Território Secreto

sua fonte de notícias especiais

Derretimento de “gelo eterno alpino” pode expelir “trilhões” de gramas de CO2

Derretimento de “gelo eterno alpino” pode expelir “trilhões” de gramas de CO2
0Shares

O termo “pergelissolo” é usado para se referir à porção do solo congelada em caráter permanente. Nas regiões árticas, é fácil de encontrar, mas poucos se dão conta de que esse “gelo eterno” também existe nas regiões mais temperadas (acima e abaixo da linha do Equador, ou “alpino”) – e isso pode ser um problema para quem está na linha de frente do combate ao aquecimento global.

Isso porque, ao contrário de suas contrapartes árticas, o gelo eterno das regiões temperadas derrete a uma velocidade muito mais rápida, mas ele conta com 85 trilhões de gramas (g) de dióxido de carbono (CO2). E uma vez derretido o gelo, todo esse gás pode subir até a atmosfera da Terra, junto de outros produtos também ruins, como metano.

O gelo eterno alpino da região do Tibet derrete com mais facilidade, mas concentra bem mais CO2, do que seu análogo nas regiões polares: perder esse pergelissolo pode significar a liberação de muito gás carbônico na atmosfera
O gelo eterno alpino da região do Tibet derrete com mais facilidade, mas concentra bem mais CO2, do que seu análogo nas regiões polares: perder esse pergelissolo pode significar a liberação de muito gás carbônico na atmosfera (Imagem: Feng Cheng/Reprodução)

Os cientistas referem-se aos dois tipos de gelo como “pergelissolo alpino” e “pergelissolo ártico”. E ambos estão sujeitos às condições atuais do aquecimento global, segundo estudo publicado pela Nature Communications: “concentrações de CO2 na atmosfera hoje são similares, se não mais altas, do que na metade do Período Plioceno, devido à queima de combustíveis fósseis, então cientistas apontam para esse período como um análogo para o nosso tempo atual e futuro climático”, disse Carmala Garzione, co-autora do estudo e reitora do Colegiado de Ciências da Universidade do Arizona. “Ainda não estamos sentindo todos os efeitos do CO2 atmosférico porque a Terra leva um tempo para se ajustar”.

A metade do Período Plioceno corresponde a algo entre 3,3 milhões e 3 milhões de anos – uma época onde a temperatura da Terra raramente chegava a níveis congelantes. Nesse período, o gelo ártico ainda começava a se formar nas regiões polares, que na época ainda eram recheadas de imensas florestas e paisagens relativamente tropicais.

“Nós queríamos estimar a estabilidade do pergelissolo moderno em um cenário mais quente que o atual”, disse Feng Cheng, que assina a autoria primária do paper e já trabalhou com Garzione como colega de pós-doutorado antes de assumir posição de professor na Universidade de Beijing. “Nossas descobertas foram surpreendentes e ressaltam o fato de que precisamos mostrar mais esforços no monitoramento da estabilidade das regiões alpinas”.

Para conduzir o estudo, a dupla atacou duas frentes: de um lado, eles usaram carbonato, um tipo de mineral, que se formou em lagos da região do Tibet para estimar as temperaturas do Plioceno e Pleistoceno (entre 2,6 milhões e 11,7 mil anos atrás). Os átomos dentro desses carbonatos refletem a temperatura pelas quais eles foram originalmente formados.

Por outro lado, a dupla criou um modelo que simulava o clima durante o Plioceno, descobrindo que, naquela época, não só a temperatura da região no Tibet era acima de qualquer possibilidade de congelamento, ela também se repetia em várias outras regiões, como as cadeias montanhosas do que hoje é a Mongólia ou as Montanhas Rochosas dos EUA.

O modelo sugeriu que, nos níveis atuais de CO2 na atmosfera, nós podemos perder 20% do pergelissolo ártico e 60% do pergelissolo (ou “Gelo eterno” ) alpino em um futuro próximo, em especial nas áreas de grande altitude e latitude.

“O Plioceno é um período importante no que tange a um análogo antigo de como a Terra vai se ajustar ao CO2 que humanos já lançaram na atmosfera”, disse Garzione. “Nós precisamos de estudos melhores e mais abrangentes sobre a vulnerabilidade das regiões alpinas sob condições de aquecimento global. Existe um enorme foco na estabilidade do pergelissolo ártico, pois ele cobre uma área maior e contém um enorme reservatório de carbono orgânico preso no gelo, mas também precisamos ficar alertas de que as regiões alpinas vão perder, proporcionalmente, mais gelo eterno e que elas são importantes para compreender o potencial carbônico a ser liberado nessas condições”.

Por Olhar Digital

0Shares

Trajano Xavier

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *