Por que o tamanho da árvore mais alta da Amazônia intriga cientistas
Como a árvore foi encontrada
Entre 2016 e 2018, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) captou imagens de vastas extensões da Amazônia com tecnologia a laser. O Inpe rastreou 850 áreas de floresta, cada uma com 12 km de comprimento por 300 metros de largura.
Sete dessas áreas apresentavam evidências de ter árvores que superam os 70 metros. A maioria delas ficava na região do Rio Jari, afluente do Rio Amazonas, entre os Estados do Amapá e Pará — uma zona remota, de difícil acesso.
“Nós nos surpreendemos com a altura colossal da árvore mostrada pelas imagens do Inpe”, escreveram os ecologistas Tobias Jackson, da Universidade de Cambridge, e Sami Rifai, da Universidade Oxford, coautores da investigação.
“Por isso, empreendemos a expedição para confirmar os achados com nossos próprios olhos e determinar a espécie dessas árvores gigantes.”
Depois de seis dias de travessia no meio da selva, os pesquisadores chegaram à região das árvores gigantes. Para medir os troncos, eles escalaram e, do topo, simplesmente soltaram uma corda até o solo.
E por que essas árvores alcançaram mais de 80 metros?
Usando esse método com cordas, os pesquisadores mediram 15 árvores de mais de 70 metros. Diante da ampla diversidade da Amazônia, os cientistas se surpreenderam com o fato de todas essas árvores serem da mesma espécie.
Anteriormente, acreditava-se que as Dinizia excelsa só alcançavam 60 metros.
O que explica essa altura surpreendente?
Os cientistas não sabem dizer o como essas árvores conseguiram alcançar mais de 80 metros, mas dizem que é possível que a altura esteja relacionada com a grande distância de áreas urbanas e zonas industriais.
Também pode estar ligada ao fato de essas árvores serem uma “espécie pioneira”, ou seja, a primeira a habitar uma região após ela sofrer algum tipo de devastação.
O próximo desafio para grupo de cientistas que participou da descoberta é justamente entender o que levou essas árvores a atingirem alturas tão elevadas na Amazônia, tanto do ponto de vista ambiental, quanto do ponto de vista fisiológico.
Eric Gorgens, Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), diz que estudos como esse levam muito tempo.
“Por isso, é essencial valorizar as unidades de conservação e estabelecer políticas públicas de longo prazo de incentivo à pesquisa e monitoramento de nossa flora”, avalia.
Gorgens classifica a existência de uma árvore de 88 metros de altura como “extraordinária” para a Amazônia brasileira. Segundo o professor, crescer em altura é um desafio para as árvores.
“As árvores altas são mais propensas à quebra e à queda, seja por vento, ou seja por não aguentar o próprio peso. As rajadas causam um torque na base da árvore, levando a um alto estresse. Outro fator que limita o crescimento em altura é o suprimento de água para copa. À medida que as árvores se tornam mais altas, o aumento da resistência hidráulica e o peso da coluna de água aumenta o estresse hídrico”.
Portanto, árvores gigantes são consideradas um evento raro, diz ele.
Cápsulas de carbono
Cada Angelim Vermelho é capaz de reter a mesma quantidade de carbono que um hectare de selva tropical. Isso quer dizer que pode armazenar até 40 toneladas de carbono, o que equivale ao que absorveriam entre 300 e 500 árvores pequenas.
“Nossa descoberta significa que a floresta pode ser um reservatório de carbono maior do que se pensava”, dizem Jackson e Rifai.
Os pesquisadores advertem que o estudo focou numa área muito pequena da Amazônia, portanto, é possível que haja muitas outras árvores gigantes, inclusive mais altas que a de 88 metros.
Os cientistas esperam que esse tipo a pesquisa ajude a entender melhor estrutura da Floresta Amazônica e seu papel no ciclo global de carbono.
“O fato de ainda haver descobertas como esta demonstra que ainda temos muito a aprender sobre esse incrível e misterioso ecossistema”, dizem Jackson e Rifai.
Fonte Blog do Juscelino