Existe cobra cor de rosa? Saiba o que representam as cores das cobras
Quem é dos anos 90 certamente deve lembrar da Celeste, icônica serpente cor de rosa que morava em uma árvore no ‘Castelo Rá-tim-bum’. Na época muitas crianças fantasiavam em ter pets diferentes como o bruxinho Nino. Mas será que existe mesmo alguma espécie de cobra cor de rosa?
De acordo com o diretor do Museu Biológico do Instituto Butantan em São Paulo, Giuseppe Puorto, impossível não é, mas também não é natural. Isso porque, explica o biólogo, cores tão diferentes ocorrem de duas formas: por alguma anomalia ou por meio de manipulação.
Na internet tem circulado imagens de uma cobra em tons de rosa vibrante e o diretor explica qual a possibilidade disso ocorrer: “Há uma tendência no mundo todo de ter como animais de estimação esses animais diferenciados, os pets não convencionais. E quem está fazendo sucesso no mundo todo é a cobra. Tem cobras que são compradas legalmente e tem cobras compradas ilegalmente. Esse comércio das cobras é muito grande e essa cobra cor de rosa [das imagens da internet] é uma píton -real (Phyton regius). Mas a cor desse bicho é bem diferente quando se pesquisa ela”.
Após uma breve pesquisa com a orientação de Puorto é possível ver que a píton-real possui cores em tons de marrom e com desenhos com padrões malhados. “O que acontece no mundo dos pets é uma competição entre as pessoas para ver quem tem o bicho mais bonito, mais diferente, então quem trabalha com esses animais fica selecionando e fazendo cruzamentos. Quando as cobras cruzam naturalmente de vez em quando nasce um bicho com diferença nos padrões dos desenhos e até nos tons das cores. Mas tem gente que começa a selecionar os desenhos diferentes e cruzar para conseguir chegar até as cores mais diferentes”, explica.
“Eu já vi bichos brancos, já vi amarelos, mas nunca vi cor de rosa assim. É possível que tenha? Sim, inclusive outras cores que a gente nunca viu nas cobras, mas somente porque as pessoas estão selecionando ou por alguma anomalia desconhecida”,
contextualiza Giuseppe Puorto.
É um mercado criado para ser mais lucrativo?
“Exatamente. Do ponto de vista biológico é OK fazer isso? Não. Quando a gente começa a interferir nessas coisas fica complicado para os animais. Temos alguns um pouco diferentes aqui [no museu em São Paulo], mas dentro do normal, porque não anomalias que aconteceram de forma natural, por diferentes motivos que não podemos determinar. Mas do ponto de vista biológico, para os pets, é cruel fazer isso”, assegura o biólogo.
No Brasil existem empresas que vendem legalmente esses animais com as devidas autorizações pelos órgãos de fiscalização: com nota fiscal, um chip de registro no animal etc. Mas o problema mesmo, segundo Puorto, é o tráfico internacional de animais.
“O tráfico faz com que os animais sofram e o grande problema é o que fazer depois que a cobra fica grande. Tem gente que compra o filhote de píton amarelo, por exemplo, com uns 50 centímetros, mas esquece que esse “bichinho” pode chegar à seis metros”, avisa.
Puorto relembra um dos casos que ocorreu em São Paulo: encontraram uma píton em uma creche. “Imagina as crianças, as professoras, se deparando com um bicho desse. Com certeza fugiu de alguém que morava por perto. E possivelmente faz parte do tráfico. Se comprado legalmente, tudo bem. Mas é preciso lembrar: se compra pequeno, mas ele vai crescer”, aconselha.
As cores das cobras
Algumas espécies de cobras na Amazônia possuem, claro, uma variação de cores natural, que representa algo importante para a espécie. O Portal Amazônia conversou com o biólogo e aluno de doutorado em Ecologia no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) e fundador do Projeto Suaçuboia, Igor Yuri Fernandes, sobre essa questão.
Ele confirma o que Giuseppe Puorto explicou sobre o mercado pet:
“Esse mercado abastece uma rede grande de pessoas hoje em dia e consequentemente tem colecionadores de espécies que vão querer bichos cada vez mais chamativos, diferentes e raros. E algumas dessas raridades de cor que podem surgir em cobras são produtos do que a gente chama de anomalia cromática, que é um distúrbio, uma mutação genética nesses animais, que muda o padrão de coloração”.
Igor Yuri Fernandes
Igor pontua casos como “a não expressão de cores”, ou albinismo, em que o animal é branco ou em tons de rosa claro, entre outras possibilidades: “Quando não tem a pigmentação em si, o sangue avermelhado pode deixar essa pele mais rosada e os olhos bem vermelhos. Também tem outras anomalias cromáticas, como o xantismo, que deixa os bichos muito amarelos, o melanismo que deixa eles pretos. E o mercado pet usa essas anomalias cromáticas na reprodução dos bichos, podendo selecionar o padrão de cores e através de reproduções e gerações consecutivas de cobras se consegue chegar no padrão raro que se procura”.
Em algumas pítons, comercializadas há décadas no mercado pet, já se possui o conhecimento de cores que elas tem e quais são os resultados das combinações. “Por meio de alguns cálculos é possível determinar qual a probabilidade de se ter um padrão mais raro, então selecionam machos e fêmeas específicos para reproduzir. Às vezes alteram tanto o padrão de cor do bicho que junto com essa alteração drástica vem outras alterações fisiológicas que acabam sendo prejudiciais para o bicho. São animais bem mais sensíveis à luz, temperatura, é mais complexo de cuidar”, alerta.
Esses animais vivem um processo evolutivo de milhões de anos e, segundo o biólogo, se a cor ou a forma são alterados em demasia, outras pressões podem atuar sobre ele ou serem intensificadas. “Dessa forma se coloca o animal em risco. Esse não é o normal da espécie dele, então ele não está adaptado àquilo, o que faz com que ele tenha que se esforçar mais e isso pode debilita-lo em outros aspectos de vida”, especifica o pesquisador.
Alerta!
Desde a infância, muitas pessoas devem ter ouvido falar que os animais com cores mais marcantes, como o vermelho e o amarelo, são perigosos ou venenosos. De fato é preciso ter mais atenção com esses animais, mas nas cobras, as cores representam uma diversidade de características.
“As cores vibrantes, como na cobra coral, e aqui na Amazônia outras exceções como as corais marrons, ou laranjas com amarelo, a gente tem o aposematismo, ou seja, padrões de coloração de alerta. No sentido de ‘sou perigosa’, ‘não chega muito perto’, ‘eu tenho veneno’. Mas além dessas cores, as listras nos bichos também ajudam a se esconderem. Elas enganam muito a visão dos predadores. O nosso cérebro tem o costume de buscar um padrão, então a gente fica focado olhando a cobra deslizando entre as folhas, mas chega uma hora que aquelas listras começam a se embaralhar e não se sabe mais onde a cobra começa e onde termina e de repente o bicho desaparece”, explica.
Cobras marrons ou verdes com manchas são outros exemplos de camuflagem que funcionam bem nas florestas amazônicas. “A sucuri por exemplo tem um verde mais escuro e tem manchas arredondadas no corpo. Essas manchas, mesmo não sendo em cores vibrantes como nas corais, funcionam como camuflagem. A sucuri, quando está na água, os tons escuros com as manchas ajudam o bicho a desaparecer no meio dos troncos, das folhas no rio, e torna mais fácil pro animal se locomover sem ser percebido”, exemplifica o pesquisador.
Outros exemplos são as cobras-cipó, que se camuflam entre as folhas e cascas das árvores.
E ao contrário do que as pessoas pensam, do mito popular que as cobras vão correr atrás das pessoas na mata, Igor conta que na verdade elas vão tentar ficar o mais imóveis possível, para não parecer visíveis, e é com ajuda das cores que na maioria das vezes são bem sucedidas.
“As cobras, 90% das vezes, vão querer fugir. Elas não vão querer entrar em conflito nem com os predadores naturais delas e nem com o ser humano. Ela vai primeiro tentar ficar imóvel e se camuflar, a segunda ação vai ser tentar deslizar em alguma direção para fugir, ou ela vai tentar avisar, como as cascavéis que ocorrem nas regiões de savana de Roraima e também no Cerrado, que tem o chocalho e balançam, fazendo um barulho característico como aviso. Jararacas e algumas cobrinhas de chão, batem a calda no meio das folhas para lembrar o som da cascavel. Elas produzem esses barulhos para que percebam que ela está ali e não se aproximem. Em último caso, só se estiver muito perto ou pisado em cima delas é que vão tentar morder, mas esse é o último recurso”, detalha o biólogo.
Fonte: Portal Amazonia
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