Tartaruga-verde, espécie da Baía de Guanabara, deixa lista de animais ameaçados de extinção
Em meio ao mar, um respiro de alívio. Quatro das cinco espécies de tartarugas-marinhas encontradas na costa do Brasil tiveram melhora no índice de conservação na Lista Oficial das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), divulgada no último dia 8. A notícia dá fôlego à luta pela preservação dessas espécies, importantes para a biodiversidade na água e na terra. Este ano, um dos destaques da avaliação das espécies no Brasil é a tartaruga-verde, que deixa a lista de espécies ameaçadas no país, sendo considerada uma espécie quase ameaçada. Isto é, em terras e águas brasileiras houve aumento no número de indivíduos, mas a preservação ainda depende de ações constantes.
Outras 143 também deixaram a listagem, ao passo que 219 novas espécies e subespécies da fauna entraram na relação, indicando que estão, de alguma forma, ameaçadas. Ao mesmo tempo, 1.249 animais, segundo o levantamento, estão ameaçados de extinção no país.
No Rio, um dos grupos que se dedica a pesquisar e fazer ações de conservação direcionadas a essa espécie, no ambiente costeiro e marinho, é o Projeto Aruanã. Formado por especialistas, tem ações de sensibilização e educação ambiental, assim como estudos a partir das interações entre a tartaruga-verde e os ambientes por onde transita.
— Desde 2013, fazemos a captura intencional para o monitoramento ao longo dos anos, que é mais de perto, intensivo. Fazemos duas vezes por ano na Praia de Itaipu, que é bem conservada, apesar da pesca, que é uma ameaça. Percebemos o aumento do número (da espécie) nos últimos anos. Os projetos sentem que estão se recuperando, mas ainda são dependentes desse trabalho. Continuam na eminência de se não proteger, podem entrar de novo na lista de espécies ameaçadas — diz a coordenadora do Projeto Aruanã, Suzana Guimarães, doutora e especialista em tartarugas marinhas.
Entre os cuidados para a apresentação de soluções para evitar a morte de tartarugas, está entender as características da relação da população do entorno com a área onde esses animais são avistados. Entre esses grupos, estão os pescadores tradicionais, que podem implantar técnicas de captura de peixes que se diferem a cada comunidade.
— A gente tem consciência de que a captura incidental ou acidental vai acontecer alguma hora, mas pesquisamos como pode melhorar ao longo do tempo. Como salvar a tartaruga a tempo? O que fazer se cair na rede? Na reserva de Itaipu (Reserva Extrativista Marinha de Itaipu), a gente acompanhou o processo da Resex, e conseguiu incluir duas regras: uma área de exclusão de pesca e o afastamento da rede do costão, uma medida simples que os pescadores aceitaram. Eles sabem que pegam os peixes ainda, e o risco para as tartarugas diminui — salienta Suzana.
Apesar de a tartaruga-verde ser o símbolo do Projeto Aruanã — nome este também usado para o animal —, inclusive como mascote, os esforços do grupo se estendem para a preservação da biodiversidade marinha como um todo. Afinal, cada espécie cumpre papéis para manter o funcionamento do ecossistema local. As ações educativas destacam essas relações, além das causas e efeitos da interação tão direta do homem na natureza. A doutora e coordenadora do projeto tem percebido o aumento do interesse das pessoas em se informar sobre o tema ambiental e como hábitos pessoais podem ser modificados e abandonados a fim de diminuir os impactos negativos.
Ao longo dos anos, o Aruanã tem recebido da população mais relatos sobre avistamentos de tartarugas-verdes, o que pode ser um indicativo do aumento no número de indivíduos no Rio. Na Baía de Guanabara, o grupo não tem um mapeamento como o implementado na Praia de Itaipu, em que, a partir da captura intencional, é possível reconhecer a chegada de animais novos e a permanência de velhos conhecidos, que ficam anos no mesmo trecho.
Tartarugas-verdes podem ser encontradas em diferentes pontos do estado do Rio de Janeiro, como Búzios — Foto: Paula Vianna / Buzios Divers / Divulgação
Um dos próximos trabalhos de monitoramento, para reconhecer e catalogar os indivíduos, será na Praia Vermelha, com o Projeto Verde Mar, uma das 20 instituições parceiras. A área aguarda para ser transformada em santuário marinho da paisagem carioca, medida que pretende ordenar as atividades na água e restringir a pesca, além de fomentar a pesquisa sobre a biodiversidade local. Caio Salles, fundador do grupo, jornalista e instrutor de mergulho, adiantou como será feito o estudo:
— Vamos trazer a pesquisa como é feita nas Ilhas Cagarras para a Praia Vermelha. É interessante porque será por foto identificação, a partir da placa na cabeça da tartaruga, em que o conjunto de manchas é como uma identidade de cada uma. Fazemos fotos de ângulos diferentes para montar um banco de dados.
Dados atualizados
Para a Lista Oficial das Espécies Brasileiras Ameaçadas de Extinção, do Ministério do Meio Ambiente, foram avaliadas 8.537 espécies da fauna pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Dessas 1.249 estão ameaçadas de extinção, no Brasil. A listagem publicada agora se refere às atualizações dos ciclos finalizados entre 2015 e maio de 2021.
Nela, quatro das cinco espécies de tartarugas-marinhas encontradas na costa do Brasil tiveram melhora no status de conservação. A tartaruga-de-pente, que estampa a cédula de dois reais, estava na categoria “criticamente em perigo”, a mais ameaçada antes da extinção, e passou para “em perigo”. As espécies de tartaruga-oliva e cabeçuda passaram de “em perigo” para “vulnerável”. Em destaque, a tartaruga-verde saiu da lista de espécies ameaçadas, sendo considerada uma espécie quase ameaçada, isto é, ainda dependente de ações de conservação para não ter riscos de voltar à relação. Apenas a tartaruga-gigante não teve mudança na classificação, e permanece em “criticamente em perigo”.