Mudanças climáticas estão apagando artes rupestres mais antigas do mundo
Há pelo menos 45 mil anos, os humanos já utilizavam as paredes das cavernas como telas de pintura. É na ilha de Sulawesi, na Indonésia, que estão as artes rupestres mais antigas do mundo. Com desenhos de grandes mamíferos e criaturas imaginárias híbridas entre pessoas e animais, esses registros do Pleistoceno guardam informações valiosas ainda a serem desvendadas sobre o nosso passado. O problema, porém, é que eles estão desaparecendo.
De acordo com um estudo publicado no periódico Scientific Reports, isso se deve às recentes mudanças climáticas. Apesar da degradação das artes rupestres ser observada desde a década de 1950, o processo parece estar se intensificando nos últimos anos conforme o clima tem se tornado mais agressivo.
Liderada pela especialista em conservação de arte rupestre Jillian Huntley, da Universidade Griffith, na Austrália, a pesquisa conseguiu evidências de que o fenômeno da haloclastia — fragmentação de rochas e minerais em função de cristais salinos — tem prejudicado as pinturas em 11 cavernas de calcário em Maros-Pangkep, no sul de Sulawesi.
Vale a pena compreender como esses cristais salinos foram parar lá: quando a água entra em contato com a caverna, as rochas absorvem os sais e, com a evaporação da solução aquosa, são formados os cristais de sal. Eles incham e encolhem conforme o ambiente aquece e esfria, gerando estresse na pedra.
Em alguns casos, a superfície da rocha se desfaz e vira pó. Em outros, os cristais formam colunas sob o calcário, assim levantando o painel de arte e separando-o do restante. Na prática, isso significa que os sais que crescem nas rochas estão fazendo com que as pinturas desapareçam.
“Nossas análises mostram que a haloclastia não está apenas fragilizando quimicamente as superfícies das cavernas“, constata, em nota, Jillian Huntley. “O crescimento dos cristais salinos atrás das rochas está fazendo com que haja uma descamação.”
E onde as mudanças climáticas entram nessa história? É justamente nos trópicos, onde estão as artes rupestres de Sulawesi, que o aquecimento global pode ser até três vezes mais intenso e, em dias quentes, os sais podem crescer até três vezes mais do que seu tamanho inicial. Um dos painéis, por exemplo, perdeu um espaço equivalente a metade de uma mão em menos de cinco meses.
“A degradação da arte rupestre deve piorar com o aumento da temperatura global”, afirma Huntley. “As temperaturas ficam mais altas, temos mais dias quentes consecutivos, secas duram por mais tempo, e outros eventos extremos, como tempestades e enchentes, se tornam mais graves e frequentes”, complementam outros autores do artigo, em publicação do site The Conversation.
Diante desse cenário, os pesquisadores defendem que mais estudos e trabalhos de conservação sejam feitos em Maros-Pangkep e em outras regiões tropicais que sofrem com a mesma ameaça. As ações mais urgentes são duas: documentar as artes com detalhes por meio da digitalização 3D e descobrir o quanto antes outros locais que podem abrigar esses registros.
“Se os humanos estão causando esse problema, nós podemos tomar medidas para corrigi-lo”, dizem os especialistas. “Minimizar os impactos das mudanças climáticas ajudará a preservar as incríveis artes rupestres deixadas pelos nossos ancestrais”, concluem.
Por Revista Galileu