Coletores de castanha-do-pará, proprietários de terras e operadores de ecoturismo estão unindo forças em um programa inovador para salvar o gavião-real
Era para ser um atalho. Agora, com água lamacenta até a cintura, tropeço em troncos submersos, me escondo debaixo de plantas repletas de formigas e abro caminho em meio a pegajosas teias de aranha — seguindo uma trilha feita pelo biólogo brasileiro Everton Miranda. Uma câmera cara já foi descartada depois que o assistente de campo Edson Oliveira caiu de cara em uma poça e uma picada de vespa no antebraço da fotógrafa Karine Aigner se transformou em um vergão do tamanho e da cor de um volumoso tomate.
Contudo, se voltar passou pela cabeça de alguém, ninguém disse nada. Nossa missão é muito importante. Estamos aqui para localizar um ninho de gavião-real extremamente difícil de achar, que acredita-se estar a cerca de um quilômetro e meio caminho adentro neste trecho virgem da floresta amazônica no Mato Grosso, um estado brasileiro do tamanho da Nigéria.
Com seus corpos monocromáticos elegantes, olhos verdes ferozes e penas exuberantes na cabeça, que mais se parecem um penteado, os gaviões-reais — a maior águia do mundo — são frequentemente classificados entre as aves mais espetaculares do planeta, no topo da lista de muitos observadores. Eles podem pesar até 11 quilos e têm garras maiores que as de um urso-pardo, capazes de exercer centenas de quilos de pressão. Lendas indígenas contam que gaviões-reais levavam crianças e, apesar de não existir nenhuma prova, sabe-se que eles conseguem capturar um bicho-preguiça adulto de uma árvore e derrubar um cervo de nove quilos. “Eles se parecem com um animal descrito em um livro de fantasia”, diz Miranda.
Como predadores no topo da cadeia, os gaviões-reais desempenham um papel ecológico crucial, mantendo as populações das espécies de presas sob controle. Sua presença em uma floresta é indicativa de um ambiente saudável e funcional. Ninguém sabe quantos ainda restam na natureza, mas os cientistas sabem que a espécie está desaparecendo. Essas aves de rapina gigantes já viveram do sul do México ao norte da Argentina, mas desde o século 19, sua ocorrência diminuiu quase pela metade, deixando a Amazônia com 93% do habitat ocupado pela espécie. O desmatamento — a principal ameaça à sobrevivência dos gaviões-reais — não mostra sinais de desaceleração. No ano passado, o mundo assistiu a queimadas de enormes proporções na Amazônia, e atualmente 18 hectares da Amazônia brasileira são destruídos por hora.
Miranda é um ex-lutador de artes marciais mistas que virou biólogo e está à frente dos esforços para salvar os gaviões-reais do país. Ele diz estar certo de que, sem uma ação efetiva de conservação, em breve as aves de rapina desaparecerão de sua fortaleza brasileira — o chamado arco do desmatamento, uma vasta paisagem fragmentada que circunda o sudeste da Amazônia, como um sorriso torto. Ele acredita que a perda desenfreada de habitats pode ser combatida e por meio de seu trabalho, mostra aos brasileiros que as florestas são mais lucrativas em pé do que derrubadas e que os gaviões-reais podem fazer parte dessa solução. Para isso, recentemente ele ajudou a criar um programa inovador de ecoturismo para incentivar os proprietários de terras a protegerem as águias e seus habitats.
“Quando garantimos a conservação do gavião-real, garantimos a conservação da maior parte da biodiversidade em seu ecossistema”, explica Richard Watson, presidente e CEO do Peregrine Fund, uma organização sem fins lucrativos de conservação que lidera um programa de gaviões-reais no Panamá. Mapear os ninhos de gavião-real para identificar onde ainda vivem e depois protegê-los é o primeiro passo para garantir um futuro para essas aves.
Se encontrarmos o ninho que estamos procurando, será possível incluir mais um dado importante para estimar o número de gaviões-reais no Brasil. Miranda faz uma pausa para olhar o Google Maps, que marca o local onde ele acredita que o ninho esteja. Um riacho veloz, fundo demais para ser atravessado a pé, bloqueia nosso caminho. Sem se deixar abater, ele localiza um tronco caído e meio podre, que milagrosamente sustenta o nosso peso enquanto atravessamos. Subindo um barranco lamacento, agora finalmente em terra firme, percorremos o último quilômetro e meio até encontrar o tronco imponente e largo de uma castanheira-do-pará. Os galhos altos na copa desta espécie protegida são o local de nidificação preferido dos gaviões-reais. Aproximamo-nos silenciosamente — os gaviões-reais com filhotes podem ser agressivos — e observamos a densa folhagem acima. Cerca de 30 metros acima, uma fresta revela um aglomerado gigante de galhos. É o ninho!
Miranda não encontrou esse ninho explorando a densa floresta sozinho, ele obteve ajuda de moradores locais que colhem castanhas-do-pará para complementar seus meios de subsistência. Os coletores haviam avistado o ninho semanas antes e compartilharam as coordenadas de GPS com ele.
“Rachel, se você encontrar um osso ou uma pena, eu te faço uma caipirinha”, sussurra Miranda, piscando, referindo-se à famosa bebida brasileira que é ilusoriamente forte e perigosamente deliciosa. Ele rapidamente descobre uma pena branca e delgada, mas minhas habilidades de exploradora não conseguem encontrar mais evidências de que o ninho esteja ocupado. A reprodução de vocalizações gravadas do gavião-real — uma série de gritos agudos — também falha em obter respostas. Miranda acredita que o filhote deva ser um adolescente que já está no processo de deixar o ninho após três anos com os pais.
Os gaviões-reais, se não forem perturbados, usam um único ninho por muitos anos e Miranda diz que este provavelmente receberá um novo filhote no fim de 2020. Se tudo correr bem, ele espera, os turistas virão para cá para se maravilhar com isso — e para ajudar a protegê-lo.
Castanhas por águias
Em vez de estudar gaviões-reais na Amazônia intocada, Miranda escolheu se concentrar no arco do desmatamento devido à urgência das ameaças no local. Até algumas décadas atrás, as comunidades indígenas eram praticamente os únicos habitantes dessa faixa da Amazônia, mas em 1966, o governo brasileiro lançou um grande projeto de colonização na região. As autoridades venderam enormes extensões da floresta, às vezes até 1,2 mil quilômetros quadrados, a compradores ricos e distribuíram pequenas propriedades rurais a brasileiros mais pobres. O resultado foi a maior migração do mundo fora da China patrocinada pelo estado e uma economia da Amazônia brasileira baseada na derrubada de florestas para criação de gado e agricultura em escala industrial.
O desmatamento, em grande parte causado por grilagem de terras, se alastrou até a comunidade internacional forçar o governo a intervir. De 2004 a 2012, o Brasil reduziu sua taxa de desmatamento em 83%, para 4,4 quilômetros quadrados de florestas perdidas por ano. Mas então o corte e a queima começaram a aumentar novamente, quando os barões do gado e da soja começaram a negociar influência com os políticos. Jair Bolsonaro, que se tornou presidente em 2019, reduziu esforços para conter o desmatamento ilegal, resultando em um aumento de 30% na atividade. Segundo algumas estimativas, 95% do desmatamento em expansão de hoje é ilegal. Nas palavras de Miranda, “Enfrentávamos uma situação ruim que agora está ficando muito pior”.
Quando chegou no arco do desmatamento, todos disseram que os gaviões-reais já haviam desaparecido. Ele foi para a ONF-Brasil, uma estação de pesquisa francesa localizada a 250 quilômetros a oeste de Alta Floresta, uma cidade com 50 mil habitantes e 700 mil cabeças de gado. Diversos aspectos denunciavam um local considerado o centro do desmatamento. Vacas pastavam em campos com grama e sem árvores e era possível encontrar placas de ‘vende-se’ penduradas na frente de áreas queimadas da floresta. Os restos esqueléticos de grandes castanheiras-do-pará — cujo corte é ilegal, mas que é frequentemente derrubada em queimadas realizadas para a limpeza das terras — indicavam que ali já havia existido um imponente dossel.
Para começar sua pesquisa, Miranda precisava encontrar ninhos. Com base na experiência que teve com anacondas para sua tese de mestrado, tinha certeza de que conseguiria fazer isso sozinho. No trabalho com as cobras, ele precisou coletar uma grande amostra para demonstrar como o tamanho e o gênero afetavam a dieta das anacondas. Ele estabeleceu a meta de capturar 200 indivíduos em 45 dias, embora seu orientador e outros especialistas tivessem dito que seria impossível. Miranda registrou 220 anacondas em um mês e meio. Motivado pelo sucesso, decidiu encontrar sozinho os ninhos dos gaviões-reais — a pé.
Analisando o passado, ele percebe que “foi muita arrogância da minha parte”. Depois de percorrer 48 quilômetros na selva, Miranda finalmente avistou o primeiro ninho. Ele ficou orgulhoso e pensou que, nesse ritmo, poderia encontrar alguns ninhos por mês. Três meses e 400 quilômetros depois, no entanto, ele não havia conseguido localizar nenhum outro ninho. Ele precisava de ajuda.
Miranda começou a pendurar cartazes solicitando informações sobre os gaviões-reais e oferecendo uma recompensa de R$ 790,00 (US$ 150) para quem encontrasse um ninho. Os coletores de castanha-do-pará percorrem a floresta em busca de castanhas caídas, a base de uma indústria lucrativa e sustentável. “Percebi que havia pessoas atravessando a floresta o tempo todo e sem cobrar por isso”, diz ele. Ele começou a procurar associações de castanha-do-pará no estado de Mato Grosso.
“Lembro-me de ouvir sobre esse cara maluco que procurava gaviões-reais na Amazônia”, conta Veridiana Vieira, presidente da Associação de Coletores de Castanha-do-pará do Assentamento Vale Verde. Antes de conhecer Miranda, Vieira conta que considerava os gaviões-reais apenas como matadores de galinhas, embora nunca tivesse visto um. Ela gostou especialmente da ideia de contribuir com a ciência e, por isso, assinou sua adesão para participar do projeto. Miranda ensinou a ela e a outros coletores de castanhas como reproduzir a vocalização das águias em seus celulares e como identificar no chão da floresta sinais de um ninho. “Agora, todos trocam informações sobre gaviões-reais por WhatsApp”, afirma Vieira.
Até agora, Vieira e seus colegas em todo o estado ajudaram Miranda a localizar mais de 30 ninhos — um conjunto de dados “notável, incrivelmente valioso e incomum”, segundo Watson, que compilou o único outro registro de ninhos semelhante no Panamá.
Campeão improvável
Entre os biólogos, Miranda, 32 anos, é considerado uma espécie de ave peculiar. Ele era fascinado por animais na infância em Brasília — para horror de sua mãe, adorava pegar tarântulas —, mas depois a violência e o sangue fizeram sua cabeça. “Meus pais ficaram muito preocupados”, diz ele. O futebol e outros esportes coletivos não serviam como uma válvula de escape para ele, então Miranda conheceu as artes marciais. Ele começou a levar o assunto a sério quando tinha 12 anos, se formou em educação física na faculdade e começou a lutar profissionalmente em competições de artes marciais mistas. “É a pior coisa que você pode imaginar — é uma briga de cães só que entre humanos”, diz ele.
Quando o dinheiro oferecido pelas lutas se mostrou pouco, Miranda começou a participar de lutas ilegais realizadas no porto do Rio de Janeiro, onde, segundo ele, nunca foi derrotado. Mas depois de alguns anos, ele se viu questionando a moralidade das pessoas que se machucavam por diversão. Saber que alguns apostadores o criticavam foi o gatilho de que ele precisava. Ele parou de lutar, trancou seu curso de educação física e pediu transferência para biologia — especificamente, biologia de predadores.
“Na natureza, encontrei uma violência que não é imoral. Consegui canalizar o amor que sinto pelo sangue e pela violência para fazer algo significativo”, diz Miranda, cujo porte musculoso de 90 quilos e a postura impecável o fazem parecer muito mais imponente do que sua modesta estatura de 1,75 metro. Seus óculos espessos e olhos escuros e pensativos lembram mais um filósofo do que um lutador, e ao falar, ele casualmente faz referências à literatura de Jack London e Herman Melville e aos versos de Dylan Thomas, além dos poetas brasileiros Vinicius de Moraes e Machado de Assis.
Quando iniciou sua pesquisa de doutorado em 2014, Miranda decidiu se concentrar nos gaviões-reais porque via neles uma máquina predatória perfeita. “Eles são basicamente velociraptores voadores”, afirma ele.
Ele lançou uma campanha em prol dos gaviões-reais para educar as pessoas sobre as aves e reduzir o número de aves mortas a tiro. Ele havia visto nas redes sociais fotos de pessoas segurando gaviões-reais mortos, então entrevistou 180 proprietários de terras para descobrir o que estava acontecendo. Com base em suas descobertas, calculou que os proprietários de terras haviam matado mais de 200 águias em três anos. Mais de 80% disseram que nunca tinham visto uma ave tão gigante e queriam observá-la mais de perto. “Em português, temos essa expressão: ‘Precisamos ver com as próprias mãos’”, explicou Miranda. “Muitas pessoas me disseram que queriam ver a ave com as mãos”. É por isso que estavam atirando nelas.
Miranda ficou esperançoso, porém, quando muitos proprietários lhe disseram também que lamentavam ter atirado em um gavião-real, especialmente agora que sabiam mais sobre essas aves ameaçadas.
“Hoje, todos percebem que os gaviões-reais são importantes para a região, então as pessoas não matam mais essa ave”, diz Roberto Stofel, que antes trabalhava derrubando árvores e caçando e agora trabalha com Miranda como escalador profissional. Em dois casos, os trabalhadores até resgataram filhotes de gavião-real que, de outra forma, teriam sido mortos. Esses filhotes foram reabilitados e soltos por Miranda, Stofel e seus colegas.
Para alívio de Miranda, ele confirmou que os gaviões-reais da região não são caçados por suas partes ou capturados para o comércio de animais de estimação. A caça é geralmente ilegal no Brasil e, na maioria das vezes, as pessoas não são tão pobres a ponto de recorrerem à caça ilegal. “Não há ninguém passando fome aqui — ninguém mesmo”, diz Miranda.
Em terras indígenas, no entanto, é permitido caçar gaviões-reais. “O gavião-real é um animal muito importante porque todas as partes são aproveitadas”, diz Roseno Zokoba Rikbaktsa, líder da Terra Indígena Escondido, com cerca de 1,7 mil quilômetros quadrados. “Toda vez que matamos um, fazemos uma festa.” A carcaça da ave é transformada em um caldo doce, as garras transformadas em artesanato e os ossos e penas grandes em flechas. Penas também são utilizadas em cocares cerimoniais.
Roseno Rikbaktsa estima que sua comunidade mate de um a três gaviões-reais por ano. Inacio Rikbaktsa, ancião e curandeiro da aldeia, acrescenta que, se as aves estão ameaçadas de extinção, a culpa é dos brancos, não das comunidades indígenas. “Há gaviões-reais aqui porque cuidamos da floresta”, diz ele. “Vocês destroem a floresta”.
Miranda não acredita que a caça de subsistência represente uma séria ameaça à sobrevivência dos gaviões-reais no Brasil. “Os povos indígenas ainda têm paisagens totalmente florestadas”, afirma ele. “Eles estão cuidando melhor da biodiversidade do que o próprio Brasil”.
A conservação dá retorno
Impedir que as águias sejam mortas pode ajudar, mas o verdadeiro desafio, diz Miranda, é descobrir formas de ganhar dinheiro com a floresta que não envolva desmatar enormes extensões para a criação de gado e o agronegócio. “Estamos queimando a floresta com a maior biodiversidade do mundo para criar algumas vacas magras”, diz ele. “Para pararmos o desmatamento, precisamos encontrar uma maneira inteligente de integrar a Amazônia à economia global”.
A boa notícia, continua ele, é que os brasileiros podem ganhar dinheiro sem derrubar a floresta. A coleta de castanha-do-pará e o cultivo de peixes, por exemplo, são mais rentáveis e sustentáveis do que a pecuária, segundo diversos estudos científicos. Miranda e outros acreditam, e alguns estudos demonstram, que o turismo oferece outra alternativa viável.
Em 2017, ele entrou em contato com Charles Munn, cofundador e proprietário da SouthWild, uma empresa de ecoturismo com sede em Cuiabá, que aceitou a oferta de colaboração. “Muitos cientistas estão apenas interessados em pesquisa básica, não em usar suas descobertas para encontrar soluções sustentáveis”, diz Munn. “Everton é diferente, pois ele também se preocupa em criar empregos sustentáveis e proteger a natureza”.
Munn, que organiza safáris fotográficos sofisticados na América do Sul, já atuou anteriormente com o objetivo de tornar a conservação lucrativa. Ele foi o primeiro a trazer turistas para ver as agora famosas onças-pintadas, que se habituaram à presença de pessoas no Pantanal, a maior região alagada tropical do mundo, depois que pescadores esportivos brasileiros começaram a alimentá-las. No ano passado, o turismo para observação das onças-pintadas gerou R$ 36 milhões (US$ 7 milhões) em lucros. Os fazendeiros que se beneficiam do turismo não atiram mais nas onças-pintadas — mesmo que, ocasionalmente, os felinos matem seu gado. Para expandir esses benefícios, a organização de conservação Panthera está estudando a possibilidade de implementar uma taxa de turismo que pagaria pelas perdas de gado causadas pelas onças-pintadas em toda a região do Pantanal, não apenas nas áreas frequentadas por turistas.
“É como o capitalismo de risco, só que no âmbito da vida selvagem”, diz Munn. “Tentamos descobrir o que pode funcionar para de fato aumentar a população desses animais e proteger seu habitat, mantendo-o resguardado dos humanos”.
Em março de 2020, Miranda havia recrutado para participar do programa 29 proprietários de terras com ninhos de gavião-real em suas propriedades. Quando nasce um filhote no ninho, ele contrata a população local para construir torres de observação de 18 metros de altura para utilização pelos turistas. Os proprietários recebem R$ 105 (US$ 20) por dia por cada visitante, e outros membros da comunidade ganham dinheiro trabalhando como carregadores, motoristas e cozinheiros. Munn promete devolver o dinheiro se seus clientes não virem um gavião-real de perto.
Miranda acredita que o Mato Grosso poderia atrair mais ou menos 700 pessoas todos os anos para observar ninhos de gaviões-reais. Isso seria lucrativo para a empresa de Munn, mas também um ganho inesperado para as águias, dizem Miranda, Munn e outros. “Descobrimos a biologia, a sociologia, a economia e a logística”, afirma Munn. “Agora só precisamos divulgar a notícia”.
Mesmo nesta fase inicial, o turismo está surtindo efeito, diz Miranda, mostrando aos proprietários de terras que “a floresta não é um lugar economicamente estéril”. Cenomar Picouto, que já recebeu turistas em sua fazenda de 24 hectares, diz que não participa apenas pelo lucro. “Por mais importante que seja o dinheiro extra, também gosto de me envolver diretamente na prevenção da extinção de espécies. Estudei muito pouco na minha vida, mas consigo compreender que as pessoas podem ajudar a preservar as águias e a floresta se trabalharem em conjunto”.
De acordo com Veridiana Vieira, da associação de castanha-do-pará, os gaviões-reais estão possibilitando essa maneira de pensar. “Meu sonho é conversar com nosso presidente e mostrar a ele que a floresta pode produzir muito dinheiro”, diz ela, incluindo o turismo sustentável voltado à vida selvagem e atividades locais, como a coleta de castanha-do-pará. “Gerar lucro e conservar a floresta são duas coisas que podem acontecer ao mesmo tempo”.
Miranda, por sua vez, está comprometido em garantir um futuro para os gaviões-reais e a biodiversidade que eles representam. Ele planeja fundar um instituto para estudo de predadores no fim deste ano em Alta Floresta, dedicado à pesquisa básica e a ampliar essa pesquisa criando soluções para o mundo real. “A conservação na Amazônia só funcionará se as pessoas que moram aqui também tiverem direito a ela e puderem tomar decisões”, afirma Miranda. “Acho que, em algum momento, perceberemos que a Amazônia é o maior patrimônio do Brasil”.
Fonte: National Geographic Brasil