Papagaio: tráfico ameaça espécies brasileiras considerada quase em extinção
O papagaio é uma ave da família psittacidae, em conjunto com araras, periquitos, tuins, maracanãs, apuins, cacatuas, jandaias e caturritas. Essa família tem como características o bico curvo, estreito e afiado, que facilita a alimentação da ave. A sua alimentação é baseada em frutos e sementes. Entretanto, é comum encontrar papagaios se alimentando de terra, que contém nutrientes essenciais para a sua saúde.
As suas patas são formadas por quatro garras que contribuem para manter o animal firme nos galhos das árvores. Ele tem um comprimento que varia de 30 a 40 centímetros e costuma viver em bandos. Além disso, é a única ave que reproduz a voz humana.
Reprodução
A relação entre os papagaios é monogâmica. Isso significa que, ao atingirem a fase adulta, encontram seu par e permanecem com ele até o fim da vida. A reprodução desses animais ocorre em uma época específica do ano, entre os meses de agosto a fevereiro.
Eles se alojam em um local escolhido pelo casal, geralmente buracos das árvores. Nele, será construído o ninho para receber os ovos e, posteriormente, os filhotes. O tempo de desenvolvimento do papagaio dentro do ovo varia entre 25 e 30 dias. Ele nasce sem penas e com os olhos fechados.
Por isso, os papagaios recém-nascidos são animais frágeis, que dependem dos cuidados dos pais para sobreviver. Após esse período, que dura cerca de 2 meses, os filhotes estão prontos para buscar alimentos sozinhos.
Tempo de vida
De acordo com um estudo, o papagaio é um animal que vive por longos períodos. Essa expectativa de vida está relacionada com o tamanho do cérebro do animal. Quanto maior a capacidade cognitiva da espécie, melhor o seu desempenho em fugir de ameaças.
Espécies brasileiras
Ele está presente em várias partes do mundo, sobretudo no hemisfério Sul, e é encontrado com abundância no Brasil. Em 1500, os colonizadores europeus apelidaram o país de Terra dos Papagaios, devido à presença desses psitacídeos.
Existem 13 espécies de papagaios brasileiros distribuídos ao longo dos biomas. Algumas espécies habitam em mais de um bioma, como é o caso do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva), o mais comum dos papagaios do gênero Amazona. O gênero Amazona abrange praticamente todos os papagaios presentes no Brasil.
Na Amazônia, bioma com maior número de espécies do Brasil, existem cerca de sete espécies de papagaio. Em segundo lugar está a Mata Atlântica, que abriga seis espécies. No Pantanal e no Cerrado habitam três espécies, na Caatinga, duas. E, por fim, no Pampa, vive apenas uma espécie de papagaio.
Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios
O Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Papagaios (PAN Papagaios) foi inaugurado em 2010. Ele é constituído por um conjunto de ações que atuam na conservação de espécies ameaçadas.
Além das espécies ameaçadas, estão incluídas espécies que são foco do tráfico de animais, o papagaio-verdadeiro e o papagaio-moleiro. Atualmente são seis espécies consideradas ameaçadas de extinção no Brasil. Confira os papagaios que fazem parte do PAN Papagaios:
Papagaio-verdadeiro
O papagaio mais comum é o papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). Ele tem um comprimento de 36 centímetros e vive aproximadamente 60 anos, podendo alcançar os 80 anos. Durante a sua vida, o papagaio tem entre 3 e 4 anos de tempo reprodutivo, gerando de um a seis ovos em cada ciclo.
No Brasil, ele está presente no centro-oeste, sul, sudeste, e nordeste. Os biomas brasileiros que contam com a sua presença são a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal. Entretanto, também é encontrado em países vizinhos, como o Paraguai, a Argentina e a Bolívia.
Esse papagaio é o mais capturado na natureza, devido a sua facilidade em reproduzir a voz humana. A captura é focada em seus filhotes e ovos, para serem destinados ao tráfico ilegal. De acordo com o ICMBio, essa espécie é considerada quase ameaçada à extinção.
Papagaio-moleiro
O papagaio-moleiro mede 40 centímetros de comprimento, vive mais de 40 anos e atinge a maturidade sexual entre os 3 e 4 anos. Ele é capaz de gerar de dois a quatro ovos por reprodução. Esse papagaio está presente na Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
O bioma predominante da espécie é a Amazônia, mas também é encontrado na Mata Atlântica, onde ocorre a maior parte da sua captura para o tráfico de animais. O papagaio-moleiro é uma das espécies mais ameaçadas pelo tráfico. A condição da espécie é considerada pouco preocupante, entretanto o grau de vulnerabilidade varia de acordo com o estado.
Na Bahia e no Rio de Janeiro, o papagaio é considerado vulnerável. Em São Paulo, é considerado ameaçado de extinção, enquanto no Espírito Santo e em Minas Gerais é considerado criticamente ameaçado e criticamente em perigo, respectivamente.
Papagaio-de-cara-roxa
O papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis) mede cerca de 36 centímetros, com um tempo de vida superior a 40 anos e maturidade sexual atingida entre 3 e 4anos. Cada processo reprodutivo gera de dois a quatro ovos.
Essa é uma espécie típica do litoral, no bioma Mata Atlântica. Ele é encontrado do norte de Santa Catarina até o sul de São Paulo. A principal árvore escolhida para construir seus ninhos é o Guanandi, uma árvore alta presente na região. Além de abrigo para os seus filhotes, essa árvore fornece frutos para a sua alimentação. Essa espécie é considerada quase ameaçada de extinção pelo ICMBio.
Papagaio-de-peito-roxo
O papagaio-de-peito-roxo mede cerca de 35 centímetros de comprimento e vive por mais de 40 anos. Durante a sua vida, ele atinge a maturidade sexual por volta dos seus 4 anos, produzindo de dois a quatro ovos por reprodução. A espécie é classificada como vulnerável e é mais encontrada em Unidades de Conservação.
Esse papagaio (Amazona cinacea) era abundante no território brasileiro, além do Paraguai e da Argentina. Ele estava presente nos estados da Bahia, Espírito Santo e de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul. Atualmente, corre risco de extinção nos três países. No Brasil, a ave é encontrada em maior quantidade no estado de Minas Gerais.
Papagaio-chauá
O papagaio-chauá tem um tempo de vida de mais de 40 anos e mede cerca de 35 centímetros. A idade em que a espécie passa a se reproduzir varia entre 3 e 4 anos, gerando de 2 a 5 ovos por reprodução. Ele habita em florestas úmidas presentes no litoral do Brasil, em uma altura que varia do nível do mar até 800 metros.
Ele está presente do estado de Alagoas até o Rio de Janeiro, mas também é encontrado em Minas Gerais. Esse papagaio é endêmico da Mata Atlântica e é classificado como vulnerável. Com o avanço do desmatamento ambiental, provocado pelo setor agropecuário e a urbanização, a sua existência é comprometida.
Papagaio-charão
O papagaio-charão vive por mais de 40 anos, tem 32 centímetros de comprimento e atinge a maturidade sexual entre 3 e 4 anos. Cada ciclo reprodutivo da espécie é capaz de gerar entre 2 e 4 ovos.
Ele é encontrado em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. O papagaio se alimenta de pinhões de pinheiro-bravo e araucária. Para encontrar alimento, costuma percorrer um longo percurso em grupos. Esse papagaio é uma ave migratória, que percorre diferentes municípios durante os meses de abril e julho.
O papagaio-charão não é muito encontrado em Unidades de Conservação, a sua presença se dá, principalmente, em propriedades privadas com a presença de araucárias. De acordo com o ICMBio, essa espécie é considerada vulnerável.
Ameaças
Tráfico de animais
Devido a capacidade do papagaio em imitar as pessoas, essa ave é alvo do tráfico de animais. Os principais alvos são os ovos e os filhotes, que são capturados e vendidos. Essa captura contribui para a diminuição das populações das espécies, o que pode comprometer a existência delas no território.
A principal espécie capturada é o papagaio-verdadeiro. Durante a captura, os buracos presentes nas árvores e utilizados para a criação do ninho são muitas vezes danificados pelos traficantes. Esse processo prejudica a ocupação de novos papagaios no local, reduzindo a quantidade de locais disponíveis.
Além disso, muitas aves morrem durante a captura e o transporte. Essa combinação de fatores resulta no envelhecimento das populações de papagaios, o que pode levar à redução da capacidade de reprodução da espécie e, consequentemente, à sua extinção. Outra consequência desse ato é a proliferação de doenças das aves para humanos, as chamadas zoonoses.
A consequência para quem pratica esse ato é a aplicação de multas e penalidades. De acordo com o ICMBio, essas medidas são insuficientes para interromper esse comércio, já que os papagaios são capturados anualmente em seus habitats.
Desmatamento
Além do tráfico de animais, o processo de desmatamento da vegetação nativa, em conjunto com o crescimento da urbanização, contribui para a redução de papagaios. Isso porque seus habitats são destruídos, dificultando a disponibilidade de alimentos e ambientes para a sua reprodução.