Este estudo internacional, com participação de 36 locais ao longo da costa Atlântica e Pacífica das Américas e liderado pelo Smithsonian e Universidade de Temple, oferece, segundo os autores, a mais ampla visão sobre a temperatura dos oceanos impactando a cadeia alimentar. O Brasil está representado por sete instituições de cinco estados (UFC, UFRN, IEAPM-RJ, UFRJ, UFABC, USP e UFPR). Esta articulação com pesquisadores brasileiros permitiu que o experimento cobrisse praticamente todo o litoral do país, que tem uma extensão continental, demonstrando o papel relevante e a forte inserção internacional da ciência marinha brasileira.
Os locais de estudo foram desde o Alasca no Norte até a Terra do Fogo na ponta da América do Sul. “Nós sabemos de estudos prévios no Panamá que a predação nos trópicos pode ser intensa”, disse Mark Torchin, coautor do trabalho e ecólogo marinho do Instituto de Pesquisa Tropical do Smithsonian no Panamá (STRI – Smithsonian Tropical Research Institute). “Entretanto, trabalhar com nossos colaboradores por toda a América nos permitiu testar a generalidade dessa ideia e avaliar como os efeitos da predação mudam em ambientes mais frios”, destaca.
Uma resposta, em três experimentos
Em cada local, os pesquisadores realizaram três experimentos com predadores e presas, que tinham a proposta de responder à pergunta: o que um oceano mais quente e mais faminto significará para o resto da liga da cadeia alimentar? No primeiro experimento, os pesquisadores estimaram a atividade dos predadores usando ‘squid pops’ (pequenos discos feitos de lulas secas, que lembram pequenos petiscos de cafeterias). Depois de uma hora, os pesquisadores checavam quantos squid pops tinham sido devorados. O resultado confirmou a suspeita: em locais mais quentes, a predação foi mais intensa, enquanto em locais mais frios (abaixo dos 20 °C), a predação caiu a zero.
Nos outros dois experimentos, os autores olharam para os organismos que os peixes gostam de comer, como tunicados e briozoários, para ver como os predadores podem impactar seu crescimento e abundância. Eles acompanharam o crescimento das presas em placas de plástico que ficaram submersas por três meses. Algumas placas eram cobertas por gaiolas de proteção que mantinham os predadores sem acesso, enquanto outras placas foram deixadas abertas e desprotegidas, podendo ser acessadas pelos predadores. Além disso, os pesquisadores protegeram todas as placas por dez semanas, deixando as presas crescer sem serem predadas, e então abriram as gaiolas de metade delas por duas semanas, deixando os predadores acessarem as presas livremente.