Movimento seasteading: design, sustentabilidade e autossuficiência
Na arquitetura e na construção civil, as questões acerca do aquecimento global vêm impulsionando o desenvolvimento de projetos pensados para se adaptar às mudanças climáticas do planeta. Perante a preocupação com o aumento do nível do mar, surgiu o seasteading, movimento que consolida conceitos e projetos aquáticos, flutuantes e autossuficientes. Saiba mais abaixo!
O movimento seasteading
A distribuição e o uso desmedido de terra ainda é uma questão conduzida de forma desequilibrada em cidades litorâneas e nos grandes centros urbanos. Como consequência, a previsão é de que, até 2050, cerca de 90% das maiores cidades do mundo estarão expostas ao aumento do nível do mar. Além disso, mais de 1 bilhão de pessoas estarão em áreas cuja infraestrutura será insuficiente para suportar a elevação marítima, conforme aponta o Instituto para Economia e Paz.
Frente a essa preocupação, arquitetos de várias partes do mundo se mobilizam em prol do movimento seasteading. A palavra é uma união dos termos em inglês “sea” e “homesteading”, que se refere a um estilo de vida autossuficiente.
Para tanto, o conceito de cidades marinhas, surgido em 1960, agrega agora perspectivas contemporâneas e tecnologias que consolidam uma arquitetura aquática ou adaptada ao aumento do nível do mar. O movimento leva em conta não só urgências ambientais, mas também uma melhor distribuição populacional para balancear a aglomeração urbana.
No movimento seasteading estão previstas cidades e empreendimentos flutuantes, independentes e autossuficientes, habitados por comunidades modernas e com recursos alinhados ao desenvolvimento socioambiental. Assim, o conceito seasteading representa uma potencial revolução no futuro das comunidades, das cidades e do mundo.
Seasteading na prática
A seguir, confira alguns projetos de residências e cidades ligados ao seasteading, frutos de importantes iniciativas ao redor do mundo.
A primeira casa flutuante autossustentável do mundo
Em fase de construção no Panamá, o projeto SeaPod foi lançado pela empresa de inovação oceânica Ocean Builders. Trata-se do primeiro modelo de casa flutuante autossustentável do mundo, construído como uma cápsula estabilizada por tubos de aço que se estendem sobre a água.
A SeaPod promete resistência e estabilidade e propõe uma vida confortável à beira-mar. As residências que compõem o projeto estarão integradas a anéis inteligentes vestíveis com mais de 150 recursos tecnológicos. Estes possibilitam aos moradores configurar a casa conforme suas preferências, agregando o conceito de casas inteligentes.
O design da SeaPod inclui janelas amplas, incrível vista em 360° do oceano e um formato circular inspirado nos motores de avião, que confere resistência contra a ventania marítima. A fonte energética primária das casas flutuantes é a energia solar. Já para as demandas hídricas haverá sistema de coleta de água da chuva e uma máquina de dessalinização para abastecimento reserva. A SeaPod conta com tecnologias domésticas que repõem os nutrientes da água perdidos nesse processo, tornando-a adequada para consumo.
A primeira comunidade flutuante do mundo
Idealizada pelo consagrado arquiteto Bjarke Ingles, a Oceanix City foi projetada como a primeira comunidade flutuante, resiliente e sustentável do mundo, criada para acomodar 10 mil pessoas. O protótipo compreende ilhas hexagonais interligadas, bairros modulares de dois hectares e um espaço de uso híbrido para morar, trabalhar e se reunir.
Na Oceanix City, a estrutura construída foi pensada para ter, no máximo, sete pavimentos. Dessa forma, mantém-se um centro de gravidade baixo, que confere resistência ao vento. Em paralelo, uma estrutura em forma de leque proporciona sombreamento aos ambientes internos e gera conforto aos ocupantes. O projeto de comunidade flutuante prevê utilizar o sol e a força das ondas para gerar energia, e a regeneração do ecossistema local será feita por meio de recifes flutuantes Biorock, algas, ostras e outros moluscos, que purificam a água. No centro das plataformas, o projeto propõe uma agricultura comunitária que estimula sistemas de desperdício zero. O protótipo da Oceanix City também prioriza materiais regionais e o bambu, que é altamente resistente, apresenta crescimento rápido e tem emissão negativa de carbono.
Conjunto habitacional flutuante
Conhecida por sua forte consciência sustentável, a Holanda sedia o projeto Waterbuurt, uma resposta à crescente preocupação com o aumento do nível do mar, especialmente em países de baixa altitude. Desenvolvido pela empresa Marlies Rohmer, o projeto compreende um quarteirão com 100 moradias flutuantes ancoradas sob o lago Eimer.
As residências foram construídas sobre plataformas de concreto submersas e são compostas por uma estrutura de aço leve, além de painéis e paredes de madeira. Erguidas ao redor de um molhe, as residências flutuantes foram amarradas a pilares de aço para assegurar que a única movimentação será vertical, pela mudança da maré. O intuito do projeto Waterbuurt é que ele se torne o maior conjunto habitacional flutuante de toda a Holanda.
Projetos arquitetônicos como esses são exemplos importantes para o crescimento do movimento seasteading. O conceito se mostra essencial para acomodar o crescimento urbano, reduzir os impactos ambientais da construção na terra e trazer novas soluções perante o aumento do nível do mar.
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Fonte: ArchDaily, Casa Vogue, Hype Science