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Cetesb confirma morte de peixes por despejo de vinhaça em afluente do Rio Piracicaba, em SP

Cetesb confirma morte de peixes por despejo de vinhaça em afluente do Rio Piracicaba, em SP
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Pelotão ambiental flagra peixes mortos no Ribeirão Cachoeira do Bairro Limoeiro na região de Piracicaba — Foto: Guarda Civil de Piracicaba/ Divulgação

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb- SP) confirmou a presença de vinhaça no Ribeirão Cachoeira, no bairro Limoeiro, em Piracicaba (SP), onde foi constatada recente mortandade de peixes. O órgão ainda informou  que investiga possível crime ambiental e se a origem do resíduo despejado diretamente nas águas vem de uma plantação de cana-de-açúcar das proximidades. O ribeirão é um afluente do Rio Piracicaba.

Cientistas consultados pelo g1 explicam o que é a vinhaça e por que o descarte irregular do resíduo configura crime ambiental. – Veja abaixo.

O Pelotão Ambiental da Guarda Civil de Piracicaba (SP) também esteve no local, no Bairro Limoeiro, região do Distrito de Ártemis, após denúncias de moradores em uma rede social. Segundo a equipe, foram constatadas a contaminação no ribeirão e morte de peixes. Um boletim de ocorrência foi registrado no último dia 24 de maio e um inquérito deve ser aberto para investigar o caso.

“Em amostragem preliminar, foi constatado que o PH da água coletada do ribeirão era de 5,4 e a oxigenação em 0,5%. Ou seja, o rio estava morto”, relatou ao g1 o agente Bertin do Grupo do Pelotão Ambiental da Guarda de Piracicaba.

Equipe do Pelotão Ambiental da Guarda de Piracicaba vistoriaram o ponto de despejo de vinhaça em ribeirão do Rio Piracicaba — Foto: Guarda Civil de Piracicaba/Divulgação
Equipe do Pelotão Ambiental da Guarda de Piracicaba vistoriaram o ponto de despejo de vinhaça em ribeirão do Rio Piracicaba — Foto: Guarda Civil de Piracicaba/Divulgação

Em nota, a Cetesb afirma que foram coletadas amostras de água para análise em laboratório e que acompanhará a limpeza do local, com remoção do produto ainda existente próximo ao ribeirão.

O g1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) para saber se a Polícia Civil também investiga o crime ambiental, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.

Saiba o que é a vinhaça:

A vinhaça é um produto que se forma em todo processo de produção de açúcar e/ou de álcool. Cada litro de álcool ou quilo de açúcar pode gerar entre 13 e 16 litros de vinhaça, explica o professor e pesquisador em Ecologia Aplicada, Plínio Barbosa de Camargo, responsável pela Divisão e Funcionamento de Ecossistemas do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP).

O pesquisador explica que a vinhaça é um composto ácido, geralmente enriquecido em potássio, formado por grande quantidade de matérias orgânicas que não foram transformadas em açúcar e/ou álcool.

“Esse resíduo é resultado de todos os outros compostos que não formaram o açúcar, como a celulose, lignina e fibras, por exemplo. É uma espécie de lodo – um resíduo desse produto, que é jogado junto com as águas desse processo de lavagem, que chamam de vinhaça”, detalhou o pesquisador, que também é membro da coordenação de área de Biologia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Despejo irregular de vinhaça: O que dizem os cientistas

A pesquisadora Luciana Cavalcante Pereira, doutora em Conservação de Ecossistemas Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora de diagnóstico do Projeto Corredor Caipira para restauração ambiental, afirma que o despejo irregular de vinhaça em ribeirões e rios configura crime ambiental. “É como jogar esgoto direto na água”, compara.

Luciana alerta que o uso da vinhaça, quando feito da forma correta, com o manejo técnico adequado, poder ser muito útil e funciona como adubo em plantações.

“Esse manejo é benéfico tanto do ponto de vista ambiental quanto produtivo, pois evita a poluição das águas e reduz o gasto com agroquímicos”, afirma a pesquisadora.

Por que o despejo da vinhaça provoca morte de peixes?

O despejo irregular de vinhaça na águas de rios, ribeirões ou afluentes faz como esses corpos d’agua se tornem ricos em nutrientes para bactérias aeróbicas (que respiram oxigênio), explica Luciana. Esses microorganismos consomem o oxigênio do ambiente aquático, provocando a morte dos peixes.

O professor Plínio Bárbosa de Camargo esclarece que quando a vinhaça é despejada no meio aquático, os microorganismos começam a degradar esse resíduo feito de matéria orgânica, que para eles é alimento. “Para decompor esses nutrientes, os microorganismos usam o oxigênio que está na água. E, nesse caso, qualquer ser vivo desse ambiente, morre”, alerta.

Outros casos: Morte de peixes no Rio Piracicaba

VÍDEO: Técnicos avaliam mortandande de peixes mortos no Rio Piracicaba

Após centenas de peixes serem encontrados mortos no Rio Piracicaba nos dias 7 e oito de maio de 2022, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) fez uma análise de amostras em vários trechos do manancial. No dia 9 de maio, a Cetesb informou que as medições mostram uma boa qualidade da água.

Em nota enviada à imprensa, a Companhia afirma que a situação está normalizada quanto à “suposta” mortandade de peixes no fim de semana. Foram feitas análises em amostras do rio em bairros da cidade, como o Itaperu, IAA e Grand Park, até a Ponte de Ártemis.

“Avaliaram o teor de oxigênio dissolvido e temperatura, e as medições mostraram boa qualidade da água do Rio Piracicaba.” Segundo a Companhia, foram encontrados alguns peixes em estado de decomposição, mas não se observaram mais espécies morrendo.

“A vistoria não apontou nenhuma fonte de poluição no rio Piracicaba, que pudesse ocasionar a mortandade de peixes, no último final de semana”, acrescentou. A Cetesb informou que vai continuar as ações de fiscalização e controle.

Centenas de peixes foram encontrados mortos nas margens do Rio Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV
Centenas de peixes foram encontrados mortos nas margens do Rio Piracicaba — Foto: Edijan Del Santo/EPTV

No entanto, não foi dada uma explicação para as centenas de peixes encontrados boiando em pelo menos dois trechos do rio.

A Prefeitura de Piracicaba informou nesta segunda (9) enviou ofício à Polícia Militar Ambiental (PMA) e à Cetesb relatando o ocorrido e solicitando providências sobre a mortandade durante o fim de semana.

Mortandade no fim de semana

No domingo, os animais foram vistos boiando próximos às margens no bairro Itaperu, região do distrito de Artemis. No sábado, o cenário foi parecido em outra região da cidade, a cerca de 20 quilômetros desse ponto, no bairro Grand Park, próximo a Santa Terezinha.

Moradores flagraram a cena e denunciaram a situação. O operador de máquinas João Domingos lamentou a cena. “É muito difícil, é uma tristeza muito grande. Hoje, feriado, que feriado triste. Uma situação dessa…”

Peixes foram encontrados mortos no Rio Piracicaba neste sábado — Foto: Edijan Del Santo/EPTV
Peixes foram encontrados mortos no Rio Piracicaba neste sábado — Foto: Edijan Del Santo/EPTV

“Faz pouco tempo que acabou a piracema e essa quantidade grande de peixe morto. É um desrespeito à natureza isso daí. Tem que ir atrás de quem fez isso daí e punir quem fez, porque é demais. Quantas pessoas poderiam estar comendo o alimento saudável, peixe saudável, agora olha a situação que está”, completou.

A piracema é o período de reprodução dos peixes, que vai até o fim de fevereiro, e tem objetivo de evitar a pesca predatória e garantir a reprodução das espécies nativas.

Por Claudia Assencio

Fonte: g1

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Trajano Xavier

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