Descarte inadequado de óleo vegetal provoca imenso prejuízo nas redes de coleta de esgoto
O descarte inadequado de um produto usado na cozinha tem provocado um prejuízo imenso nas redes de coleta de esgoto nas grandes cidades.
Quando os técnicos da companhia de água e esgoto do Rio são chamados por causa de vazamento e mau cheiro na rua, eles já sabem: a tubulação pode estar tomada por uma massa consistente, que não se quebra com facilidade não. Sabe o que provoca esse tipo de entupimento na rede de esgoto?
Sim, óleo vegetal. O que é usado nas cozinhas das casas e dos restaurantes todos os dias. O consumo no Brasil chega a 3 bilhões de litros por ano. O problema é que grande parte do óleo é descartada de forma incorreta, na pia ou no vaso sanitário, e vai parar na rede de esgoto das cidades – o que entope as tubulações. Só na cidade do Rio de Janeiro, a concessionária responsável teve que fazer 13 mil desentupimentos em um ano.
Liberar uma galeria de esgoto entupida não é trabalho fácil. A companhia tem que levar um caminhão, o hidrojato. Os técnicos começam tentando desentupir a tubulação em baixo com a força, a pressão da água. Mas não teve jeito. Eles tiveram que levar a britadeira para quebrar o asfalto, a calçada, abriram um buraco enorme para substituir a tubulação, causando transtorno para o trânsito, comerciantes e moradores da região.
Era tanta pedra de óleo que já não havia espaço na tubulação, que se partiu. Mais prejuízo. Em um caso assim, o trabalho pode durar até três dias.
Só olhando, fica difícil saber o que é concreto e o que é óleo.
“Existe uma solução simples. As pessoas precisam se conscientizar e armazenar o óleo gerado em grandes concentrações, empreendimentos, nos comércios, dentro de garrafa pet e disponibilizar para um local de coletava adequado”, explica a coordenadora de serviços da Águas do Rio, Maria Alice Rangel.
A concessionária Águas do Rio está começando a instalar pontos para coleta de óleo usado, que deve ser armazenado frio em garrafas pet e jamais jogado na pia, no vaso ou no lixo.
O Instituto Estadual do Ambiente já tem um programa, em parceria com a Arquidiocese, com postos em igrejas. Mas ainda não há uma política pública robusta para a reciclagem desse óleo.
Tem óleo que vem da Rocinha. Marcelo Santos criou, há um ano, o projeto Óleo no Ponto. Os moradores levam as garrafas cheias. Os donos de restaurantes, bares e lanchonetes da comunidade também participam.
“Eu levo para eles um barril de 18 litros de óleo vazio. Quando esse barril está cheio, eles me ligam dizendo que está cheio. Eu vou lá, levo um vazio para eles e trago um cheio para cá”, conta Marcelo Santos.
O óleo usado é transformado em lava roupas, lava louças, detergente, sabão em barra. A cada quatro garrafas pet, o morador ou comerciante ganha um lava-louças ou pode comprar um dos produtos do Sabão do Morro por R$ 2.
Em um ano, 20 mil litros de óleo foram reciclados na Rocinha. Imagine que um litro de óleo pode contaminar 25 mil litros de água. Então, só o pessoal da comunidade já salvou 500 milhões de litros de água. Quantidade que seria suficiente para abastecer 11 mil pessoas durante um mês.
“Todo mundo ganha. A comunidade ganha, o planeta ganha, os comerciantes ganham. Então, a gente fica todo mundo feliz”, afirma Marcelo Santos.