Flores estão “desistindo” de insetos e evoluindo para a autopolinização, revela estudo
O declínio de insetos polinizadores na Europa está levando flores da espécie amores-perfeitos à síndrome de autofecundação que ameaça as interações entre planta e polinizado
Não está fácil nem mesmo para as flores. Segundo estudo publicado na New Phytologist Foundation, as flores estão “desistindo” de seus polinizadores e evoluindo para serem menos atraentes para eles à medida que o número de insetos diminui, sugerem os pesquisadores.
O estudo foi feito a partir das flores amor-perfeito que crescem perto de Paris e que são 10% menores e produzem 20% menos néctar do que as flores que cresciam no mesmo local entre 20 a 30 anos atrás. Foi também constatado que elas estão recebendo menos visitas de insetos.
Uma das conclusões do estudo sugere que as amores-perfeitos estão evoluindo para desistir de seus polinizadores, optando pelo caminho da autopolinização, onde cada planta se reproduz consigo mesma. Segundo o artigo, esta solução funciona a curto prazo, mas pode limitar sua capacidade de adaptação a futuras mudanças ambientais.
A interação convencional entre planta e polinizador é mutuamente benéfica. A flor oferece néctar para os insetos e, em troca, os insetos transportam pólen entre as plantas para auxiliar na sua reprodução.Trata-se de uma interação que se formou ao longo de milhões de anos de coevolução. Contudo, os amores-perfeitos e os polinizadores podem estar trilhando um novo percurso: essas plantas estão produzindo menos néctar, o que implica em menos alimento disponível para os insetos. O estudo sugere que as antigas interações que ligavam os amores-perfeitos aos seus polinizadores estão rapidamente desaparecendo.
O declínio dos insetos foi relatado em outros estudos realizados por toda a Europa. Um estudo sobre reservas naturais alemãs concluiu que, entre 1989 e 2016, o peso total dos insetos capturados em armadilhas caiu 75%. Os efeitos do declínio dos polinizadores não são facilmente reversíveis, porque as plantas já estão mudando, o que torna urgente a necessidade de novas medidas de conservação para travar e reverter o declínio dos polinizadores.
Um dos pontos de alerta para os pesquisadores é o fato de que se as flores não atraem insetos, então a planta está desperdiçando energia, acumulando demasiado néctar. Pesquisas anteriores evidenciaram que a porcentagem de amores-perfeitos que dependem da autopolinização aumentou 25% nos últimos 20 anos.
Embora a maior parte da investigação tenha sido realizada na Europa e na América do Norte, sabe-se que o declínio dos polinizadores é um fenômeno global vinculado também à crise climática.
Uma pesquisa evidenciou que as plantas que não conseguem se autopolinizar seguem o caminho inverso, produzindo mais pólen quando os polinizadores são escassos. Como não podem recorrer a outros métodos, têm de competir com outras plantas para atrair um número cada vez menor de polinizadores.