Grifos em “declínio catastrófico” no Cazaquistão. Em 12 anos perderam-se 95% dos ninhos
O grifo (Gyps fulvus) é uma das espécies de abutres mais sociais e abundantes da Europa. Foto: Мартин Тасев / Wikimedia Commons
No Cazaquistão, adivinham-se tempos muito difíceis para os grifos (Gyps fulvus). Uma das espécies de necrófagos mais abundantes na Europa, essa ave era, até ao século XX, considerada comum no país eurasiático, no limite nordeste da sua distribuição.
Nas montanhas de Karatau, da região sul, encontra-se a única grande colónia reprodutora do país, sendo que não há registos de ninhos noutros pontos do Cazaquistão.
Contudo, uma investigação, divulgada recentemente na revista ‘Raptors Conservation’, revela que, entre 2010 e 2022, o número de ninhos ocupados por grifos nas montanhas Karatau foi reduzido em 95%.
Atualmente, estima-se que apenas existam sete ninhos, dos quais quatro estão a ser usados pelas aves, comparando com os 74 que se registavam em 2010. Por isso, os investigadores consideram que estamos perante um cenário de “declínio catastrófico” da espécie no Cazaquistão.
Embora reconheçam que ainda não se sabe ao certo a causa, os autores sugerem que essa “drástica redução populacional” poderá estar relacionada com o uso de anti-inflamatórios não esteroides em animais de gado, que, depois de morrerem, são consumidos pelos grifos, parte da ‘equipa de limpeza’ da Natureza, contaminando-os.
No artigo, os cientistas explicam que “o declínio do número de grifos em Karatau ocorreu ao mesmo tempo que um aumento metódico do número de animais de gado”. Embora o uso veterinário desses fármacos tenha já sido proibido em vários países asiáticos, “no Cazaquistão continuam a ser usados sem quaisquer restrições, e o volume do seu uso, especialmente em quintas privadas, é desconhecido”, escrevem.
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A suspeita de contaminação por esses anti-inflamatórios é sustentada por outros estudos já feitos que apontam para altos níveis de mortalidade de grifos, em regiões asiáticas, diretamente associada à ingestão da carne de cadáveres de animais de gado que tinham sido tratados com esse fármaco.
Além disso, os investigadores não afastam o envenenamento como um fator de peso no forte declínio das populações de grifos no Cazaquistão, referindo que “as maiores ameaças aos grifos vêm do envenenamento não intencional por iscos envenenados direcionados para mamíferos predadores”, como os lobos.
Através de entrevistas à população que vive perto das montanhas Karatau, perceberam que alguns agricultores e criadores de gado usam venenos para combater predadores, sendo que, por vezes, tal ocorre muito perto dos territórios de nidificação dos grifos.
Como o número de animais de gado tem vindo a crescer progressivamente no Cazaquistão ao longo dos últimos 20 anos, os investigadores consideram que o declínio das populações de grifos não se deve à falta de alimento.
Perante este cenário, e porque, apesar dos declínios, o grifo não está classificado como espécie protegida, apelam às autoridades cazaques para proibirem o uso veterinário de anti-inflamatórios não esteroides e para que haja um maior controlo do uso de venenos para gerir populações de predadores.