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Ameaça em alta velocidade: atropelamento põe em risco fauna na Chapada dos Veadeiros

Ameaça em alta velocidade: atropelamento põe em risco fauna na Chapada dos Veadeiros
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Quem visita a Chapada dos Veadeiros, em Goiás, espera banhos de cachoeira, paisagens de tirar o fôlego e quem sabe, se tiver sorte, ver animais silvestres. Se o visitante estiver atento na estrada que leva até a região, entretanto, não precisará de tanta sorte assim para avistar carcaças de bichos como o cachorro-do-mato, estendidos sob o asfalto quente da BR-010 que leva até Alto Paraíso de Goiás. Uma pesquisa divulgada recentemente mostrou que a espécie é a mais afetada pelas colisões com veículos na região e alerta para esta ameaça à biodiversidade que circunda o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Ao longo dos 12 meses de monitoramento em trechos das rodovias BR-010 e GO-239, os pesquisadores encontraram um total de 301 animais atropelados, a maioria aves, como o tiziu (Volatinia jacarina) e o canário-da-terra (Sicalis flaveola). Entre as espécies, o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) foi a vítima mais comum, com 22 registros no total.

Na lista dos animais mortos também aparecem espécies ameaçadas como o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) e a raposinha-do-campo (Lycalopex vetulus), ambas endêmicas do Cerrado e classificadas como Vulnerável à extinção na lista nacional do ICMBio.

O artigo com os resultados da pesquisa foi publicado em outubro na Revista Anais da Academia Brasileira de Ciências e é assinado por seis autores que atuam na Universidade de Brasília (UnB).

“O Cerrado é um dos biomas mais ameaçados do país, principalmente pelo avanço da agropecuária. Essa expansão também resulta na expansão da infraestrutura rodoviária, com isso os atropelamentos da fauna silvestre, aliados à fragmentação e perda de habitats naturais podem resultar em declínios populacionais de diversas espécies nos próximos anos. O impacto dos atropelamentos pode até mesmo contribuir para extinções locais de algumas espécies de mamíferos como as onças, as antas e o lobo-guará”, conta o pesquisador que liderou o estudo, Leonardo Fraga, do Centro de Estudos do Cerrado da Chapada dos Veadeiros da UnB.

Para realizar o estudo, a equipe de pesquisadores monitorou por 12 meses, entre 2017 e 2018, dois trechos de rodovia inseridos na Área de Proteção Ambiental Pouso Alto, que abrange parte do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Em baixa velocidade, eles percorreram as estradas de carro para avistar as carcaças dos animais atropelados.

Cada bicho encontrado era fotografado e identificado, e o local era registrado com coordenadas geográficas e informações sobre onde estava (na via ou no acostamento). Depois as carcaças eram removidas da estrada.

O biólogo Leonardo Fraga, principal autor da pesquisa, registra um dos animais atropelados contabilizados pela pesquisa. Foto: Samara Maciel

O primeiro trecho abarcou 33,6 quilômetros da rodovia federal BR-010, que liga a cidade de Alto Paraíso de Goiás com a fronteira sul da Área de Proteção Ambiental (APA). Este segmento foi classificado como “paisagem desprotegida”, já que a APA permite vários usos da terra e o cenário é marcado por extensas áreas de pastagem, agricultura e silvicultura.

Já o segundo trecho, incluiu duas estradas que circundam – e em alguns pontos atravessam – o parque nacional, sendo 31 quilômetros da BR-010, de Alto Paraíso até Teresina de Goiás, e 39 quilômetros da rodovia estadual GO-239, de Alto Paraíso até Colinas do Sul. Por estar inserido no entorno do parque, onde ainda predomina a vegetação nativa do Cerrado, esta paisagem foi classificada como protegida, com poucas e esparsas áreas de pasto.

Ambas as rodovias são de mão única, com sete metros de largura que separam uma margem da outra. Durante o período monitorado, somente na GO-239 havia redutores de velocidade para proteção da fauna e das vidas humanas. Na BR-010, apenas poucas placas indicavam a travessia de animais silvestres.

Mapa mostra os trechos das estradas monitoradas dentro da APA Pouso Alto. Arte: Barbara Zimbres

Ampliar e diversificar o uso dessas estruturas, seja para obrigar os motoristas a reduzirem a velocidade, ou dar passagem segura aos animais, é uma das ações prioritárias para enfrentar o problema dos atropelamentos, garante Leonardo.

“O problema dos atropelamentos da fauna no Cerrado é uma questão que deve ser cada vez mais considerada nos projetos de conservação. A implementação de infraestruturas como sinalização, radares e redutores de velocidade podem ajudar a reduzir o atropelamento da fauna silvestre. Passagens de fauna aéreas e subterrâneas também são muito importantes, desde que instaladas em pontos com maiores taxas de atropelamentos”, pontua o pesquisador da UnB. Ele reforça ainda o papel das pesquisas para identificar os pontos com mais colisões e servir de subsídio para instalação das estruturas de mitigação.

Ao contrário do que haviam suposto os pesquisadores, o maior número de atropelamentos foi registrado na paisagem classificada como “desprotegida”, onde 172 carcaças foram encontradas ao longo do monitoramento, contra 105 nas estradas inseridas na “paisagem protegida”, no entorno do parque.

Isso alerta para a necessidade de mitigar o atropelamento de fauna não apenas em áreas de proteção integral, que exigem por lei maiores ações protetivas, comentam os autores no artigo, mas também em áreas de pastagem e agricultura, com menor presença de vegetação nativa.

Em junho de 2021, a Justiça Federal determinou que a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (GoInfra) implementasse estruturas de mitigação de atropelamento nas rodovias estaduais GO-116 e GO-239, na região da Chapada dos Veadeiros. De acordo com a decisão seriam implementadas 22 lombadas para redução de velocidade e 15 passagens aéreas e subterrâneas nas rodovias.

Por O Eco

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Trajano Xavier

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