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As plantas produzem toxinas para evitarem a predação. Mas os polinizadores encontraram uma solução

As plantas produzem toxinas para evitarem a predação. Mas os polinizadores encontraram uma solução
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Algumas plantas produzem substâncias que têm como objetivo afastar animais herbívoros que se possam alimentar delas. No entanto, através do seu pólen e néctar, esses alcaloides podem, ainda que não seja esse o objetivo, também chegar até aos seus polinizadores, agentes essenciais para a reprodução de muitas plantas.

Mas alguns deles desenvolveram alguns mecanismos de proteção contras as defesas químicas das plantas, que embora não sejam direcionadas aos polinizadores, podem, ainda assim, acabar por afetar essa relação simbiótica.

Segundo investigadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido, e da farmacêutica Bayer AG, várias espécies da ordem dos himenópteros, que inclui as abelhas, as vespas e as formigas, e que seguiram caminhos evolutivos diferentes a partir de um antepassado comum há 80 milhões de anos, produzem uma enzima que os protege das toxinas produzidas pelas plantas.

“Estas espécies diferem muito umas das outras, mas uma coisa que partilham é a capacidade para desintoxicar os alcaloides”, elucida Angela Hayward, da Universidade de Exeter e uma das autoras do artigo publicado esta semana na ‘Science Advances’ que dá conta da descoberta.

Isso significa que, durante quase 300 milhões de anos, desde que divergiram do seu antepassado comum, essas espécies foram capazes de manter a composição genética que lhes permite produzir essa enzima, que é fundamental para que os insetos se possam alimentar e para que as plantas possam dispersar as suas células sexuais e assegurar a continuação da espécie.

“Embora algumas destas espécies tenham um contacto muito reduzido com certos alcaloides, como a nicotina, parece que retiveram a capacidade para metabolizá-los, quase como se fosse um traço da sua herança genética”, observa Hayward.

Por sua vez, Bartek Troczka, da mesma universidade e outro dos autores, argumenta que “perceber como os insetos reagem a toxinas específicas é vital”, pois esse conhecimento ajuda a produzir novos químicos, como pesticidas e inseticidas, menos nocivos para os polinizadores.

“Para evitarmos danos ambientais, precisamos de compostos muitos específicos que fazem coisas muito específicas”, afirma.

Será importante recordar que os polinizadores, que além das abelhas, incluem também borboletas, sirfídeos (também conhecidos como moscas-das-flores) e até mamíferos como os morcegos e aves como os beija-flores, são indispensáveis para o desenvolvimento das culturas agrícolas.

Contas da União Europeia apontam que entre 75% e 80% de todas as plantas usadas na alimentação humanas estão diretamente dependentes das ações dos polinizadores, um grupo de animais que está a sofrer duras perdas populacionais, sobretudo devido a más práticas agrícolas.

Estima-se que uma em cada três espécies de abelhas, borboletas e de sirfídeos, todos polinizadores, estão hoje em declínio, sendo que 10% das espécies de abelhas e borboletas e 30% das espécies de sirfídeos estão mesmo ameaçadas de extinção.

Foi a constatação da dimensão do problema que levou a Comissão Europeia, em janeiro, a apresentar uma nova estratégia para responder ao “declínio alarmante” dos polinizadores na Europa e para reverter as perdas até ao final desta década.

Bruxelas reconhece que as perdas populacionais de polinizadores selvagens têm consequências ao nível da segurança alimentar, da saúde e qualidade de vida humanas e, claro, do funcionamento dos ecossistemas, e, por isso, quer reverter o “declínio alarmante”  dessas populações até 2030.

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Trajano Xavier

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