Caatinga ganha mapa com áreas prioritárias para restauração
Definir focos para a restauração permite enfrentar o desmatamento, as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade
A Organização das Nações Unidas (ONU) decretou o período 2021-2030 como a Década da Restauração dos Ecossistemas, um esforço mundial para combater as alterações climáticas, a perda de biodiversidade, a degradação dos serviços ecossistêmicos e promover a equidade.
Com este propósito e com olhar para a Caatinga, um bioma exclusivamente brasileiro e rico em espécies adaptadas à seca, pesquisadores das universidades federais do Rio Grande do Norte (UFRN) e do ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com o World Resources Institute (WRI), mapearam as “Áreas Prioritárias de Restauração da Caatinga”. O resultado foi publicado em março na revista “Journal of Applied Ecology”.
A proposta do estudo foi identificar áreas que, se restauradas, ajudem na recuperação de espécies de plantas atualmente ameaçadas de extinção e permitam que estas e outras espécies se adaptem às mudanças climáticas esperadas para o bioma.
“Para os animais e plantas enfrentarem as grandes mudanças de temperatura e de chuva que estão previstas para a Caatinga, eles necessitam poder se deslocar pela paisagem à procura de boas condições climáticas. E para haver este deslocamento, a paisagem tem que ser restaurada de tal forma que aumente a sua conectividade”, explica Carlos Roberto Fonseca, professor associado do Departamento de Ecologia da UFRN e coautor do estudo.
O mapeamento da Caatinga
Para determinação das “Áreas Prioritárias de Restauração da Caatinga”, os pesquisadores subdividiram a Caatinga em mais de 10 mil bacias de captação de chuva. Com ajuda das informações do Livro Vermelho da Flora Brasileira, publicado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, eles estimaram o número de espécies ameaçadas em cada uma das bacias de captação, assim como o grau de desmatamento dentro de cada bacia, além da importância da bacia para conectividade de todo o bioma.
O estudo concluiu que 939 das bacias da Caatinga, o que equivale a 9%, são consideradas de alta prioridade para restauração, sendo espalhadas por todos estados do Nordeste de prevalência do bioma. Além disto, 86 bacias foram consideradas de prioridade máxima para restauração, contendo mais de dez espécies de plantas ameaçadas e sendo essenciais para o deslocamento das espécies pela paisagem.
“Para vocês terem uma ideia da importância deste exercício de priorização, nós detectamos que uma única bacia tem atualmente 106 espécies de plantas ameaçadas, plantas estas que só existem nesta área da Caatinga e em nenhum outro lugar do Brasil ou do Mundo. Se não restaurarmos e protegermos esta área com urgência, a humanidade vai perder estas espécies para sempre”, ressalta Fonseca.
Ainda de acordo com o pesquisador, “A Década da Restauração da ONU representa uma grande oportunidade para se estabelecer uma cadeia verde de produção de mudas e restauração, trazendo recursos e gerando empregos para a população da região”. O estudo ressalta que o mapeamento das áreas prioritárias de conservação pode ser usado pelos governos federal, estadual, municipal, ou mesmo por proprietários privados. “Ações de restauração podem contribuir muito para o desenvolvimento sustentável e para a justiça social”, conclui o pesquisador.
Fonte: Agência Bori