Chuva destrói quase metade da camada de gelo na região mais fria da Groenlândia
Mais um sinal vermelho para a Terra: quase metade da camada de gelo no Greenland Summit Camp, a área mais fria da Groenlândia, foi destruída por uma chuva que caiu na região pela primeira vez na história. O acampamento contempla uma estação de pesquisa que avalia, entre outras coisas, as disparidades climáticas da Groenlândia em relação ao resto do mundo.
A chuva que afetou a área também não foi uma “garoa” qualquer: segundo estimativas dos cientistas da estação, foram sete bilhões de toneladas de água cuja temperatura levou ao derretimento do manto congelado, afetando uma área de mais de 540 mil quilômetros quadrados (km²).
O gelo ao redor do Summit Camp é tido como um dos mais puros do mundo, formado graças a anos e anos de acúmulo de neve e supressão da água abaixo dela. A chuva representa um problema grave pois, não só ela cai a uma temperatura mais quente que o gelo do solo (levando ao seu derretimento), mas o gelo que se formará da água caída terá qualidade, resistência e duração bem inferiores.
Isso porque a camada anterior (chamada por alguns de “gelo branco”) é extremamente clara em sua coloração, o que faz com que a luz do Sol seja refletida de volta; ao passo que o gelo que se origina da água da chuva tem a cor mais escura e, consequentemente, absorve a luz, aumentando a temperatura média e… derretendo de novo e de novo — um claro efeito do aquecimento global.
O impacto da chuva em uma região onde, normalmente, não deveria chover, traz mais preocupação do que a mera alteração climática da área: segundo especialistas, o derretimento da camada de gelo da Groenlândia pode elevar o nível do mar em 0,3 metro até o ano de 2100. Isso pode parecer pequeno em números, mas é mais que suficiente para destruir regiões costeiras por completo — basicamente, você diz “adeus” a quase todo o estado da Flórida e ao litoral da Califórnia.
Um levantamento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontou em 2019 que o nível do mar estava subindo quase quatro milímetros (mm) ao ano. O impacto disso é que, já para os próximos anos, o tamanho dos bancos de areia nas praias de São Paulo e Rio de Janeiro pode ser drasticamente reduzido.
Lembrando que bancos de areia são mais que meros limites entre asfalto e praia, mas também servem como redutores de impacto de marés: quando a água sobe na areia, ela é melhor absorvida e não chega nas áreas povoadas — fora o fato de eles serem um indicador visual: se a água sobe, saia da areia para buscar segurança.
“Durante eventos de derretimento, esses processos podem ocorrer em partes do gelo que normalmente não passam por isso, espalhando ainda mais o problema”, disse Lauren Andrews, geóloga especializada em ciências glaciais da Nasa, que também informa de outro problema — este, mais embaixo: a água salgada está aos poucos penetrando no gelo por baixo da massa continental que é a Groenlândia.
O efeito disso é o aumento na porosidade na camada continental, fazendo com que a água em temperatura mais alta penetre na camada de gelo e se mova com maior atividade, derretendo-a por dentro, além da chuva. E isso ocorre porque, veja só, o nível do mar está aumentando.
Em outras palavras, temos um ciclo bastante preocupante com essa situação: a chuva cai no gelo, derretendo-o até que ele seja despejado no mar salgado. O mar salgado se eleva, atingindo mais pontos do gelo por baixo, derretendo-o também por dentro.
Especialistas seguem insistindo que, a fim de remediar e evitar essas situações, nós temos que reduzir — muito — o consumo de combustíveis fósseis e a emissão de gases do efeito estufa (como o dióxido de carbono), a fim de minimizar efeitos que já estão acontecendo agora.
Por Olhar Digital