Conheça a ‘Mucura’; animal importante na manutenção da biodiversidade e controle de pragas
Confundidos erroneamente com ratos e popularmente conhecidos na Amazônia pelo nome de “Mucura”, esses animais são na verdade uma espécie de gambá. Dependendo da região do país, os gambás também são chamados de Timbú, Saruê, Micurê, Sarigué. Na natureza existem seis espécies diferentes de gambá, mamíferos pertencentes à família Didelphidae. No Brasil são encontradas quatro: Gambá-de-orelha-preta (D. aurita), Gambá-de-orelha-branca (D. albiventris), Gambá-comum (D. marsupialis) e o Gambá-amazônico (D. imperfecta).
O nome originário vem do Tupi-guarani wa–ambá, que significa “mama oca” ou “seio oco”. Isso porque são marsupiais, ou seja, possuem o marsúpio, uma espécie de bolsa onde os filhotes ficam alojados e se alimentam até o final de seu desenvolvimento. Por aqui, as mucuras costumam ser confundidas com roedores, seja pela aparência, seja por possuir hábitos noturnos. Porém o que nem todo mundo sabe é que esses animais tem um importante papel biológico. Além de agirem como espalhadores de sementes, também são controladores de pragas.
“Um dos papéis deles é contribuir com o equilíbrio ecológico, pois eles são controladores de animais considerados pragas para a população humana, como escorpiões, insetos e alguns tipos de serpentes. Por isso, é fundamental preservar os gambás e o seu papel na biodiversidade”, diz a professora Ana Silvia Ribeiro, médica veterinária coordenadora do Ambulatório de Animais Selvagens da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra).
Os gambás costumam ter uma dieta variada, que também inclui ovos, frutas, lagartos e aves. Embora possuam hábitos solitários, formam casais durante o período reprodutivo. As fêmeas reproduzem cerca de três vezes ao ano, com um período de gestação curto, que leva de 12 a 13 dias. Uma fêmea gera de 10 a 20 filhotes em cada gestação, mas nem todos os filhotes chegam à bolsa (marsúpio). Devido à disputa pela amamentação somente os que se aderem às tetas conseguem sobreviver.
Os gambás não costumam ter comportamento agressivo, e caso encontre um deles, o importante é não tentar manipulá-lo e principalmente não matá-lo.
“Se encontrar um exemplar, casal ou família de gambás em sua casa ou quintal, tem dois caminhos, que seria chamar um órgão ambiental para fazer a captura e retirada do animal da residência e posterior soltura, ou esperar até a noite, pois como ele é um animal com hábitos noturnos, ao anoitecer ele vai se deslocar do ambiente em que ele está alojado e dormindo. Normalmente as pessoas encontram ele de dia, dormindo no forro da residência. A recomendação para dificultar a entrada deles em residências é vedar essas áreas onde ele se abriga e evitar o acúmulo de lixo, que atraem insetos, escorpiões, que são animais que eles são predam”, diz a professora.
O Grupo de Estudos de Animais Selvagens da Ufra (Geas/Ufra) listou algumas curiosidades sobre a espécie:
– Aquele animal preto com as listras brancas nas costas, que esguicha um líquido fedorento quando se sente ameaçado, não é um gambá, e sim um Cangambá, que pertence à família Mephitidae, ordem Carnívora, mas não são marsupiais, o que já indica que não são da mesma espécie dos gambás.
– Lembra o que os gambás do filme “A Era do Gelo” faziam quando se sentiam em perigo? Uma de suas estratégias de defesa é um processo chamado tanatose, quando o animal se finge de morto. Eles não apenas se mantém imóveis, mas tem a capacidade de mudar algumas características no funcionamento do corpo, como por exemplo, diminuir a frequência cardíaca e respiratória e ficar realmente sem movimentos quando tocados. Esse período pode durar de 1 a 30 minutos.
– Diapausa embrionária: Muitos marsupiais são capazes de ter uma segunda fecundação ainda durante o período de gestação. Esse segundo embrião fica em “estado de dormência” até que o primeiro filhote tenha se desenvolvido por completo. O embrião dorminhoco começa então a se desenvolver, no período chamado de diapausa embrionária, o que pode durar mais de 200 dias.
– Lactação: No começo, o leite produzido pela fêmea é rico em proteínas. Como o filhote vai crescendo, essa composição muda, deixando o leite rico em gorduras. Com a diapausa embrionária (citada anteriormente), é comum ver dois filhotes amamentando no marsúpio, em estágios diferentes de desenvolvimento. Com isso, as fêmeas dos marsupiais podem produzir dois tipos de leite ao mesmo tempo.
Fonte: Portal Amazonia