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Esta espécie de árvore pode ter evoluído para atrair raios, diz estudo

Esta espécie de árvore pode ter evoluído para atrair raios, diz estudo
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Um estudo recente, publicado na revista New Phytologist, revelou que uma certa espécie de árvore tropical, encontrada nas florestas do Panamá, pode ter desenvolvido uma adaptação evolutiva única, funcionando como um verdadeiro “para-raios natural”. Os cientistas descobriram que essa árvore não apenas resiste aos impactos dos raios, mas também tira proveito deles.

Tudo começou em 2015, quando a equipe encontrou uma árvore Dipteryx oleifera — conhecida como almendro e nativa da América Central — que havia resistido a um raio com pouquíssimos arranhões. No entanto, a descarga elétrica tinha sido tão intensa, que destruiu uma videira parasita em sua copa e matou mais de uma dúzia de árvores ao redor. Surpresos com o ocorrido, os pesquisadores decidiram aprofundar os estudos sobre o impacto dos raios nas florestas tropicais do Panamá e descobriram mais indivíduos da mesma espécie prosperando após serem atingidas.

Foi apenas sete anos depois, em 2022, que os pesquisadores puderam demonstrar que as árvores possuem diferentes taxas de sobrevivência quando o assunto são raios. No novo estudo, eles vão além e sugerem que algumas árvores podem até se beneficiar dessas descargas elétricas. “Ver que há árvores que são atingidas por raios e estão bem foi simplesmente alucinante”, disse Evan Gora, um ecologista florestal do Cary Institute of Ecosystem Studies e líder do estudo, em comunicado.

Para alcançar esses resultados, os pesquisadores utilizaram um sistema exclusivo de rastreamento de raios, que permitiu mapear 93 árvores atingidas por descargas elétricas no Monumento Natural Barro Colorado, no centro do Panamá. Durante seis anos, a equipe monitorou regularmente essas árvores, registrando dados sobre suas taxas de sobrevivência, o estado da copa e do tronco, a presença de cipós e lianas parasitas, além da mortalidade das árvores ao redor.

Técnico sobe em uma torre para detectar e localizar raios na área de estudo — Foto: Evan Gora/Cary Institute of Ecosystem Studies
Técnico sobe em uma torre para detectar e localizar raios na área de estudo — Foto: Evan Gora/Cary Institute of Ecosystem Studies

Entre as espécies analisadas, a Dipteryx oleifera se destacou por sua resistência. Todas as nove árvores dessa espécie sobreviveram a raios diretos, sofrendo apenas danos leves. Além disso, os pesquisadores observaram que as descargas elétricas ajudaram a reduzir em 78% as infestações de lianas — trepadeiras que podem comprometer o crescimento das árvores.

Por outro lado, árvores de outras espécies atingidas diretamente foram severamente afetadas, perdendo 5,7 vezes mais folhas de suas copas, e 64% delas não resistiram nos dois anos seguintes. Além disso, a equipe descobriu que as árvores vizinhas às Dipteryx tinham 48% mais chance de morrer em comparação com outras na floresta, possivelmente devido à maior atração de raios por essas árvores.

Uma árvore Dipteryx oleifera logo após ser atingida por um raio em 2019 (esquerda) versus dois anos depois (direita) — Foto: Evan Gora/Cary Institute of Ecosystem Studies

Uma árvore Dipteryx oleifera logo após ser atingida por um raio em 2019 (esquerda) versus dois anos depois (direita) — Foto: Evan Gora/Cary Institute of Ecosystem Studies

Força da natureza

Quando um raio atinge uma árvore, os danos podem variar desde nenhum impacto visível até a remoção parcial da casca ou a destruição completa da planta. O fator decisivo para sua sobrevivência é se a descarga elétrica é intensa o suficiente para atingir o interior do tronco, onde a seiva aquece instantaneamente, evapora e provoca uma explosão que pode arrancar a casca.

Por isso, os raios causam a morte de centenas de milhões de árvores anualmente. Segundo o Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), as árvores são alvos naturais dessas descargas por serem as estruturas mais altas em uma determinada área. E esse fator pode explicar o fenômeno observado nas Dipteryx: essas árvores costumam ser, em média, quatro metros mais altas do que suas vizinhas mais próximas. Isso sugere que os raios podem ter eliminado as árvores concorrentes, proporcionando às Dipteryx uma vantagem competitiva na disputa por luz e espaço.

Além disso, as Dipteryx oleifera podem ter até 68% mais chances de serem atingidas por raios do que outras árvores de altura e copa medianas. Durante o estudo, inclusive, um caso chamou a atenção: uma única árvore foi atingida duas vezes no intervalo de apenas cinco anos. Esse número é impressionante, considerando que, em média, uma árvore individual dessa espécie recebe uma descarga direta a cada 56 anos.

“Esses dados fornecem a primeira evidência de que algumas árvores se beneficiam ao serem atingidas por raios”, escrevem os autores. Ou, como Gora coloca, “É melhor para uma árvore Dipteryx oleifera ser atingida do que não ser.”

Agora, os pesquisadores buscam entender quais propriedades elétricas ou estruturais permitem que essas árvores resistam aos raios. Diante de um cenário de mudanças climáticas, no qual tempestades mais intensas e descargas elétricas estão se tornando mais frequentes, investigar o impacto dos raios nas árvores pode ser essencial para antecipar possíveis alterações na biodiversidade.

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Trajano Xavier

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