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Guarda florestal descobre rara espécie de coruja na Ilha do Príncipe

Guarda florestal descobre rara espécie de coruja na Ilha do Príncipe
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Oficial se esforçou para resolver mistério do pássaro de canto único após avistamentos suspeitos serem feitos desde a década de 1920 por moradores da ilha na África Central

Avistada por habitantes da Ilha do Príncipe, na África Central, que sugeriram sua existência em 1928, uma nova espécie de coruja foi finalmente identificada por pesquisadores após o conhecimento local ser compartilhado por um guarda florestal, que investigou avistamentos suspeitos.

A ave inédita para a ciência, batizada de Otus bikegila, é popularmente chamada de coruja-das-torres do Príncipe. As suspeitas sobre a ocorrência da coruja ganharam maior força em 1998. O animal está agora descrito em artigos científicos publicados em 30 e 31 de outubro nas revistas ZooKeys e Bird Conservation international, respectivamente.

Cientistas foram capazes de confirmar sua presença em 2016, porém, é a primeira vez que a descoberta é relatada com base em morfologia, cor e padrão de plumagem, vocalizações e genética.

Os dados foram recolhidos e tratados por uma equipe internacional de especialistas. A ave pertence ao gênero Otus, um grupo de pequenas corujas encontradas em toda a Eurásia e África. Entre elas, estão as espécies mocho-d’orelhas (Otus scops) e mocho-de-orelhas-africano (Otus senegalensis).

Otus bikegila foi primeiro testemunhada por pessoas locais em 1928 — Foto: Martim Melo

Otus bikegila foi primeiro testemunhada por pessoas locais em 1928 — Foto: Martim Melo

O termo “Bikegila”, que nomeia a coruja, é também o apelido de Ceciliano do Bom Jesus, um ex-coletor de papagaios da Ilha do Príncipe e hoje guarda florestal, que contribuiu muito com a identificação da coruja.

“A descoberta da coruja-das-torres do Príncipe só foi possível graças ao conhecimento local compartilhado por Bikegila e por seus esforços inabaláveis ​​para resolver esse mistério de longa data”, dizem os pesquisadores, segundo comunicado.

Martim Melo e Bikegila com a nova espécie de coruja  — Foto: Bárbara Freitas

Martim Melo e Bikegila com a nova espécie de coruja — Foto: Bárbara Freitas

Conforme explica Martim Melo, um dos líderes da pesquisa, um fator essencial para identificar a nova coruja foi seu canto único, que lembra um curto som de “tuu” repetido a uma velocidade de cerca de uma nota por segundo, lembrando os cantos dos insetos. “Muitas vezes é emitido em duetos, quase tão logo a noite cai”, ele conta.

De acordo com os pesquisadores, a nova espécie é encontrada apenas na floresta nativa remanescente do Príncipe, na parte desabitada do sul da ilha. A ave ocupa uma pequena área de cerca de 15 km², aparentemente devido à sua preferência por altitudes mais baixas.

Coruja Otus bikegila, descoberta na Ilha do Príncipe, no arquipélago de São Tomé e Príncipe — Foto: Philippe Verbelen

Coruja Otus bikegila, descoberta na Ilha do Príncipe, no arquipélago de São Tomé e Príncipe — Foto: Philippe Verbelen

Sua população é de entre 1 mil a 1,5 mil indivíduos, que ocupam um pequeno espaço remanescente. Como as aves estão nesse único local — que será afetado no futuro pela construção de uma pequena hidrelétrica —, os pesquisadores propuseram que a espécie fosse classificada como criticamente ameaçada de extinção. A classificação é a mais alta na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

A entidade ainda deverá avaliar a recomendação para oficializar seu status na natureza. O monitoramento da população de aves será essencial para obter estimativas mais precisas de seu tamanho. Para tal, foi projetado um protocolo de pesquisa que conta com a implantação de unidades de registro automático e inteligência artificial (IA).

Ilustração da coruja Otus bikegila — Foto: Marco Correia

Ilustração da coruja Otus bikegila — Foto: Marco Correia

A coruja-das-torres do Príncipe é a oitava espécie conhecida de ave endêmica da Ilha do Príncipe, de apenas 139 km². Em outros locais, como na Ilha Anjuã, no arquipélago das Comores, a coruja Otus capnodes, por exemplo foi redescoberta em 1992, 106 anos após sua última observação.

“Embora possa parecer estranho que uma espécie de pássaro permaneça desconhecida para a ciência por tanto tempo em uma ilha tão pequena, este não é de forma alguma um caso isolado quando se trata de corujas”, afirmam os pesquisadores.

Otus bikegila foi encontrada em ilha da na África Central — Foto: Martim Melo

Otus bikegila foi encontrada em ilha da na África Central — Foto: Martim Melo

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Trajano Xavier

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