Esta startup cria revestimentos sustentáveis a partir das folhas de palmeira de buriti
Uma das espécies de palmeiras mais presentes no Brasil, além de servir de refúgio para aves, o buriti vira óleo para cosméticos e matéria-prima para artesanato. Agora, dois sócios transformaram a folha do buriti em revestimentos para isolamento térmico e absorção sonora para a construção civil. A Buriti BioEspuma nasceu como startup em 2023 e integra a delegação brasileira como expositora no Expand North Star, parte do GITEX Global, evento anual realizado em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Apesar de constituída como empresa há pouco tempo, a ideia para o negócio surgiu do trabalho realizado pelos cofundadores, Felippe Fabrício e Renato Lemos Cosse, durante o doutorado de engenharia. Eles iniciaram os estudos há 15 anos, quando decidiram investigar a possibilidade de utilizar as folhas de buriti para revestimentos.
“Muito antigamente, as comunidades tradicionais já usavam o buriti para embarcações, que flutuavam. Hoje é um material meio marginalizado, usado para fazer gaiolas, mas a gente sabia que tinha um material leve, poroso e fibroso, como todos os isolantes térmicos”, comenta Fabrício.
Eles fizeram estudos de viabilidade comparando com outros materiais convencionais, como EPS, fibra de vidro e lã de rocha, descobrindo que o buriti tinha comportamento semelhante. A tese acadêmica virou negócio graças ao Centelha, programa da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
“Todos os absorventes sonoros e isolantes térmicos que existem hoje são de origem fóssil ou são de material altamente processado, com alta energia incorporada. Nossa vantagem é ser de fonte renovável, biodegradável e reciclável. É ciência e tecnologia pura do Brasil. Vendemos um material com pegada sustentável, mas com preço competitivo e desempenho similar”, pontua Fabrício.
Com um a dois ciclos de vida por ano, a palmeira de buriti está presente nos biomas Amazônico e Cerrado. As folhas já secas, que seriam descartadas naturalmente pelas palmeiras, são colhidas por cooperativas que vendem o material para a startup, garantindo uma renda extra. No momento, a Buriti BioEspuma trabalha com dois fornecedores da região do Vale do Rio Parnaíba, entre Maranhão e Piauí, mas já tem outras comunidades mapeadas para quando a escala aumentar.
“A gente não desmata a palmeira, eles não fazem só a extração, mas também o pré-beneficiamento, entregando o subproduto que utilizamos para produzir a espuma”, explica Fabrício.
O trabalho é feito sob demanda, a partir da compra das peças por arquitetos e designers, com a produção durando cerca de 40 dias. Para cair no gosto do público, a startup investiu em peças que se assemelham a madeira e com cores neutras, para combinar com diferentes tipos de projeto.
Além da participação no Centelha, a Buriti BioEspuma também foi contemplada por edital da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) e busca novas oportunidades de financiamento para lançar mais produtos. Com sede em Teresina (PI), a Buriti BioEspuma é incubada na Universidade Federal do estado, onde montou a sua fábrica.
Mais do que capital de investidores, a startup busca entrar no mercado dos Emirados Árabes Unidos – mas a presença no Expand North Star já garantiu conversas marcadas com investidores de Malta, França, Índia e Portugal. “O nosso objetivo é achar um parceiro distribuidor e manter a fábrica no Brasil. No primeiro momento seria importação indireta, com risco menor. Aqui é interessante porque é um canteiro a céu aberto e estão em busca de inovação, querem sair dessa pegada do carbono, de ser baseado no petróleo”, afirma Fabrício.
Uma das portas de entrada é a professora Débora Barretto. Brasileira, ela é especialista em acústica e presta serviço de consultoria em Dubai. A profissional tem colocado os fundadores em contato com arquitetos locais e o objetivo é conseguir entrar na área de construção civil a partir desses especificadores.
*A jornalista viajou a convite do Dubai World Trade Centre.