Cientistas da Universidade de Cornell, nos EUA, afirmam que os cabos de internet submarinos podem ser reconfigurados para monitorar baleias e outros animais altamente vocais dos mares, grandemente ampliando a nossa capacidade de conservá-los e protegê-los por meio de monitoramento acústico.
A técnica foi batizada de “Distribuição Acústica Distribuída” (“DAS”, na sigla em inglês) e aposta na velocidade de transferência do som — que é até cinco vezes maior no oceano do que no ar, segundo os autores — para criar uma maneira mais detalhada e inédita de monitorar a localização atual dos animais, bem como determinar para onde eles estão se dirigindo.
Cerca de 50% das espécies de baleias do mundo estão ameaçadas de extinção ou perto de entrar nesta categoria. Quase todas elas são afetadas por fatores como o aumento da temperatura dos oceanos (uma consequência direta do aquecimento global) e a ampliação das atividades humanas que negativamente afetam seus habitats marinhos.
Além do risco de extinção, tais fatores fazem com que os animais respondam de forma imprevisível a esforços locais de conservação: não raro, orcas (Orcinus orca) podem atacar embarcações de proteção por associá-las a algum risco, dificultando medidas ambientais positivas.
Por causa disso, a estudante pós-doutorado Léa Bouffaut, que estuda na Cornell mas finalizou o estudo quando atendia à Universidade da Noruega de Ciência e Tecnologia, desenvolveu um método de monitoramento acústico que promete ser mais barato por fazer uso de uma infraestrutura que já está posicionada, efetivamente fazendo os cabos submarinos de internet trabalharem na conservação das baleias.
Normalmente, o monitoramento acústico envolve o posicionamento de vários “hidrofones” — sensores bem pesados que monitoram a atividade sonora em uma área bem específica. O problema é que, entre a montagem e operação dos instrumentos, tripulação de entrega e a embarcação para transporte, os custos disso podem ser bem altos.
É aí que entra a fibra óptica: “a tecnologia por trás da DAS é totalmente diferente se comparada ao monitoramento direto de ondas de som com um microfone submarino”, disse Holger Klinck, diretor do Centro Yang de Bioconservação Acústica, ligado à Cornell. “O que gravamos é o tempo dos pulsos de luz que são espalhados por pequenas distorções nos cabos ópticos. É por isso que os chamamos de ‘hidrofones virtuais’”.
Em resumo: durante uma passagem próxima a um cabo, o canto de uma baleia pode movê-lo temporariamente de lugar. Essa mudança traz pequenas flutuações nos pulsos de luz que correm pela fibra óptica, e essas flutuações são captadas por estações adaptadas para essa leitura, ou embarcações com a mesma tecnologia em alto-mar.
E como os cabos estão por todo lugar no chão oceânico — atravessando distâncias entre continentes — a abrangência desse monitoramento é consideravelmente maior do que o uso de hidrofones que só atuam dentro de uma região específica.
O interessante é que, apesar de usar a estrutura global de internet já existente, a DAS não impacta, por exemplo, na qualidade do nosso sinal on-line — a ideia é usar uma das “fibras escuras”, nome atribuído aos cabos extras que ficam de backup das instalações principais.
Tais cabeamentos já são entregues e instalados junto da rede principal, embora só sejam usados em caso de problemas graves.
Embora reconheça que a tecnologia ainda precise de um refinamento antes de ser entregue em caráter definitivo, Bouffaut parece confiante de que ela dará certo: “esse recurso pode trazer um futuro mais brilhante para as baleias”.
O estudo foi publicado no jornal científico Frontiers in Marine Science.
Fonte: Olhar Digital