Pesquisas Cananéia (IPeC) e Instituto Manacá, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, WWF-Brasil e do banco ABN AMRO, e com a parceria da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Fundação Florestal, do Legado das Águas – Reserva Votorantim, da Fazenda Elguero, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (PPG ECO – UFPR) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Fonte: Paraná Portal

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Trajano Xavier

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