Após 30 anos, primeiros filhotes de ararinha-azul nascem na caatinga
Considerada extinta na natureza desde 2000, a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) teve sua sobrevivência atrelada apenas a cativeiros no Brasil e no mundo ao longo das últimas décadas. Aos poucos, no entanto, a espécie vem trilhando o “caminho de volta para casa”. Pesquisadores comemoram este mês o nascimento dos dois primeiros filhotes da espécie na Caatinga baiana, 30 anos depois do último registro de um espécime no sertão da Bahia, seu habitat.
O primeiro passo para a reintrodução das ararinhas na natureza foi possível graças ao trabalho da Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP, na sigla em inglês). No começo de 2020, a ONG alemã enviou ao Brasil um grupo de 52 ararinhas-azuis. Pouco mais de um ano depois, um casal colocou quatro ovos, apenas dois férteis.
O primeiro filhote nasceu em 11 de abril, mas morreu no dia seguinte por conta da inexperiência dos pais. No dia 13, um novo filhote veio ao mundo: também abandonado pelos pais de primeira viagem, ele foi acolhido pelos pesquisadores, que agora o alimentam e cuidam para que sobreviva e seja solto nas matas assim que possível, para restabelecer definitivamente a ararinha em solo brasileiro.
As aves que vieram da Alemanha estão sob os cuidados destes especialistas no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul e na Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul, ambas unidades de conservação criadas no município de Curaçá, Norte da Bahia, em junho de 2018. Com 29,2 mil e 90,6 mil hectares, respectivamente, os dois locais são destinados à reintrodução e proteção da espécie, e conservação do bioma. A construção do Centro e o projeto de reintrodução são custeados pela ACTP.
Em Curaçá também está o Centro de Reprodução e Reintrodução das Ararinhas-Azuis. O local conta com dois viveiros sob coordenação dos pesquisadores, responsáveis pelo monitoramento das ararinhas junto com a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Ameaçada pelo homem
De acordo com o ICMBio, a Cyanopsitta spixii foi descoberta no início do século 19 pelo naturalista alemão Johann Baptist von Spix. A espécie é exclusiva da Caatinga brasileira, uma savana desértica de clima semi-árido no Nordeste do Brasil. Sua população foi dizimada pela ação humana, devido ao tráfico de animais e à perda do habitat para a pecuária e agricultura. O último exemplar conhecido na natureza desapareceu em outubro de 2000.
Desde então, exemplares só eram vistos em coleções particulares e por reprodução em cativeiros, principalmente no exterior. “A ararinha é considerada uma das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Em 2000, foi classificada como Criticamente em Perigo (CR) possivelmente Extinta na Natureza (EW), restando apenas indivíduos em cativeiro”, afirmou o órgão.
Fonte: ICMBIO