Créditos de carbono têm potencial bilionário para o agronegócio
A corrida mundial pela sustentabilidade e o esforço das empresas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) fizeram surgir um negócio com potencial bilionário para o agro brasileiro: os créditos de carbono. O mercado ainda precisa estabelecer regras claras, mas isso é uma questão de tempo e que deve ser resolvida muito em breve, até porque há países que já estão explorando essa “nova commodity” global.
No caso do Brasil, há pelo menos 500 milhões de toneladas de carbono equivalente (tCO2eq) que podem ser convertidos em dinheiro pelo setor produtivo. Uma quantia que, a considerar os valores praticados no exterior atualmente, virariam US$ 5 bilhões para os produtores rurais.
O valor se refere apenas à área ocupada pela agropecuária nacional hoje e não considera as florestas, que guardam outros 5 bilhões de toneladas, afirma Eduardo Bastos, diretor de sustentabilidade da Bayer.
Apesar da aptidão brasileira, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), ressalta que é preciso haver organização na hora de regulamentar o carbono como ferramenta. Para isso, a legislação brasileira deve ser cumprida à risca. “O mercado de carbono não é um mercado aleatório, sem links, ele está dentro de uma estrutura de sustentabilidade. Mercado de carbono com desmatamento ilegal não existe”, diz.
Monetizar o carbono é o grande assunto previsto para a Conferência das Nações Unidas sobre o clima (COP 26), que será realizada de 31 de outubro a 12 de novembro deste ano, em Glasgow, na Escócia. Nesse contexto, Brito diz que o Brasil precisa ter formas de comprovar o resgate do carbono e ter transparência perante o mundo. “Não adianta sair de Glasgow com acordo mundial muito bem firmado se não conseguirmos fazer a regulação adequada e nossas obrigações no sistema agroambiental.”
LAVOURA DE SOJA. Principal commodity produzida e exportada pelo país é alvo de pesquisa para mitigar emissões — Foto: José Medeiros/Ed. Globo
Outro importante pilar do mercado de carbono é o papel da pesquisa para entender qual a melhor forma de fixá-lo ao solo e, também, medir, verificar e reportar os resultados. O presidente da Embrapa, Celso Moretti, afirma que as pesquisas em agricultura e pecuária de baixo carbono seguem firmes. Prova disso, segundo ele, é que cerca de 45 pesquisadores da empresa trabalham em conjunto com a Bayer para pensar esse movimento de descarbonização. “O mundo todo vai ser afetado pela descarbonização e, felizmente, estamos preparando o Brasil nas últimas décadas para responder a essa demanda”, ressalta.
Um dos pontos que precisam ser melhor trabalhados é como esse conhecimento da Embrapa chega até os produtores, uma vez que, de acordo com Moretti, a cadeia de transferência está defasada.“Temos um sistema que está prejudicado no Brasil, então precisamos contar com parceiros privados, secretarias de Agricultura estaduais e o próprio Senar. Entendo que é uma rede, composta pela parte pública e privada,que vai levar as informações até aponta”, observa.
Depois do Carne Carbono Neutro (CCN), sistema de produção que neutraliza as emissões pela criação de gado, a Embrapa foca agora numa iniciativa que pretende criar um protocolo semelhante, mas para a produção de soja, principal commodity cultivada e exportada pelo
Brasil atualmente. Para isso, a estatal está reunindo parceiros para elaborar um acordo e estipular metas. O objetivo é ter procedimentos sólidos de manejo das lavouras e certificar as fazendas de soja que conseguirem neutralizar ou reduzir suas emissões no cultivo do grão.