98% dos pinguins-imperadores da Antártida podem desaparecer até 2100
As regiões costeiras da Antártida e suas águas geladas circundantes são o lar da maior espécie de pinguins do mundo, os pinguins-imperadores (Aptenodytes forsteri). No entanto, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem a crescer no ritmo atual, levando ao aumento da temperatura global e ao encolhimento progressivo do gelo marinho, o local corre o risco de se tornar um dos mais inóspitos para essas aves: sua população diminuiria lentamente até cerca de 2040 e, em 2100, 98% de suas colônias já estariam extintas.
As estimativas alarmantes foram publicadas no periódico científico Global Change Biology nesta terça-feira (3). A investigação, que contou com a participação de uma equipe internacional de ecologistas, cientistas do clima e especialistas em políticas ambientais, é descrita pelos autores como a “melhor evidência científica” obtida até o momento para entender como as mudanças climáticas poderão afetar as populações de pinguins-imperadores, cuja sobrevivência depende intimamente do gelo marinho.
A pesquisa apresenta projeções a respeito de todas as colônias conhecidas dessas aves, considerando cenários distintos e plausíveis de aquecimento global, que vão desde um aumento de 4,3º C em relação aos níveis pré-industriais até 1,5ºC — como estipula o Acordo de Paris — até o final do século. A partir de registros inéditos de satélites, a análise também incluiu, pela primeira vez, avaliações sobre os efeitos de eventos climáticos extremos entre os pinguins-imperadores.
Distribuídos quase exclusivamente entre os 66º e os 77º de latitude Sul na região antártica, esses animais vivem em um delicado equilíbrio com o meio ambiente: se houver muito gelo marinho no local, os filhotes correm o risco de se afogar; o excesso de água congelada, por sua vez, torna as viagens para trazer comida do oceano muito mais longas e árduas, o que pode levar os pequenos à morte enquanto esperam pelo retorno dos pais.
“Dada a dependência da espécie do gelo marinho para reprodução, muda e alimentação, a ameaça mais importante para os pinguins-imperadores é a mudança climática, que levaria à perda de gelo marinho na Antárctida ao longo deste século”, avalia Marika Holland, cientista climática do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, nos Estados Unidos, e uma das autoras da investigação. “As tendências no aquecimento e consequentes perdas de gelo marinho até o final do século são claras e unidirecionais em todas as projeções de todos os modelos climáticos”, destaca, em comunicado.
Para os pesquisadores, os novos dados reforçam a necessidade da inclusão dos pinguins-imperadores na Lei de Espécies Ameaçadas nos Estados Unidos (ESA, na sigla em inglês), uma das peças legislativas tidas como mais evoluídas no que diz respeito à proteção de espécies mundo afora.
Embora essas aves não se abriguem no território dos EUA, a equipe acredita que sua listagem poderia garantir que as atividades das agências federais norte-americanas na região, incluindo aquelas que envolvem emissões de gases de efeito estufa, não prejudiquem os pinguins ou seu habitat. “A proteção dos pinguins-imperadores sob a ESA poderia desempenhar um papel influente em fóruns internacionais de gestão da conservação e nas decisões políticas”, acrescenta o documento.
Os autores do estudo reforçam ainda que, devido à alta vulnerabilidade às mudanças climáticas, o pinguim-imperador também deve ser visto como uma “espécie sentinela”, que alerta para os impactos que o aquecimento global desenfreado poderá causar em outras espécies na Antárctida.
“A ação mais importante para garantir a viabilidade contínua dos pinguins-imperadores é reduzir rapidamente as emissões de GEE [gases de efeito estufa] para limitar o aquecimento posterior”, sugere a pesquisa. “As decisões de política climática de curto prazo durante esta década que atingirem com sucesso as metas do Acordo de Paris forneceriam um refúgio para o pinguim-imperador, interrompendo o declínio dramático da população global. O futuro dos pinguins-imperadores e de toda a biota da Terra depende, em última análise, das decisões tomadas hoje”, concluem os pesquisadores.
Fonte: Revista Galileu
Foto: Aptenodytes forsteri / Pexels