Captura de tubarões em Arraial do Cabo (RJ) caiu 75% em 60 anos
Nos últimos 60 anos, houve uma queda significativa no número de tubarões capturados ao longo da costa de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, apesar do aumento das atividades pesqueiras na região. Pescadores daquele trecho do litoral relatam uma redução de 75% na captura desses animais no período. Os dados são de estudo das Universidades Federais Fluminense (UFF), de Santa Maria (UFSM) e do Oeste do Pará (UFOPA) publicado hoje, 8 de março, na revista Neotropical Ichthyology e trazem informações sobre a população desses peixes na costa fluminense.
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Os pesquisadores entrevistaram, entre julho de 2018 e 2019, 155 pescadores com experiência de pesca de três até 64 anos na região de Arraial do Cabo para investigar mudanças no número e na distribuição espacial dos tubarões na região. As entrevistas abordaram a época de reprodução, os comportamentos alimentares, a quantidade de capturas ao longo do tempo e outras características das espécies de tubarões. Os dados foram divididos em dois grupos: antes e depois de 2006. Nesse ano, houve o fechamento da Companhia Nacional de Álcalis, o que fez com que a pesca artesanal voltasse a se tornar a principal fonte econômica do município.
“Os pescadores relataram seis espécies de tubarões, todas categorizadas como ameaçadas segundo listas nacionais e globais”, explica Carine Fogliarini, líder do estudo e pesquisadora da UFSM. O artigo destaca que cerca de dois mil indivíduos dessas espécies foram capturados com rede de praia entre 1979 e 2005. De 2006 a 2019, o número de tubarões capturados caiu para 500, ou seja, 75% a menos do que no período anterior.
Os tubarões mais capturados foram o tubarão-galha-preta (Carcharhinus limbatus), o tubarão-anequim (Isurus oxyrinchus) e o tubarão-barriga-d’água (Carcharhinus plumbeus).
Nas últimas seis décadas, as capturas do tubarão-galha-preta foram marcadas por uma queda de mais de 70% em um dos locais de pesca próximo a costa. Em geral, a localização espacial dos locais de pesca de tubarões na costa cabista também mudou, segundo relatam os pesquisadores. Após 2006, quando novos locais de pesca passaram a ser explorados, as capturas desses animais se concentraram em locais mais distantes.
Falta zoneamento em Resex
A região de Arraial do Cabo tem uma reserva extrativista (unidade de conservação de uso sustentável). Criada em 1997 para proteger recursos naturais e direitos de pescadores locais, a Reserva Extrativista Marinha do Arraial do Cabo carece de zonas de proibição de pesca definidas. Assim, a gestão da pesca e a fiscalização da captura de espécies ameaçadas e protegidas é insuficiente, segundo Fogliarini. “A falta de áreas de refúgio ou berçários contribui para a vulnerabilidade das espécies marinhas diante da pesca intensa”, completa.
Os resultados do estudo apontam para a necessidade de políticas de proteção de ecossistemas mais eficazes, ampliando o envolvimento das comunidades locais. A pesquisadora defende a promoção do turismo sustentável, com uma gestão efetiva da pesca, em locais como Arraial do Cabo.
Um tubarão vivo vale muito mais do que um animal morto onde o turismo para ver esses animais existe. Vários países proibiram a pesca de tubarões devido ao risco de colapso das espécies e à importância desses animais para o equilíbrio das cadeias alimentares”.
A equipe de pesquisa quer contribuir para frear ou reverter o declínio populacional de tubarões na costa brasileira, o que pode ser feito por meio do monitoramento de pescarias, campanhas educativas para conscientização e redução do esforço de pesca com abertura de novas possibilidades de geração de renda para os pescadores.
Não adianta apenas proibir a pesca, pois os pescadores precisam sustentar suas famílias. Eles necessitam ter alternativas de geração de renda na pesca ou em outras atividades que sejam mais sustentáveis”, finaliza a autora.