Parques nacionais e urbanos ainda são inacessíveis para muitos brasileiros
A maioria dos brasileiros sabe apontar um ou mais parques naturais ou urbanos do país, mas tem muita gente que nunca visitou nenhum. É o que aponta a quarta edição da pesquisa “Parques do Brasil – Percepções da População”, divulgada pelo Instituto Semeia, com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIo) e do Instituto Ekos Brasil.
Pelos dados do levantamento, que ouviu 1.539 pessoas de dez regiões metropolitanas do país entre julho e agosto de 2023, 96% afirmaram que conhecem algum parque natural, mas 29% nunca visitaram um. Em relação aos parques urbanos, apesar de todas as localidades alcançadas pelo estudo os possuírem, 80% dos entrevistados disseram que conhecem, mas 18% nunca visitaram.
“Este cenário expressa o desafio de impulsionar a visitação nos parques brasileiros junto à opinião pública, enfrentado por gestores e especialistas dessas áreas”, observa Mariana Haddad, coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia, em comunicado.
Os custos com locomoção, como passagem ou transporte pessoal (42%), e hospedagem (31%), bem como a distância (20%) são as principais barreiras que impedem uma maior visitação aos parques naturais, apontaram os entrevistados. No caso dos urbanos, foram apontadas distância (30%) e preferência por ficar em casa (21%) ou fazer outro tipo de passeio (14%).
Haddad avalia que tanto as motivações como as barreiras “apontam oportunidades para que o setor turístico, as organizações ambientais e o Poder Público atuem, de maneira conjunta e complementar, para divulgar nossos parques”.
Fazendo um recorte do grupo que nunca visitou os parques naturais, quase metade (48%) é da classe C e o segundo maior grupo (39%) compreende as classes A e B. Entre os que não conhecem e nunca visitaram um parque urbano, 51% e 56%, respectivamente, são da classe C e 35% e 25% das classes A e B.
Referente às visitas realizadas a parques urbanos no último ano, o levantamento identificou um aumento (44%) em comparação ao ano anterior (27%), possivelmente devido ao momento pós-pandemia. “Estes espaços têm grande potencial de lazer e recreação em meio à natureza, pois estão em áreas de mais fácil acesso quando comparados aos parques naturais, e são gratuitos”, afirma Mariana. “Vale destacar, ainda, que a visitação amplia a conscientização e o reconhecimento da importância dos parques.”
Acerca das visitas aos parques urbanos, 49% dos entrevistados disseram que frequentam uma vez a cada seis meses ou menos, 21% entre uma vez a cada 15 dias e uma vez ao mês, 12% pelo menos uma vez por semana.
A coordenadora de Conhecimento do Instituto Semeia enfatiza que é preciso pensar em estratégias para promovê-los. “Muitos municípios brasileiros têm diversos deles como referências urbanas e de turismo com potencial para serem mais bem aproveitados.”
Vivências e sentimentos
As sensações referentes à última experiência em parques, tanto naturais quanto urbanos, foram, na maioria, de liberdade, paz e natureza. Para avaliar esses sentimentos, a pesquisa considerou a média das respostas – e, nesse quesito, vale ressaltar que as experiências podem variar consideravelmente de um local para outro.
Quanto aos parques naturais, as avaliações dos 12 aspectos sobre zeladoria, serviços aos usuários e educação ambiental variaram entre 63% e 73% nas atribuições de ótimo e bom. Além disso, 66% atribuíram notas 9 ou 10 e recomendariam a experiência a familiares e amigos. Sobre parques urbanos, os mesmos temas foram avaliados como bom e ótimo pela maioria, com notas 9 e 10, e 68% das pessoas entrevistadas recomendariam a visitação.
Meio ambiente
Tendo como ponto de partida as percepções da população acerca do acesso a parques como parte da agenda de políticas públicas, a pesquisa também busca entender qual posição os temas ambientais ocupam no ranking das principais preocupações dos brasileiros.
E eles não aparecem no topo. Nas primeiras posições estão crimes e violência contra pessoas (53%), qualidade de educação (47%) e qualidade no atendimento de saúde (47%). São aspectos de menor preocupação a proteção ambiental (21%), poluição e mudanças climáticas (18%) e acesso à água limpa e ao saneamento (16%).
Quando perguntadas sobre temas ambientais de maior interesse, 81% das pessoas entrevistadas responderam “poluição das águas”, 76% “estilo de vida saudável”, 73% “conservação da fauna e da flora”, 73% desmatamento e 72% sustentabilidade para as próximas gerações.
Políticas públicas
Outros assuntos tratados no relatório foram a percepção da população sobre o governo, sobre aspectos que envolvem o aproveitamento econômico dos parques e sobre a gestão destes locais.
As respostas mostraram que 40% dos participantes concordam que o governo não dispõe de dinheiro suficiente para oferecer adequadamente os serviços que a população precisa, enquanto 75% acham o governo ineficiente na gestão dos seus recursos e 71% que as parcerias do governo com instituições privadas melhoram o atendimento à população.
Quando se trata dos parques brasileiros, 79% acordam que o turismo traz benefícios econômicos e sociais para os parques e seus entornos e 52% acreditam que o governo tem questões mais prioritárias do que parques para direcionar o dinheiro público. Complementarmente, 58% concordam que o setor público é o mais indicado e eficaz para gerir a conservação da natureza e a educação ambiental nos parques, enquanto 60% apontam que é o setor privado o mais indicado e eficaz para gerir serviços e atrações turísticas nesses espaços.
A pesquisa também avaliou a favorabilidade da população ao modelo de concessões/parcerias quando aplicado especificamente a parques, tanto naturais quanto urbanos. No caso dos naturais, 49% se mostraram a favor, 22% são contra, 18% são indiferentes à adoção ou não desse modelo e 11% não opinaram. Para os parques urbanos, observou-se uma proporção maior de favorabilidade à adoção de concessões/parcerias: com 54% de pessoas se declarando a favor, 15% contra, 21% indiferentes e 10% que não se manifestaram.
Metade dos participantes da pesquisa têm expectativa de que a gestão dos parques, tanto naturais quanto urbanos, iria melhorar ao passar por um processo de concessão/parceria. Para Haddad, este cenário lança luz sobre a importância de engajar os diferentes stakeholders ao longo do processo de desenvolvimento desses projetos.
“Esperamos que, com esta captação da percepção da sociedade sobre os parques do Brasil, os diversos agentes envolvidos com a pauta a considerem no planejamento, na implementação e no monitoramento das políticas públicas associadas ao cumprimento da missão dos parques: conservar a biodiversidade brasileira, além de incentivar o contato das pessoas com a natureza, por meio do turismo e da recreação”, conclui.