Guia ensina como “refrescar” as cidades
Um estudo recente revelou que, desde 2014, ondas de calor em ecossistemas marinhos se tornaram “o novo normal”. A crise climática não é mais conversa para o futuro. Eventos extremos são cada vez mais comuns, basta acompanhar o noticiário. Pode até parecer que gestores públicos estão sendo pegos de surpresa, porém cientistas já alertam há muito tempo sobre a necessidade de mirar em um desenvolvimento sustentável.
Os bons exemplos ainda são poucos, mas existem. Na COP26, foi lançado um guia abrangente com estratégias comprovadas para alcançar o resfriamento urbano.
Desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o guia prevê que a necessidade de energia para resfriamento de ambientes triplique até 2050.
Além disso, aponta como causa a combinação de redução na cobertura verde, as propriedades térmicas dos materiais comumente usados em superfícies urbanas e resíduos de calor devido às atividades humanas.
Indo além de sinalizar os problemas, o manual mira em soluções ao trazer dezenas de exemplos e estudos de caso como inspiração para áreas urbanas – as mais suscetíveis às ondas de calor.
Maior distribuição de espaços verdes ou azuis, maior ventilação, gerenciamento de calor residual, árvores nas ruas, superfícies frias e reflexivas que impeçam a absorção de calor e o uso de edifícios para aumentar as sombras em áreas públicas são algumas das sugestões do guia.
Alguns exemplos
Abaixo destacamos alguns casos de estudo que são detalhados no material, confira:
- Estados Unidos: Os serviços de redução de calor da cobertura arbórea urbana nos Estados Unidos são estimados em US$ 5,3 bilhões a US$ 12,1 bilhões anualmente. Globalmente, investir US$ 100 milhões anualmente em árvores de rua daria a 77 milhões de pessoas uma redução de 1°C nas temperaturas máximas em dias quentes.
- Seul, Coreia do Sul: Um esforço para restaurar o córrego Cheonggyecheon que atravessa a cidade substituiu 5,8 quilômetros de via expressa elevada cobrindo o córrego por um corredor de uso misto à beira-mar. O corredor à beira-mar diminuiu a temperatura de 3,3°C para 5,9°C em comparação com uma estrada paralela a poucos quarteirões de distância.
- Medellín, Colômbia: Optou por corredores verdes. De 2016 a 2019, a cidade criou 36 corredores, 18 ao longo de grandes vias e 18 ao longo de hidrovias, abrangendo mais de 36 hectares. As áreas com corredores verdes já sofreram reduções de temperatura de até 4°C.
- Paris, França: Paris abriga o primeiro e maior sistema de refrigeração distrital da Europa. Quando a temperatura da água no rio Sena que corta a cidade está abaixo de 8°C, essa água é usada para fornecer “resfriamento gratuito”.
- Toronto, Canadá: O governo municipal implementou o maior sistema de resfriamento de fonte de lago do mundo. Comissionado em 2004, o sistema Deep Lake Water Cooling (DLWC) de refrigeração usa a água fria do Lago Ontário como fonte de energia renovável.
- Guangzhou, China: O governo municipal adotou o resfriamento centralizado regional como parte de um moderno centro urbano verde e ecologicamente correto na área central do desenvolvimento da Nova Cidade do Rio das Pérolas. A temperatura ambiental local na área central da cidade nova de Zhujiang foi reduzida em 2-3°C em comparação com o uso de sistemas de refrigeração distribuídos.
Por um mundo melhor para todos!
O guia ressalta que comunidades de baixa renda são geralmente as mais vulneráveis ao calor. Portanto, os impactos negativos do aquecimento excessivo vão recair desproporcionalmente naqueles menos propensos a pagar ou ter acesso ao conforto térmico necessário. “Precisamos fazer a transição para formas mais justas e sustentáveis de resfriar nossas cidades e torná-las habitáveis para todos”, ressalta a publicação.
Confira o guia “Vencendo o calor: um manual de resfriamento sustentável para cidades”, em inglês.
Fonte: Ciclo Vivo