O estudo apontou que a Amazônia, a bacia do Congo, na África, e as matas do Sudeste Asiático têm um peso grande no resfriamento global
A Amazônia não é o “Pulmão do Mundo”, mas merece o título de “Ar-Condicionado do Planeta”. Um novo estudo da cientista Deborah Lawrence, da Universidade da Virgínia (EUA), diz que, se não se prestam a oxigenar o globo, as matas numa faixa de 2.200 km em torno do Equador contribuem para diminuir a temperatura global em mais de 1°C.
Não parece muito, mas quando se leva em conta que esse resfriamento ocorre para o planeta inteiro no ano todo, ele já representa metade do esforço feito para frear o aquecimento global (o Acordo de Paris busca impedir aumento de 2°C).
Já se sabia da importância das florestas para o clima, mas o estudo de Deborah observou os papéis de matas em diferentes graus de latitude e permitiu medir quanto cada uma pesa na regulação global de temperatura.
A cientista pesquisou simulações de computador sobre o clima da Terra e depois manipulou os dados obtidos, removendo imaginariamente diversas faixas de floresta para observar como a Terra se comportaria.
O estudo apontou que a Amazônia, a bacia do Congo, na África, e as matas do Sudeste Asiático têm um peso desproporcionalmente grande no resfriamento global. Se a faixa de latitude da maior parte desses biomas (10° Norte a 10° Sul) fosse toda desmatada, o planeta aqueceria em 1,05°C.
Cerca de 70% desse efeito, explica a cientista, se devem ao fato de que essas florestas estocam muito carbono. Se as árvores apodrecem ou são queimadas, um volume enorme de CO é liberado e agrava o efeito estufa. Os outros 30% do resfriamento que essas florestas proporcionam, porém, não se devem ao carbono, mas a efeitos biofísicos que a cientista descreve no estudo publicado na revista “Frontiers in Forests and Global Change”.
Vapor e rugosidade
Um dos efeitos refrescantes é o da chamada “evapotranspiração” das plantas. Para que árvores sobrevivam, a água que absorvem pela raiz é levada até as folhas, de onde evapora e sai como transpiração. Esse transporte de umidade consome energia, gerada pelo calor que as plantas retiram do ambiente, provocando resfriamento.
Outro efeito relevante proporcionado pelas florestas é o transporte de ar quente e úmido para grandes altitudes. Quando massas de ar correm mundo afora, tendem a ficar na mesma distância do solo enquanto trafegam por superfícies lisas. Quando encontram “superfície rugosa” como o topo das árvores, porém, o fluxo de ar sofre turbulência que força movimento vertical. E o ar aquecido vai para cima.
“A evapotranspiração funciona como um aparelho gigante de ar-condicionado, e a rugosidade, como um “mixer” que revira o ar e o joga para o alto”, compara Deborah.
Nas florestas perto dos polos, sobretudo no Canadá e na Rússia, o efeito da evapotranspiração é menos intenso, pois o metabolismo das plantas é lento no frio. E não há tanto ar quente para ser dissipado. Nessas regiões, se florestas fossem desmatadas, resfriariam o planeta, em vez de aquecê-lo, pois abririam espaço para a cor branca da neve refletir mais radiação solar.
Deborah argumenta que, apesar disso, não é o caso de defender o desmatamento da zona boreal, porque as florestas de clima frio exercem um papel importante na regulação da umidade regional. Além disso, em algumas décadas não deve mais existir tanta neve na região para refletir o sol.
“Se quisermos investir em reflorestamento e em proteger florestas, este estudo nos mostra que existem lugares prioritários, e o foco precisa ser, definitivamente, entre os trópicos”, aconselha a cientista.
Fonte: Jornal Fatos e Notícias