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Poeiras desérticas do Saara são fertilizantes de fitoplâncton e ajudam a manter Terra “respirável”

Poeiras desérticas do Saara são fertilizantes de fitoplâncton e ajudam a manter Terra “respirável”
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Muito se houve falar dos malefícios das poeiras desérticas, sobretudo oriundas de África, que são arrastadas por ventos fortes e tempestades e chegam à Europa, incluindo Portugal. Podem causar ou agravar problemas respiratórios, prejudicar culturas agrícolas e perturbar a vida diária de humanos e não-humanos.

Contudo, uma investigação internacional liderada pela portuguesa Catarina Guerreiro, cientista do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), debruçou-se sobre os impactos das poeiras sopradas do deserto africana do Saara e revelou que “nem todas as poeiras são nocivas”.

Num artigo publicado na revista ‘Frontiers in Marine Science’, a equipa explica que essas poeiras provocam o aumento das concentrações de ferro e fósforo na atmosfera, sobretudo nas regiões onde a deposição é mais elevada.

Quando caem no oceano, estimulam a produção de fitoplâncton, organismos marinhos microscópicos que são a base das cadeias tróficas oceânicas e são importantes produtores de oxigênio, tal como as espécies vegetais terrestres. Por isso, os investigadores consideram que o fitoplâncton é o que ajuda a manter a o planeta Terra “respirável”, uma vez que cerca de metade de todo o oxigênio presente na atmosfera, e do qual quase toda a vida depende, é gerado nos mares e oceanos.

Em comunicado, explicam que “a deposição destas poeiras no oceano transporta elementos como o ferro e o fósforo, nutrientes essenciais para a fertilização do fitoplâncton marinho, especialmente em regiões remotas e afastadas dos continentes, onde o oceano é mais quente e pobre em nutrientes durante quase todo o ano”.

Além disso, o fitoplâncton, também à semelhança das plantas em terra, ajuda, através da atividade fotossintética, a absorver e a reter dióxido de carbono (CO2), o conhecido efeito de ‘sumidouro’, pelo que as poeiras, ao agirem como fertilizantes de fitoplâncton, podem também desempenhar um papel importante na redução das concentrações atmosféricas de CO2 e, assim, no combate às alterações climáticas.

A investigação descobriu que as poeiras têm um efeito particularmente marcado no aumento da abundância de um grupo específico de fitoplâncton: os cocolitóforos.

Dizem os cientistas que “os cocolitóforos são um grupo muito particular e biogeoquimicamente importante de fitoplâncton marinho devido à sua capacidade calcificante, a qual lhes permite interagir com, e influenciar, o ciclo do carbono marinho”. E isso acontece se três formas: ao agirem como sumidouros naturais de CO2, ao serem fontes naturais desse gás, “através da biomineralização da carapaça”, e “enquanto fonte natural de lastro mineral com o qual contribuem para facilitar o afundamento e subsequente sequestro de carbono no oceano profundo”.

Por isso, qualquer alteração na abundância desse tipo de fitoplâncton terá “um enorme potencial” para afetar o ciclo de carbono marinho, ou seja, a quantidade de CO2 que é absorvida por fotossíntese e de carbono que fica retido nos oceanos.

Catarina Guerreiro ruma agora em direção às regiões tropicais do Atlântico, onde, no âmbito de um novo projeto, investigará “processos biogeoquímicos relacionados com correntes de upwelling e com a deposição de poeiras desérticas”.

Avança o MARE que “este novo estudo vai contribuir para identificar as espécies de cocolitóforos que mais influenciam a Bomba Biológica do Carbono na região, e permitir calibrar o potencial paleoecológico deste grupo de fitoplâncton enquanto ferramenta de estudo das condições oceânicas e de deposição de poeiras atmosféricas no passado geológico desta importante região EBUS [Eastern Boundary Upwelling System regions – os sistemas de afloramento da orla costeira oriental (EBUS) são um dos biomas mais produtivos do oceano. Sustentam um quinto da pesca mundial de peixes marinhos selvagens. Estes ecossistemas são definidos por correntes oceânicas que trazem água rica em nutrientes, mas pobre em oxigênio, para as regiões costeiras que se encontram nas margens orientais das bacias oceânicas do mundo]”.

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Trajano Xavier

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