Espécie de cacto ameaçada de extinção é encontrada em Caxias do Sul
População é a maior já encontrada no mundo. Outros dois pequenos grupos também existem na cidade, mas com graves danos
Pesquisadores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Sema) e do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) encontraram uma espécie de cacto ameaçada de extinção, recentemente, em Caxias do Sul. Segundo os órgãos, esta é a maior quantidade da espécie Parodia rechensis encontrada no mundo. Outros dois pequenos grupos existem, também no município, porém se encontram em graves condições de desenvolvimento.
Conforme o analista ambiental da Divisão de Flora, Departamento de Biodiversidade da Sema, Leonardo Urruth, as plantas estão situadas na localidade de Ana Rech, em Caxias do Sul, que é homenageada com o nome científico da espécie. Não é divulgado o endereço exato, porque uma das maiores ameaças que esse tipo de cacto sofre é a coleta na natureza. Ele salienta que essa atividade é ilegal e passível de multa e responsabilização até criminal.
— Essa espécie, com algumas outras de cactos, são plantas que crescem principalmente em ambientes de solos rasos e são altamente demandantes de sol. A situação de ameaça da Parodia rechensis se justifica porque são conhecidas poucas populações, apenas duas até recentemente, em local restrito. Ou seja, só ocorrem naquele determinado local, com poucos indivíduos. Isso coloca a espécie como um todo numa situação de risco, porque se qualquer dano ocorrer àquelas populações pode causar a extinção da espécie — explica Urruth.
O analista ambiental cita que danos à espécie podem ser o fogo, um corte de vegetação, a construção de alguma obra ou ainda a predação por animais de criação, como o gado bovino, equino, caprino ou até por espécies exóticas como o javali. Além disso, é importante manter o local apropriado para esta espécie, porque no entorno há a proliferação de árvores exóticas de Pinus. Essas árvores sombreiam e diminuem a incidência de sol nos cactos, o que pode matá-los.
As plantas são de crescimento lento e sabe-se pouco sobre sua reprodução. Portanto, precisam ser mais estudadas para que possam ser planejadas ações de reintrodução de novas plantas na natureza para aumentar as populações naturais. Todas essas questões contribuem para o grau de ameaça da espécie.
— Essa descoberta é muito significativa porque até setembro de 2021 era conhecidas apenas duas populações de Parodia rechensis na natureza, e com a descoberta da nova população, que é maior de todas, aumentam as chances de garantir-se a conservação da espécie, que é endêmica do Rio Grande do Sul, e, mais ainda, até onde se sabe, em Caxias do Sul. Ou seja, só ocorre no município em todo o planeta— destaca o analista.
Como ocorreu a descoberta
A descoberta da nova população da espécie foi motivada pela curiosidade do engenheiro agrônomo e estagiário do Instituto de Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA-SC), Filipe Bernardi. No seu estágio, ele teve contato com os materiais de divulgação do Plano de Ação Territorial (PAT Planalto Sul) para a conservação de espécies ameaçadas de extinção Planalto Sul, que é cogerido pela Sema do RS e pelo IMA-SC.
O sumário executivo do PAT contém um guia ilustrado das 22 espécies alvo do plano, com 17 plantas e cinco animais. Ao observá-lo, Filipe lembrou que havia visto uma planta parecida com a Parodia rechensis em uma propriedade privada rural de Caxias do Sul. Então, ele fez os registros fotográficos e enviou para a coordenadora Geral do PAT Planalto Sul, a bióloga Luthiana Carbonell dos Santos, do IMA-SC. E, a partir disso, os botânicos do Jardim Botânico de Porto Alegre e do Museu de Ciências Naturais, vinculados ao Departamento de Biodiversidade da Sema, visitaram o local e confirmaram a importante descoberta.
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