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IBAMA reintroduz Arara-vermelha-grande na Mata Atlântica no sul da Bahia

IBAMA reintroduz Arara-vermelha-grande na Mata Atlântica no sul da Bahia
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Um projeto inédito desenvolvido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em Porto Seguro (BA) reintroduziu 35 exemplares de arara-vermelha-grande (Ara chloropterus) na Mata Atlântica no sul da Bahia, esta semana. A espécie foi extinta na região entre os séculos 19 e 20.

O trabalho inovador é desenvolvido pelo Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto, com apoio de diversas entidades. Como não há mais populações selvagens de araras-vermelhas na Mata Atlântica, as aves do projeto são originárias de cativeiros, apreendidas em ações de combate ao tráfico de animais silvestres realizadas por órgãos ambientais estaduais e municipais de todo o país.

“A união dos esforços possibilitou a soltura do primeiro grupo de araras-vermelhas-grandes, que foi reunido e individualmente identificado, para permitir seu monitoramento na natureza”, afirma Cid José Teixeira, chefe do Cetas/BA. A primeira ação de reintrodução da espécie em seu habitat ocorreu no interior da Estação Ecológica do Pau-Brasil, em Porto Seguro.

Após um período de quarentena e avaliação das condições de saúde, os animais foram instalados em um grande recinto de aclimatação, projetado para permitir o fortalecimento da musculatura de voo e a formação de casais, além de gradualmente expor as aves ao clima da região. Nessa etapa, as aves tiveram seu comportamento analisado e foram submetidas a um programa de enriquecimento ambiental e treinamento contra predadores. Em seguida, foram libertadas por meio da técnica chamada de “soltura branda”. Para isso, foram instalados diversos comedouros e caixas ninho no local de soltura, mantendo a porta do viveiro aberta para que os animais pudessem explorar o ambiente externo e a alimentação suplementar de forma gradual, de acordo com sua vontade. Após, foi iniciado o monitoramento dos animais, o que incluiu sua busca ativa e o registro dos avistamentos na região, do consumo de alimentos disponíveis na natureza e da ocupação das caixas-ninho.

Independência da espécie

Não há consenso sobre o que constitui o sucesso de um projeto de reintrodução de animais silvestres. Alguns pesquisadores indicam que é necessário alcançar a reprodução da primeira geração nascida em liberdade, enquanto outros afirmam que o sucesso é alcançado quando há a sobrevivência de mais de 50% dos indivíduos após o primeiro ano, aliada à sua reprodução na natureza. Para Ligia Ilg, analista ambiental do Ibama e coordenadora do projeto, a variação nas características de cada espécie dificulta a adoção de um critério de sucesso unificado e, por isso, o objetivo do projeto de reintrodução da arara-vermelha é a persistência de uma população selvagem, sem intervenção humana. “Para avaliar se esse resultado será alcançado, os animais serão submetidos a um monitoramento pós-soltura de longo prazo”, diz a analista.

Apoio da sociedade

O projeto de reintrodução da arara-vermelha na Mata Atlântica conta com o apoio de várias entidades ligadas à conservação do meio ambiente, como a Conservix, responsável pela construção dos ninhos artificiais, comedouros e abrigos; a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Estação Veracel, responsável pela condução de programas de educação ambiental com a população no entorno da área de soltura; e a Polícia Militar da Bahia, responsável pela proteção dos animais e da área de soltura pela Companhia Independente de Polícia de Proteção Ambiental (CIPPA-PM/BA). O Laboratório de Etologia Aplicada da Universidade Estadual de Santa Cruz (Labet/Uesc) orientou os trabalhos de análise do comportamento e treinamento dos animais, visando desenvolver um protocolo de soltura adequado para essa espécie.
Como apoiar o projeto de reintrodução da arara-vermelha

As entidades de proteção ambiental de todo o Brasil que desejarem contribuir com o projeto de reintrodução da arara-vermelha podem disponibilizar aves dessa espécie para o Cetas do Ibama em Porto Seguro, para integrarem os novos grupos que estão sendo treinados para a soltura. Para isso, basta entrar em contato pelo e-mail ligia.ilg@ibama.gov.br.

Registros históricos da Arara-vermelha

Originalmente, a arara-vermelha possuía ampla distribuição geográfica, ocorrendo em quase todo o Brasil, exceto em alguns estados do Nordeste e do Sul. Na natureza, elas se alimentam de uma ampla variedade de frutos e sementes. Graças ao seu tamanho, são capazes de dispersar sementes maiores, contribuindo para o aumento do tamanho da vegetação nas regiões onde ocorre, modificando a fisionomia de todo o ambiente.

Embora já tenha sido comum na Mata Atlântica, o desmatamento e captura ilegal levaram à extinção da espécie no litoral brasileiro, e hoje as suas populações estão concentradas principalmente nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil. De fato, a lista oficial das espécies da fauna ameaçadas de extinção do estado da Bahia relaciona a arara-vermelha como uma espécie ameaçada, enquanto o plano municipal de conservação e recuperação da Mata Atlântica de Porto Seguro a relaciona como extinta na região extremo-sul da Bahia.

As araras-vermelhas foram inicialmente registradas no sul da Bahia na carta de Pero Vaz de Caminha, que as descreveu como “papagaios vermelhos, muito grandes e formosos”. A presença deste animal na Mata Atlântica baiana foi posteriormente confirmada por outros viajantes, como o príncipe Maximiliano de Wied-Neuwied, cujo diário de expedição, realizado ainda durante o século 19, descreve a presença dessas aves desde o Rio Mucuri até a cidade de Salvador.

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Trajano Xavier

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