Árvore asiática ocupa manguezais da Baixada Santista
Espécie de crescimento rápido se espalha no estuário de Santos
Em maio de 2023, uma flor branca nos manguezais de Cubatão, no estuário da Baixada Santista, litoral paulista, chamou a atenção dos biólogos Geraldo Eysink e Edmar Hatamura, da empresa de gestão ambiental HC2 Holambra Capturing Carbon. Em 30 anos de trabalho de campo nessa área, nunca tinham visto aquela planta antes. Eles coletaram amostras e, com a colaboração da oceanógrafa Yara Schaeffer Novelli, da Universidade de São Paulo (USP), especialista nesse tipo de ambiente, identificaram como uma espécie nativa de manguezais do sul asiático, Sonneratia apetala.
Nos meses seguintes, em uma área de manguezal do município de Cubatão em regeneração com 15,5 quilômetros quadrados (km2), os biólogos encontraram 80 S. apetala com até 12 metros de altura, quatro vezes mais altas que as nativas. É o primeiro registro dessa espécie nas Américas, descrito em fevereiro na Biota Neotropica.
Segundo Hatamura, em avaliações mais recentes, a quantidade de árvores localizadas já supera 250, mas poderia ser ainda bem maior, já que estão sendo localizados novos exemplares a cada ida a campo.
Nativa da Índia, S. apetala foi introduzida na China para a regeneração de manguezais. De acordo com os biólogos, as sementes podem ter vindo com a água de lastro dos navios, que permite o equilíbrio dos cargueiros, sendo liberadas nos arredores do porto de Santos e carregadas estuário acima com a cheia da maré. De crescimento rápido, germinam e já começam a se reproduzir. Os pesquisadores encontraram exemplares com mais de 2 mil frutos, cada uma, em média, com 60 sementes.
“As instituições ambientais já foram alertadas, inclusive de outros estados como Paraná, que também tem um porto que recebe navios asiáticos, e os do norte e nordeste, onde se localizam as áreas mais vastas de manguezal”, diz Eysink.
Para evitar que se repita a experiência dos manguezais chineses, onde essa espécie suprimiu as nativas e dominou a paisagem, é preciso agir na eliminação da invasora. “Se cortar, rebrota. Estamos vendo com o Ibama [Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis] que alternativas poderiam ser usadas, inclusive o uso de herbicidas específicos, desde que não prejudiquem outras espécies”, explica Eysink.
“Os manguezais são berçários para muitas espécies de peixes, caranguejos, siris, ostras e mexilhões. Se S. apetala se alastrar, poderá prejudicar a reprodução de toda essa fauna e a vida de mais de 400 mil pescadores ao longo do litoral brasileiro.”
Os manguezais ocupam uma área de aproximadamente 14 mil km² ao longo da costa brasileira. O Ministério do Meio Ambiente e de Mudança do Clima (MMA) estima que o espaço ocupado por esse tipo de ambiente costeiro é 25% menor do que no começo do século XX.