Fibras de açaí são transformadas em joias pelas mãos de artesã ribeirinha no Amazonas
Empreendedora nata, administradora de finanças e inspiração para outras mulheres da comunidade. É assim que Neide Garrido, produtora de joias da comunidade do Tumbira, a 64 quilômetros de Manaus, se descreve.
Neide mora às margens do Rio Negro e conta que resolveu investir em um negócio em que pudesse ganhar uma renda extra e ao mesmo tempo cuidar da família. Foi quando ela resolveu aproveitar os produtos naturais da região onde mora e fazer joias.
De fibras de açaí a semente de buriti, todos os itens podem ser encontrados na floresta. Neide conta que o negócio é uma junção entre oportunidade e identificação com trabalhos manuais.
“Eu resolvi investir nesse negócio porque além de Tumbira ser um local de bastante dificuldade de trabalho, foi preciso que eu encontrasse uma forma de contribuir financeiramente com a minha família. Como eu também tinha que cuidar de casa, tinha que encontrar algo que me fizesse estar perto daqui. As oportunidades foram surgindo e eu resolvi aproveitar”, disse.
Em comunidades como Tumbira, em que o acesso acontece somente por meio fluvial, o trabalho de Neide movimenta um cadeia de outras pessoas, que engloba desde a pessoa que vai retirar as fibras na floresta, até quem vai traçar o material e produzir as joias.
Garrido conta que atualmente trabalha com quatro produtores de forma direta e aproximadamente 16 pessoas de maneira indireta, incluindo aqueles de comunidades vizinhas.
“O meu trabalho também envolve muitas pessoas, em muitos níveis. Algumas dessas pessoas colhem o material, trazem para mim e eu uso na fabricação das peças. Eu também ensino outras mulheres da comunidade a produzirem peças assim como eu elas me ajudam nas minhas produções. Eu passo o conhecimento para elas, dou todo o material e pago a mão de obra para que elas tragam essas produções”, explica.
Com o crescimento de outras mulheres, Neide conta que vê uma comunidade cada vez mais fortalecida. “Quando eu vejo a alegria de cada uma eu também fico muito feliz, porque elas fazem parte da minha história. Eu acredito que, se cada empreendimento puxar uma ou duas pessoas, a gente diminuiria as necessidades existentes entre as famílias. O sucesso delas também é motivo para eu continuar”, disse.
Com as produções, hoje em dia a renda mensal da artesã ultrapassa um salário mínimo. Mas nem sempre foi assim, Garrido conta que teve que buscar especialização para estabilizar o negócio.
“Como o fluxo de visitantes aqui na comunidade está bem melhor, eu consigo tirar uma boa renda com as vendas dos visitantes que aparecem aqui. A maior prova da vida da gente é a insistência, e foi isso que eu fiz. Como eu sempre participei de projetos voltados ao empreendedorismo eu sempre pensei: se em dois anos eu conseguir bater uma meta cada vez maior, isso quer dizer que o que eu estou fazendo está dando certo”, disse.
A comunidade de Tumbira fica dentro de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) atendida pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS). Na comunidade, a fundação instalou um núcleo que desenvolve atividades relacionadas à educação, empreendedorismo e saúde.
A superintendente de desenvolvimento sustentável da ONG, Valcicléia Solidade, conta que diversos projetos são desenvolvidos na unidade, como o Jirau da Amazônia, uma loja virtual fruto de uma parceria comunidades tradicionais da Amazônia.
Fazem parte do projeto 368 artesãos, de 28 comunidades ribeirinhas do Amazonas e mais de 315 famílias que fazem parte da iniciativa. O e-commerce reverte 100% do lucro obtido para reinvestir nos projetos.
“Para mim o grande diferencial desses negócios são as mulheres. A gente sabe que vive numa região que ainda é machista e quando se chega numa comunidade e vê mulheres empreendedoras aproveitando o que a natureza oferece a elas, faz com que você reflita sobre tudo ter valido a pena, porque muitas mulheres viram uma oportunidade de se empoderar e buscar o conhecimento, além de transformar a dificuldade em uma fortaleza”, evidenciou Solidade.
Por G1