As mamangavas são abelhas solitárias de grande porte muito resistentes e importantes para a polinização — Foto: Wilton Felipe/Acervo Pessoal |
Grandes, resistentes e barulhentas. As mamangavas são insetos difíceis de serem predados e, com esses atributos, capazes de se defenderem de inúmeros predadores. Apesar de serem muito temidas com relação ao potencial da ferroada, elas, na verdade, são abelhas solitárias e, de uma forma geral, não são agressivas.
Betina Blochtein é professora pesquisadora no Rio Grande do Sul e trabalha com abelhas há 20 anos. Sua especialidade são as abelhas nativas, incluindo as sociais sem-ferrão e solitárias, que não se dispõe em castas e hierarquias. “Eventuais ferroadas ocorrem somente se elas se sentirem muito ameaçadas”, afirma.
Mamangavas conseguem voar por longas distâncias, já que a capacidade do alcance do voo varia também com o tamanho dos insetos — Foto: Betina Blochtein/Acervo Pessoal |
Entre as abelhas de grande porte, as mamangavas ou mamangabas, como também são conhecidas em algumas regiões, são representadas em mais de 50 espécies no Brasil. Distribuídas por todo o país, são capazes de voar por longas distâncias. Nesses locais, se abrigam em madeiras, onde cavam galerias em galhos e troncos mortos e madeiras secas para fazer seus ninhos.
Cada espaço do abrigo é construído e cuidado com uma finalidade. É nesse ambiente que darão origem à prole e, em câmaras, dividem a estrutura, depositam o pólen e o néctar para servir de alimento para as crias. Apesar de serem abelhas, as mamangavas organizam a morada de maneira distinta das famosas parentes sociais, pois não possuem favos e não produzem mel. Armazenam somente a quantidade necessária de alimento para saciar a fome das larvas em desenvolvimento.
As espécies do gênero Bombus são conhecidas como mamangava-de-chão e vivem em ninhos bem numerosos — Foto: Rafaela Wolf Carvalho/Acervo Pessoal |
Nos ninhos, os insetos percorrem diversas fases de vida: desde os ovos às larvas, seguindo para pequenas pupas imóveis, até se tornarem adultos e saírem das câmaras em busca de alimentos e novas madeiras ocas para darem continuidade ao ciclo.
É nesse sentido que se nota a importância de conservar. Até mesmo árvores mortas têm utilidade no ambiente natural. “A presença de madeiras secas nos ambientes é fundamental para evitar que as abelhas sofram com a perda de um dos dois recursos fundamentais para a sua vida: ter onde morar e ter onde se alimentar”, explica a pesquisadora.
Em flores de pêssego, as mamangavas também realizam um importante trabalho de polinização — Foto: Betina Blochtein/Acervo Pessoal |
Ativas o ano todo, essas abelhas necessitam de uma grande variedade de flores para conseguirem suprir a dieta. E é no campo da alimentação que elas se destacam, quando o assunto é a agricultura. São excelentes polinizadoras do maracujá, cujas flores apresentam as partes feminina e masculina afastadas e o pólen não consegue ser transportado pelo vento. Assim, apenas insetos grandes, quando buscam o néctar nas flores, são capazes de “sujar os pelos” de pólen e e transferi-los para as partes femininas das plantas e, assim, contribuir com o processo reprodutivo.
A característica peculiar da flor torna a mamangava uma das poucas espécies capazes de cumprir a função como polinizadora e uma das raras visitantes compatíveis com o tamanho de certas espécies de flores. Como se não bastasse, elas ainda realizam um tipo diferente de polinização: através da vibração da musculatura do tórax conseguem liberar os grãos de pólen em tomates, berinjelas e pimentões, por exemplo.
A escassez de mamangavas pode, dessa forma, prejudicar produções agrícolas. Blochtein conta que ao Norte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, em áreas de produção de maracujá, a polinização manual tem sido adotada. “As pessoas se deslocam polinizando as flores numa área que as mamangavas silvestres são insuficientes para polinizarem as flores dos pomares. O trabalho dos insetos é muito necessário: cada semente do maracujá só se desenvolve a partir da ação de um grão de pólen”, explica.
A professora pesquisadora Betina Blochtein pontuou algumas curiosidades sobre as mamangavas — Foto: Arte/TG |
Por Gabriela Brumatti