Couro compostável feito com restos de alimentos é premiado
Um couro compostável, à base biológica, acaba de ganhar o prêmio James Dyson Award, famoso prêmio internacional de design voltado para estudantes. O produto foi desenvolvido com algas, resíduos de alimentos e de fibras.
Apelidado de Kudarat, trata-se de uma alternativa ao tradicional couro feito da pele de animais e é baseado nos conceitos de circularidade e sustentabilidade. Além de ser livre de sofrimento animal, o couro ecológico evita os problemas de poluição gerados pelos métodos de curtimento e tingimento de couro animal. O processo comum envolve produtos químicos nocivos que poluem a água, a terra e ainda oferece potenciais riscos à saúde dos trabalhadores.
Já o Kudarat é um substituto à prova d’água, antimicrobiano, que possui boa resistência à tração e ainda é compostável – o que significa que, em condições adequadas, o material se degrada no solo.
Todas as matérias-primas são provenientes da natureza – desde algas, frutas ricas em nutrientes até cascas de vegetais – e voltam para a terra, fechando o ciclo. O material pode ser biodegradado entre 8 a 12 semanas.
Inspiração
O couro compostável foi criado por Divya Verma do Instituto Nacional de Design da Índia. A estudante conta que a inspiração para o desenvolvimento do produto surgiu na própria casa, observando a mãe que compostava restos de alimentos orgânicos para fazer adubo para as plantinhas.
“[Fiquei] curioso sobre as propriedades dos resíduos orgânicos. Enquanto pesquisava sobre seus valores nutricionais, aprendi como o desperdício de alimentos acaba nos aterros sanitários, apodrece e libera gases nocivos do efeito estufa, como o metano, contribuindo para o aquecimento global. Da mesma forma, os resíduos de fibras das indústrias têxteis poluem os corpos d’água, entram em nossa cadeia alimentar e prejudicam em grande medida a vida em terra e debaixo d’água. Isso me motivou a criar um novo material que utiliza recursos naturais renováveis e ajuda na gestão de resíduos”, conta.
Vantagens
Ainda segundo a estudante, o desenvolvimento de material não necessita de grandes recursos de terra ou água e é livre de produtos químicos. A produção requer temperatura abaixo de 100 graus e é energeticamente eficiente. Assemelha-se ao couro tradicional em textura, aparência e toque e possui grande resistência, flexibilidade e durabilidade.
Cada peça de couro é tingida com cores naturais derivadas de restos de alimentos e flores, como cascas de vegetais, cascas de nozes, lascas de madeira e rosas.
Outro ponto interessante é que o projeto visa amenizar a geração de resíduos provenientes do desperdício de alimentos e fibras que acabam em aterros sanitários.
Entre as aplicações possíveis, Divya aponta que o couro compostável pode ser usado nas indústrias têxteis, móveis e calçados.
A designer, que também é formada em Ciência e Engenharia, almeja obter verba para seguir suas pesquisas. “Espero que, por meio desse material e de seu processo de desenvolvimento, cheguemos a um ponto no futuro em que a geração de resíduos e o uso de couro de origem animal sejam minimizados globalmente”, afirma.
O couro de base biológica foi vice-campeão do James Dyson Awards deste ano, ficando atrás somente do design de um autoinjetor para administrar medicamentos de emergência.
Por Ciclovivo