Construções em Ferraz de Vasconcelos serão protótipo para moradias do projeto Favela 3D — Digna, Digital e Desenvolvida
“Me sinto como nunca antes. Eu era dependente química, não tinha vontade de cuidar de nada. Agora, eu estou mudando, tenho vontade de melhorar. É um sonho que se realizou e queremos uma vida melhor não só pra nós, mas para nossos filhos”. Este é o depoimento de Camila Silva, 28 anos que vivia com os quatro filhos em um barraco de um cômodo só, onde ficavam duas camas, cozinha e o banheiro — que não tinha vaso sanitário.
O recomeço para esta família veio com a entrega das primeiras “casas-sementes” na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos. A comunidade está recebendo o projeto Favela 3D — Digna, Digital e Desenvolvida, da ONG Gerando Falcões.
“Agora mudou tudo. Temos um banheiro separado, um cômodo grande onde podemos separar cozinha do quarto. Estou num ambiente muito melhor, me sinto bem onde moro”, comemora Camila.
A construção das casas-sementes veio com uma parceria entre a Gerando Falcões, a Teto e o projeto Biosaneamento. As primeiras sete residências serão um protótipo para as futuras construções e começaram a dar forma ao pilar de moradia digna, proposto pelo projeto Favela 3D. A meta é transformar as favelas em comunidades bem estruturadas, dando fim ao ciclo de pobreza dessas comunidades.
As “casas-sementes” possuem saneamento básico e todo preparo elétrico para funcionamento de energia. A família da Camila, que é mãe de Yasmin (11), Clara (6), Eloísa (5), João Lucas (3) e da bebê Maria Eduarda, foi uma das primeiras a construir junto com as organizações e a se instalar nas novas moradias.
“É uma sensação maravilhosa. Não é porque eu não tive um futuro, que eu não vou querer um futuro para os meus filhos. Cada sorriso deles, cada gesto, vê-los entrando e saindo da casa, da alegria deles, é um sonho realizado. Agradeço muito à Gerando Falcões por tudo isso”, finaliza a nova proprietária da casa-semente.
Construção das “casas-sementes”
A construção ocorreu após diagnóstico feito com a Teto, no qual foram constatadas precariedades em diversas habitações do território, que abriga mais de 600 pessoas em cerca de 170 casas e/ou barracos. No total, serão investidos R$ 5 milhões para a implantação do projeto Favela 3D no local, divididos em quatro pilares:
- moradia digna e urbanismo (áreas de lazer, melhorias habitacionais e construção de residências emergenciais);
- geração de renda (aceleração de empreendedores, qualificação de jovens e adultos e empregabilidade);
- desenvolvimento social (acesso à internet, vida financeira e programa de alfabetização e conclusão de estudos);
- monitoramento e gestão (custos operacionais e de fornecedores).
“Com a construção dessas casas, nós começamos a materializar o Favela 3D. É um passo importante dentro de um projeto que vai interromper definitivamente o ciclo de pobreza nas favelas do Brasil. A previsão é que outras 33 moradias sejam finalizadas”, destaca Nina Rentel, diretora de Tecnologias Sociais da Gerando Falcões.
“As moradias construídas com as famílias que vivem na Favela dos Sonhos foram as primeiras moradias de emergência com banheiro construídas pela Teto no Brasil. Uma inovação que há muito tempo nós, e as comunidades, queríamos tirar do papel. É incrível ver agora a potência que a construção conjunta dessa solução tem para a comunidade, trazendo não apenas o acesso a condições básicas de moradia e saneamento, mas, também, consciência do poder de transformação de cada uma e cada um”, afirma Camila Jordan, diretora-executiva da Teto Brasil.
“Nós da Biosaneamento ficamos extremamente felizes com o convite da Gerando Falcões para fazer parte desse sonho, do qual nós também compartilhamos, que é levar uma condição de vida digna e com oportunidades para as famílias que vivem em lugares precários. Como diz a nossa missão, saneamento é básico e urgente”, afirma Amiris Costa, diretor de Operações da Biosaneamento.
Favela dos Sonhos
A renda média na Favela dos Sonhos é de R$796,65, o que representa um déficit de 45% em relação à linha da pobreza definida pelo Governo Federal — R$ 1.155,14. Além disso, 39% da população economicamente ativa da favela encontra-se desempregada.
O abastecimento de água e coleta de esgotos sanitários é, na sua maioria, irregular, com infraestruturas construídas pela comunidade que não tem acesso ao serviço público de saneamento. Em diversas situações, as redes são conectadas à rede pública de coleta de água pluvial e em algumas edificações os esgotos são lançados a céu aberto nas vias públicas (becos e ruas), sendo o principal destino o córrego que margeia a favela.
Fonte: CicloVivo