Lista Vermelha de Fauna do Ceará aponta mamíferos terrestres ameaçados
Os mamíferos terrestres da fauna cearense que correm risco de extinção foram os primeiros animais relacionados na recém-lançada Lista Vermelha de Fauna Ameaçada do Estado do Ceará. O documento é uma iniciativa da Secretaria de Meio Ambiente do Estado (Sema), em parceria com a academia e outras instituições da sociedade civil, no âmbito do Programa Cientista – Meio Ambiente. A lista permite dar conhecimento à situação de conservação das 128 espécies de mamíferos listadas.
Segundo Hugo Fernandes, pesquisador da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e coordenador científico da equipe que realizou o trabalho, duas espécies já foram com certeza extintas do Ceará: a anta (Tapirus terresitris) e o tatu-canastra (Priodontes maximus). Provavelmente, quatro estão extintas: a onça-pintada (Panthera onca), o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), o queixada (Tayassu pecari) e as populações nativas de bicho-preguiça (Bradypus variegatus). Além disso, o pesquisador destaca que dos 128 animais listados, 28 espécies estão ameaçadas. “Um número preocupante, que indica um cenário que necessita de ações”.
O documento aponta também que algumas espécies que nunca estiveram ameaçadas em nível nacional estão criticamente ameaçadas no Ceará. A exemplo disso, a lista cita o quati (Nasua nasua) e o caxinguelê (Guerlinguetus brasiliensis), com registros raros e de localização restrita no Estado. Ainda na categoria de “Criticamente em Perigo”, encontram-se o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) e o morcego (Chiroderma visottoi).
A pesquisa aponta 12 espécies na categoria “Em Perigo” (EN) e oito como “Vulnerável (VU). Outro dado preocupante é que há cerca de 17% das espécies na categoria DD (Dados Insuficientes), ou seja, espécies que podem estar ameaçadas, mas que não há informações disponíveis para uma avaliação aferida.
O Ceará é o terceiro Estado do Nordeste a ter sua própria lista de fauna ameaçada (Bahia e Pernambuco já possuem). Para o pesquisador e coordenador do Programa Cientista Chefe, Luiz Ernesto Oliveira, o levantamento desses animais permite também nortear ações específicas de conservação, assim como viabilizar políticas públicas ambientais voltadas para as espécies e seus habitats em situações mais críticas, que necessitam de cuidados mais urgentes.
De acordo com Artur Bruno, titular da Sema, até o fim do ano, as outras etapas da lista serão concluídas. “O próximo passo será o lançamento da lista de mamíferos aquáticos, em seguida as aves e os répteis. Com isso, teremos um norte para políticas específicas de preservação”.
Os critérios de elaboração da lista foram baseados nos já utilizados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que por sua vez se baseia nos critérios das listas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Nesse caso, os animais classificam-se em categorias: extinto da natureza, regionalmente extinto, criticamente em perigo, provavelmente extinto, em perigo, vulnerável, quase ameaçada, menos preocupante e dados insuficientes.
“A lista foi criada a partir de levantamento de dados biológicos, genéticos e dados populacionais como tamanho da população de cada espécie, número de indivíduos maduros, o declínio ou flutuação populacional, informações geográficas, além de todos os dados relacionados à ameaças que cada uma dessas espécies estão associadas”, destaca Hugo Fernandes.
Ciência e Conservação
Os dados levantados pela lista despertaram nos pesquisadores o interesse de buscar soluções para o estado preocupante de conservação de algumas espécies. Uma dessas soluções é cobrir as lacunas amostrais do Estado do Ceará, ou seja, investigar sobre o âmbito da fauna local que ainda não foi explorado pela ciência e que possui um altíssimo potencial de biodiversidade.
“Nós já temos essas regiões mapeadas no Estado. Precisamos garantir agora essa atividade. Importante dizer também que, em paralelo a isso, um dos resultados dessa investigação é entender com mais precisão se as espécies que nós apontamos como provavelmente extintas de fato estão. Todo esse processo só é garantido por meio da Ciência”, ressalta Hugo Fernandes.
O próximo passo é colocar os dados científicos a serviço do Estado para estabelecer diretrizes precisas de conservação da fauna. Isso envolve proteção de habitats que precisam não só ser protegidos, mas também necessitam de ações de manejo diretas para garantir a sua proteção. “Não basta só criar uma leis de proteção. É preciso saber caso a caso quais são as ameaças, monitorá-las e controlá-las já que hoje temos tecnologia suficiente para isso” , completa o o biólogo.
O pesquisador explica que um dos manejos que já está em processo de articulação é a refaunação. Isso ocorre a partir do estudo de populações em cativeiro que possuem genéticas compatíveis com as que vivem na natureza para garantir que esses indivíduos sejam soltos em seus habitats e cumpram seus serviços ecológicos sem impactar a saúde genética e populacional dos indivíduos que já estão na natureza. Esse é um processo que já ocorre ao redor do mundo.
Um projeto de reprodução in vitro e clonagem de espécies ameaçadas também está em avaliação pelos cientistas do Estado. “Vamos começar com o veado-catingueiro. Temos, inclusive, um plantel de cativeiro que procede da natureza, ou seja, uma genética garantida. A ideia é que a gente comece agora com esse projeto de biotécnicas de reprodução in vitro para que no futuro se tenha mais uma uma via de conservação da fauna silvestre por meio da biotecnologia,” finaliza.