Lobos-guarás foram resgatados, cuidados e soltos pelo ICMBio e parceiros na Bahia
De volta à natureza, os lobos-guarás Baru e Caliandra vão poder semear, no Cerrado, esperança para a espécie e para o meio ambiente. A soltura aconteceu em maio, em Luís Eduardo Magalhães (BA), onde os dois passaram pela reabilitação. Todo o cuidado com os animais faz parte de um planejamento e o esforço conjunto iniciado entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Parque Vida Cerrado, que se estendeu a parceiros da região.
A abertura do portão do recinto foi no final da tarde. Um pôr do sol acompanhado pelos passos desconfiados e curiosos do Baru, o primeiro a sentir o gosto da liberdade. Após cerca de 15 minutos de espera e muitas voltas no espaço que era somente deles, a Caliandra correu em direção ao portão e se embrenhou na mata do Cerrado.
Foram dois anos desde o resgate até que os dois estivessem preparados para o retorno ao hábitat natural. Baru e Caliandra passaram por uma readaptação, em dez meses, no recinto construído em mais de 2,8 mil m², em uma área de preservação permanente com características típicas do Bioma local.
Lá, os lobos-guarás receberam alimentação rica em ração — alimento completo e importante para o desenvolvimento — frutas comerciais e a lobeira, um fruto típico para a espécie. Inclusive, são eles os “semeadores do Cerrado”, como foram carinhosamente apelidados. Dos frutos que eles comem, novas sementes brotam na terra, daí também a importância da espécie para o equilíbrio ecológico.
Além dos cuidados básicos, antes da soltura, Caliandra e Baru receberam, cada um, um microchip subcutâneo, passível de leitura por pesquisadores e cientistas, que identifica o histórico do animal; um brinco de identificação e a coleira GPS, para monitoramento via satélite dos lobinhos.
Como um marco para as pesquisas e a proteção das espécies no País, para esse retorno à natureza, os dois foram os primeiros animais a receber um implante cardíaco. A partir de um escaneamento do monitor do coração, os pesquisadores poderão entender como funciona a fisiologia cardíaca deles e como será a sua atividade durante a vida.
O Baru foi resgatado com mais quatro irmãos: a Seriguela, que vai permanecer mais um tempo em treinamento, a Pequi, que está sob cuidados em um recinto no Distrito Federal, o Araticum e o Mangaba, soltos em janeiro deste ano pelo projeto da Associação Onçafari, a mesma responsável por recolher os filhotes órfãos, encontrados sem a mãe. Já a Caliandra foi resgatada em outra região e enviada também para Luís Eduardo Magalhães.
Territorialistas e solitários, como manda a espécie, Baru e Caliandra, agora, vão percorrer a região em busca de um espaço para chamar de seu. Um dia após a soltura, os pesquisadores já monitoraram os passos e os dois seguem na área, nas proximidades do recinto, de onde podem se dispersar quando quiserem.
Todo esse esforço conjunto do ICMBio e os parceiros, entre pesquisadores, universitários, empresários e o Parque Vida Cerrado, faz parte do Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação de Canídeos Silvestres, coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa de Mamíferos Carnívoros (Cenap/ICMBio). O resultado desse trabalho será a elaboração de um protocolo a ser replicado em situações similares pelo Brasil e o mundo.
Fonte: ICMBio